Moradores do Bairro Nossa Senhora Aparecida afirmam que já estão há pelo menos três dias sem água. Relembre o que foi notícia sobre a crise hídrica nos últimos anos em Caratinga
CARATINGA- “Na minha casa já tem três dias sem água. Eles não avisaram com antecedência. Está todo mundo nervoso, agoniado. A gente fica esperando até de madrugada para ver se chega a água e nada. Essa noite mesmo fiquei até 4h vigiando para ver se chegava”. Este é o relato de Simone Alves, moradora da Rua Professor Colombo Etiene Arreguy, Bairro Nossa Senhora Aparecida.
Assim como esta dona de casa, muitas outras pessoas têm virado a noite com a esperança de ver cair pelo menos uma gota d’água de sua torneira. Este é o retrato da crise hídrica, que provocou o rodízio de abastecimento de água em Caratinga esta semana. Mas, paralelamente às questões climáticas, com a seca e falta de chuvas, a população chama atenção para a falta de providências. Muito se falou em busca de alternativas e até mesmo em um projeto de transposição do Rio Preto. Nada ainda saiu do papel.
O DIÁRIO DE CARATINGA acompanhou as dificuldades enfrentadas pela comunidade e o cenário foi de indignação. Simone, que mora com mais três pessoas, ressalta que a falta d’água tem impedido a rotina da família. “Tem que tomar uma providência, não está dando, não é a primeira vez. E estamos todos precisando de água. Como é que limpa uma casa? O banheiro está todo sujo. Como toma um banho? Tem três dias que eu não tomo banho. Meus meninos não estão indo nem para a escola. Não tem como. Não dá como ir sujo para a escola. E nem tem como pegar água com vizinho, estão tirando o resto de água que tem na caixa para poder utilizar. Aqui nem o resto tenho”.
Simone clama por uma solução para colocar fim no recorrente racionamento de água na cidade. “Porque na hora de vir para cortar água eles vêm, de vir trazer o talão. E agora a gente vai ficar sem água? Pagando água, os talões em dia e a gente sem água? Não tem como. Tenho criança pequena em casa com problema mental, tem que tomar remédio e não tem água nem para beber remédio. Está difícil, sinceramente, a Copasa dessa vez se superou. Não dá, está muito ruim mesmo. Peço que tomem providências, ajudem a gente porque estamos esquecidos, por tudo. Precisamos de água e queremos a água”.
Outra moradora, que preferiu não se identificar, disse que há dois dias não cai água em sua residência. “Ninguém ficou sabendo, não avisaram. Não deu tempo nem de encher litro nem nada. Depois que soltaram uma tabela, que não deu para entender nada, muita confusa. Estamos pegando água com vizinho que tem caixa maior”.
Ela teme que o pesadelo do ano passado se repita, quando ficou chegou a ficar cinco dias sem água em uma semana. “A gente espera solução. Ligamos pra lá e dizem que tem muita gente na linha e não tem como atender. É triste”.
RELEMBRE
Veja o que foi noticiado pelo DIÁRIO DE CARATINGA desde 2015 até hoje, sobre a situação de abastecimento em Caratinga e possíveis soluções propostas:
OUTUBRO DE 2015
Começa rodízio
No dia 2 de outubro daquele ano, a Copasa confirmou redução drástica do volume de água do córrego do Lage, responsável pelo abastecimento do município, diminuindo a vazão normal captada de 180 para 137 litros de água por segundo, uma queda de 23%. Foi anunciado o rodízio de abastecimento.
Período de interrupção de 36 horas
No dia 15 de outubro, a redução drástica de 43,3% do volume de água do Córrego do Lage. Foi preciso alterar as regiões de rodízio, visando garantir o abastecimento mínimo em toda a cidade, inclusive nas partes mais altas.
Piora situação do Córrego do Lage
Na edição do dia 16 de outubro, o DIÁRIO trouxe a notícia de que o rodízio havia sido alterado para um período de interrupção de 36 horas e moradores das partes mais altas sofriam com a falta d’água. Foi registrada uma redução drástica de 43,3% do volume de água do Córrego do Lage.
Situação de Emergência Administrativa em Caratinga em função de crise hídrica
No dia 23 de outubro daquele ano, Marco Antônio Junqueira, à época prefeito, assinou o Decreto Nº 210 em função de crise hídrica. No mesmo dia o rodízio foi suspenso temporariamente, devido à chuva considerável do dia 22.
NOVEMBRO DE 2015
Novo rodízio
No dia 7, a Copasa deu início novamente ao rodízio: 48 horas de abastecimento por semana nos bairros

Coletiva concedia em 5 de agosto quando foram anunciadas obras de captação de água no Rio Preto (Foto: Arquivo DIÁRIO)
AGOSTO DE 2016
Copasa confirma que obras de transposição do Rio Preto devem ser concluídas até 2017
Em coletiva de imprensa na tarde do dia 5 de agosto de 2016, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) anunciou que as obras de captação de água no Rio Preto seriam iniciadas ainda naquele ano. De acordo com a empresa, o projeto estava em “fase de contratação, através de processo de licitação”. Inicialmente, no cronograma, a conclusão das obras estava prevista para outubro de 2017. O valor total orçado em R$ 5,153 milhões, recurso que já teria sido assegurado pela Copasa.
SETEMBRO DE 2016

Na edição de 11 de setembro de 2016, Dr. Welington respondeu pergunta sobre o abastecimento de água em Caratinga
Dr. Welington apresenta proposta
Na edição do dia 11 de setembro de 2016, o DIÁRIO publicou a matéria “Eleitor, conheça as propostas de quem irá governar Caratinga nos próximos 4 anos’, enquanto candidato, o prefeito Dr. Welington respondeu à seguinte pergunta: Mais precisamente, nos últimos dois anos a cidade de Caratinga passou por momentos difíceis em relação ao abastecimento de água. Caso eleito, como o senhor pretende solucionar esse problema?
Veja o que ele respondeu: “Vamos cobrar uma ação mais eficaz da Copasa no município. O problema da água é grave e não apenas Caratinga, mas a região precisa de uma solução. Falam do reservatório, falam de trazer água de outra fonte. Ambos são projetos caros, possíveis, mas são as melhores soluções? Vamos trabalhar por meio da nossa articulação política, deputados, Governo do Estado e Governo Federal para que novos recursos sejam destinados para a cidade. Para que estes recursos? Para melhorar a captação de água atual, e ampliá-la, buscando novas fontes de captação de água, fazendo um trabalho de limpeza de nascentes, e etc. Tudo pensando não só no momento atual, mas no futuro de Caratinga. Em nossa gestão vamos estabelecer um convênio de cooperação, Prefeitura e Copasa, para melhorar as condições da atual fonte da captação. Mas o trabalho mais importante para resolver a questão a longo prazo é a recuperação das nascentes e reflorestamento do leito do rio, isto sem sombra de dúvidas. E para isso, além da Copasa, vamos estabelecer parcerias com o IEF, IBAMA e empresas privadas. Temos um bom exemplo neste setor, o Instituto Terra de Aimorés, que tem tido sucesso na recuperação de nascentes, e vamos utilizar este know-how em nossa cidade, o que vai nos ajudar a mudar a nossa história para termos um futuro mais tranquilo”.
Começa rodízio
Uma semana após declarar que vazão era suficiente, Copasa afirmou no dia 1° de setembro, que houve redução drástica na captação e anunciou outro rodízio.
Rodízio suspenso e pedido de reservatório
No dia 21, a Copasa anunciou que o rodízio estava suspenso. Mas, caratinguenses foram às ruas pedindo reservatório.
NOVEMBRO DE 2016
MP aciona Copasa na Justiça para sanar recorrente racionamento de água em Caratinga
O Ministério Público de Minas Gerais, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Caratinga processou judicialmente a Copasa, para que tome medidas que visando acabar com o reiterado racionamento de água que a cidade tem enfrentando semestralmente. Dentre os pedidos, o MP queria que em caso de rodízio entre as diferentes regiões da cidade, se atendesse a todas as demandas de forma proporcional; informar o prazo de início e de possível término; complementar a distribuição com caminhões-pipa e permitir que a água chegue aos imóveis mediante o sistema regular de operação durante o período previsto para a localidade; não perdurar com o desabastecimento de cada localidade por mais de 24 horas; realizar o desconto gradual na tarifa na próxima fatura, correspondente ao percentual de horas nas quais, durante o mês, cada localidade ficou sem usufruir dos serviços, não cobrando pelos dias em que cada residência ficou programada para não receber abastecimento; suprir as necessidades de entidades públicas, escolas e serviços sociais através de caminhões dotados de reservatórios, visando a não interrupção de tais serviços e a regularidade e continuidade do abastecimento em tais imóveis; não suspender o fornecimento de abastecimento no período de racionamento hídrico em virtude de cobranças financeiras por inadimplemento.
JUNHO DE 2017
Justiça determina que Copasa apresente soluções para escassez de água em Caratinga
Por determinação judicial, a Copasa deveria apresentar, em 45 dias, diagnóstico do sistema de captação e de fornecimento de água de Caratinga, detalhando a capacidade de reserva e de abastecimento dos mananciais e apontando soluções a curto, médio e longo prazos para o problema de escassez de água que vem ocorrendo no município desde 2015. O pedido à Justiça foi feito pelo Ministério Público, que destacou que a empresa “faltou com o seu dever de planejamento, previsto na Lei n° 11.445/2007”, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, o que culminou com a eclosão da crise hídrica no município em 2015, 2016 e 2017”. A concessionária ainda teria sido “omissa” ao não adotar medidas preventivas para manter o abastecimento e o fornecimento de água em Caratinga.
SETEMBRO DE 2017
Licitação concluída
Na edição do dia 15 de setembro, o DIÁRIO buscou uma reposta da Copasa sobre as obras de transposição. A empresa informou que a licitação das obras de captação já havia sido concluída e que aguardava apenas a liberação do licenciamento ambiental “para dar início às obras”.
Rodízio retomado
O que a população caratinguense já suspeitava que estava próximo de acontecer, foi confirmado na tarde de terça-feira (24). A Copasa confirmou a necessidade de racionamento de água.