O DESEJO DE SER COMO OS DEMAIS
Psicóloga Rejane Nascimento fala sobre normopatia e a busca a todo o momento pela aprovação e a validação social
CARATINGA- O desejo de ser como os demais. O profundo medo de olhar para si. Você tem o sentimento de autoaceitação? E o seu amor-próprio? O leitor é convidado à reflexão sobre estes aspectos para que prossiga para o próximo passo. Após esta análise, confira a entrevista concedida pela psicóloga Rejane Nascimento e saiba mais sobre o termo “normopatia”.
Rejane Nascimento é bacharel em Psicologia, possui pós-graduação, latu senso em Saúde Mental e em Terapia Cognitivo-Comportamental, tem Formação em Terapia do Esquema e em Terapia do Trauma, entre outros minicursos.
Ela destaca que o normopata costuma se caracterizar como uma pessoa que busca a todo o momento a aprovação e a validação social, à custa da sua própria individualidade e autenticidade. Portanto, exercite o autoconhecimento. Confira:
O que é normopatia?
O conceito é aplicado para designar comportamentos socialmente encarados como normais, mas que, na realidade, são patogênicos. Nos dias de hoje muitas pessoas têm uma necessidade quase obsessiva de ser como os outros; há uma mensagem implícita dizendo que para ser normal é necessário fazer o que os outros fazem. Almejar o que os outros almejam. Ter os objetivos que outros têm… Falamos de uma força onde prevalece a socialização e uma grande necessidade de aprovação. O normopata perde a conexão vital com seus estados internos não desenvolve uma vinculação com seu eu mais profundo. Quando a normopatia atinge níveis extremos acontece uma “morte psicológica”, já que existem partes inteiras do psiquismo onde afetos e significados deixam de ser elaborados. Os normopatas sentem um grande vazio por dentro. E quanto mais vazio experimentam por dentro, mais se voltam para fora.
Como reconhecer um normopata?
Comumente se caracteriza como uma pessoa que busca a todo o momento a aprovação e a validação social, à custa da sua própria individualidade e autenticidade. Não desenvolve um self seguro, sente medo de discordar, medo de ser diferente. Suprimi aspectos importantes da sua personalidade, não consegue ter uma opinião formada sobre um assunto, espera que os outros lhe digam o que pensar ou acreditar. Há grande dependência de uma validação externa, silenciando os próprios desejos. Essa busca faz com que perca o contato consigo mesmo. Na prática, a pessoa normopata não permanece “conectada com seu eu por tempo suficiente para que uma visão introspectiva surja”. Como resultado, há uma hiper-racionalidade ao lidar com os outros. Faltando empatia consigo mesmo, não consegue se conectar com as pessoas em um nível mais profundo, seus relacionamentos são superficiais. Os normopatas funcionam bem quando há um protocolo rígido a ser seguido, não questionam crenças, idéias ou valores, têm medo de discordar. Assumem uma atitude passiva, permitindo que a massa conduza suas vidas.
O que leva à normopatia?
A normopatia está associada a experiências traumáticas que geraram grande vergonha, deixando uma ferida profunda que leva a pessoa a se desconectar do seu “eu”, não desenvolvendo um self seguro e verdadeiro. Um dos fatores que podem contribuir para normopatia são as relações primarias do indivíduo, ou seja, se estas relações acontecem com pais ou cuidadores caracterizados como emocionalmente frios, imprevisíveis, hostis ou invasivos. Os padrões cognitivos formados são derrotistas, resistentes e com papel formador de uma identidade frágil que no caso dos normopatas no caso dos normopatas essa identidade frágil caminha para inexistência.
Pessoas que têm normopatia sentem dificuldades de autoaceitação?
A autoaceitação significa, o ato de aprovar e reconhecer positivamente a si mesmo, tem a ver com o ato de dar valor e importância para tudo aquilo que tem dentro de você, seja bom ou ruim.
A condição patológica do normopata é sustentada por um profundo medo de olhar para si. Metaforicamente podemos dizer que os normopatas vivem no escuro, não entendem seus desejos mais profundos, sentem medo do processo de introspecção e não sabem como lidar com as próprias sombras, havendo uma grande dificuldade de autoaceitação.
A normopatia pode ser vista como um mecanismo de defesa que permite o afastamento do sofrimento?
Na normopatia a pessoa vai para um lugar inexistente, acreditando estar se protegendo de um medo que é recorrente, e sente a ilusão da proteção e do afastamento do sofrimento. Como o grande medo do normopata é sua realidade interna, viver em um lugar onde ele apenas “acompanha o fluxo”, sem questionamentos é confortável e o indivíduo tem a sensação do afastamento do sofrimento.
Em tempos de redes sociais, as pessoas tendem a querer mostrar que tem uma vida melhor do que realmente as têm? A rede social faz com que essas pessoas deem uma ‘maquiada’ na realidade?
Sim. Não tenho dúvidas. Na maioria das vezes que fazemos postagens é sugerido pelas próprias redes sociais algum tipo de filtro, ou procuramos postar sempre nossos melhores ângulos e etc… Desejamos passar aos seguidores nossa melhor versão, e quando há um exagero, pensamos em uma versão inexistente.
Observamos que as redes sociais alimentam muito a questão da normopatia, pois ficar muito tempo diante das telas nos priva do nosso espaço íntimo necessário para a autocontemplação, onde o nosso cérebro faz conexões mais amplas entre os eventos e nossas reações emocionais, ou seja, essa interação nos leva a uma realidade interna mais verdadeira onde adquirimos o autoconhecimento. Pontuo novamente que o grande medo do normopata é lidar com sua realidade interna. Assim essa maquiada na realidade proporcionada pelas redes só reforçam o comportamento normopata.
Uma coisa é se inspirar em alguém, outra coisa é querer ser igual àquela pessoa. Poderia nos explicar?
Inspirar é mover, motivar, causar. Quando temos atitudes que provocam nas pessoas algum tipo de movimento positivo que traz crescimento, quem está sentindo-se inspirado não perde sua identidade e cresce enquanto pessoa. O inverso, quando tento ser igual ou copio alguém, eu perco minha identidade tentando ser quem eu não sou e fico no vazio.
Um “eu forte” é o antídoto para a normopatia?
Não há dúvidas que o desenvolvimento de um self seguro e verdadeiro é o grande remédio para normopatia. Enfrentar nossos medos, envolve aceitar as nossas sombras e os buracos que nos habitam. Quando agimos dessa forma olhamos para nós, exploramos, construímos e reconstruímos o nosso eu. Livramo-nos da ideia de que o “normal” é adequado, correto ou desejável e aceitamos o nosso ser, isso envolve discordância, reflexão e validação da unicidade do ser humano.
Por fim, quais as dicas para as pessoas serem elas mesmas?
O amor-próprio é um dos principais antídotos para sermos nós mesmos, a dedicação em desenvolver o autoconhecimento e apreciação pessoal é primordial para obtermos um self seguro.
Isso envolve:
Autenticidade.
Aceitar- se como você realmente é, independente da pressão externa para que você assuma outro papel. Sua originalidade diferencia você da multidão e torna sua existência única.
Evite comparações
Independentemente da situação, sempre busque o amor próprio e evite se comparar com alguém.
Não viva buscando a aprovação dos demais
Pare de buscar a aprovação dos outros para ter certeza do seu valor.
Sim, sempre haverá momentos de dúvidas em que você questionará suas próprias ações, confie em você e siga. Priorize suas metas.
Trabalhe a autocrítica
A fim de que você seja a melhor versão de si mesmo, evite dar atenção demais às críticas. Isso porque elas podem te desmotivar e te ferir internamente, de maneira que leve você a desistir dos seus sonhos. Procure ser compassivo, compreender as suas limitações e empregar a autoaceitação e amor a si mesmo. Para evoluir e ser a melhor versão de si mesmo é preciso identificar e aceitar suas falhas.
Respeite e honre o seu corpo
Não se trata da estética, mas, sim, se sentir bem e saudável para que isso chegue em outros aspectos existenciais. Com isso, mantenha um cuidado com o corpo, tendo uma vida mais sadia e com espaço para crescimento.
Trabalhe o auto perdão e seja sua melhor versão
Por meio do perdão, você pode se libertar da dor que sente e resgatar a força do seu eu para algo mais construtivo. Entender que melhorar a cada dia envolve um desapego contínuo daquilo que não nos faz bem.
Compreenda suas qualidades e defeitos
Explore suas capacidades natas e entendimento de como trabalhar os seus defeitos. O caminho aqui proposto é que você possa enxergar o quanto é único e especial.
Enfim, tenha em mente que tudo o que fazemos acaba alimentando mudanças em nós mesmos e nos demais. Pouco a pouco, é possível lapidar a realidade para que seja mais acessível a todo tempo. Ser a melhor versão de si ajuda em todos os aspectos, quando faço essa busca posso aplicá-la a todos os desafios encontrados pelo caminho da vida.