Vânia Maria O. Pereira
Durante muito tempo, os pais foram vistos como autoridades máximas sobre seus filhos, sendo responsáveis pela educação e formação de seu caráter, devendo formar pessoas “corretas” e “de bem”. Por isso, tinham poder absoluto sobre eles. Nessa época eram respeitados e temidos pelos filhos. O modelo de relação então era baseado no princípio: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Como tudo na vida se transforma e um extremo tende a ser compensado com o extremo oposto, aos poucos rigidez e autoritarismo deram lugar a pais liberais, que tudo faziam para não “frustrar” ou “traumatizar” seus filhos. As relações se modificaram e a criança passou a ser o centro das atenções, alvo de todo o investimento da família na realização de seus desejos. Filhos bem sucedidos nessa óptica significavam filhos felizes e realizados, e para que isso acontecesse, os pais teriam de deixá-los livres, sendo permissivos e “legais”.
Mais recentemente, percebeu-se que esse modelo teve como resultado a formação de um alto índice de pessoas egocêntricas e imaturas, incapazes de conquistar a própria vida, mostrando-se muitas vezes dependentes e inseguras.
Hoje se vê uma preocupação dos pais no sentido de continuarem suprindo as necessidades de seus filhos, porém com uma expectativa de que ao crescerem estejam preparados para a vida, capazes de ter sucesso profissional, financeiro, de serem bem relacionados socialmente, admirados por todos, destacando-se na sociedade.
A questão é que, na visão dos pais, para se atingir esses resultados, é preciso oferecer à criança, ao adolescente e muitas vezes ao filho já adulto, uma formação cada vez mais especializada e apoio financeiro sem fim. Desse modo, a educação é terceirizada através de incontáveis atividades acadêmicas, esportes, lazer, recursos tecnológicos etc, etc, etc.
Os pais, por sua vez, se tornam provedores absolutos, sustentando necessidades criadas para garantir filhos bem sucedidos. Sacrificam-se para dar-lhes tudo de melhor, e ainda assim, se sentem incapazes de serem os pais que idealizaram ser. Diante de tantas expectativas, muitos se mostram perdidos e culpados, como se fossem eles próprios o problema. Em geral, esses buscam encontrar o caminho “correto” através de ajuda profissional, como orientação psicológica ou psicoterapia.
É inegável que os modelos de pessoa ou pais de sucesso mudam com o tempo, mas é preciso que cada um se reconecte consigo mesmo, que tenha senso crítico diante dos modelos sociais vigentes. Pais precisam ter confiança em sua capacidade não só de educar, mas de serem eles próprios referenciais positivos para seus filhos.
Mais do que é dito ou o que se quer mostrar aos outros, o que define cada um é como se comporta, são suas ações cotidianas, a forma de se relacionar com tudo e com todos à sua volta. Portanto, os pais, querendo ou não, influenciam os filhos através de sua forma de ser. Se puderem ser mais autênticos, leves e autoconfiantes, naturalmente isso se refletirá na forma de ser dos filhos.
Os pais devem resgatar o conhecimento que trazem em si mesmos, suas experiências e espontaneidade no enfrentamento dos desafios da relação com os filhos. Essa deve ser baseada no amor e na flexibilidade, num processo de interação que envolve a contribuição de um no desenvolvimento do outro e vice-versa. Os pais só aprendem a serem pais com seus filhos, em tentativas de ensaio e erro.
Há que se ter ousadia. Por mais que pais tentem acertar, os filhos mais tarde terão de assumir a própria vida, da melhor forma possível, independente do que os pais fizerem por eles. Por mais que queiram, os pais não têm controle sobre sua vida, definindo exatamente como os filhos serão. Por isso, devem aprender a confiar em si mesmos e na capacidade de seus filhos se desenvolverem e serem bons, desfrutando o caminho e sua companhia, construindo uma relação de troca, que envolve afeto, aprendizado e crescimento pessoal.
Para quem busca conselhos, sugiro as palavras de Haemin Sunin, monge budista, que diz: “Vista confiança. Está sempre na última moda”.
Os pais que se permitirem viver plenamente a relação com seus filhos, aceitarem seus próprios limites e imperfeições, se dispuserem a aprender com as experiências, e deixarem seus filhos serem o que puderem, com certeza serão bons pais! E o resultado será o melhor possível!
Referência Bibliográfica:
Sunin, H. As coisas que você só vê quando desacelera, Rio de Janeiro, Ed Sextante, 2017, p. 181.
Vânia Maria O. Pereira – Psicóloga pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES/JF, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/Rio, MBA em Gestão de Pessoas e Negócios – UNEC. Psicóloga Clínica e Organizacional, Professora no Curso de Psicologia do UNEC. http://lattes.cnpq. br/2342983547615432