Ricardo do Vale Lordão e o apreço pela hierarquia e a pátria
CARATINGA- Foi em 1989, aos 18 anos, que o empresário Ricardo do Vale Lordão ingressou oficialmente no Exército Brasileiro. Natural de Governador Valadares, morou por muitos anos no Rio de Janeiro e há quatro anos reside em Caratinga. Ele ainda guarda consigo as memórias daquela época, no coração e também como colecionador. Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele contou esta história e o prazer de conservar o patriotismo.
O INÍCIO
Ricardo se alistou aos 17 anos de idade. Ele se voluntariou como paraquedista do Exército para a tropa da Brigada de Infantaria Paraquedista. Recorda que passou por um teste rigoroso para obter a aprovação. “Era subir numa corda de cinco metros sem colocar os pés, só com as mãos; os testes ainda incluem flexão, abdominal e corrida. Caí na 20ª Companhia de Comunicações Paraquedistas, tinham 60 vagas e 120 pessoas, isso tudo como civil ainda, ou seja, à paisana. E dos 120, ficou a metade e graças a Deus fui um deles”.
Sobre o título de paraquedista, o empresário fala com orgulho e que inclusive participa de eventos que reúnem os colegas daquela época, contando com a presença do presidente Jair Bolsonaro. “Você nunca deixa de ser. Igual médico, você para de exercer a profissão, mas não deixa de ser. Bolsonaro é paraquedista do Exército, tenho foto com ele muito antes de ele ser presidente. O paraquedista do Exército é uma tropa de elite do Brasil. A gente se reúne todos os anos em festa, encontramos com o Bolsonaro, ele nunca deixou de ir nas festas. Criamos uma irmandade que a gente nunca esquece, já tem 30 anos isso. Tenho meus diplomas na parede, homenagem”.
Ricardo demonstra que as recordações daquele período ainda estão bem vivas na memória e ao mostrar uma fotografia antiga, faz questão de descrever as características do fardamento que era utilizado. “O paraquedista usa Boot marrom, brevê de prata e boina grená”.
Em seguida, Lordão ingressou definitivamente no exército e participou de operações importantes. “Fiz o curso de cabo, depois fiz o curso de rádio operador. Manobras que tinham em outros lugares a gente sempre ia, por exemplo, a Operação Saci, que é só da Brigada de Infantaria Paraquedista; fui também na Operação Guavira também, que foi o Exército no Brasil todo e a Aeronáutica, foi no Mato Grosso. Nós sempre dávamos apoio a outros quartéis, isso é muito bacana. Os rádios que trabalhei tenho todos até hoje funcionando”.
COLECIONADOR
Conforme Ricardo, foi a partir desta experiência como militar, que ele decidiu eternizar estes momentos por meio de aquisição de veículos e objetos que remetam ao militarismo. Atualmente, ele possui uma Dodge M37 (1962) e um Jeep CJ5 -rádio (1983).
Mas, sua coleção também contempla outros itens que não remetem a este tema, mas são antiguidades, o que ele também aprecia. “Tenho uma moto CB 450 novinha. Tinha um Jeep 67 civil que eu até vendi, ainda tenho um Fusca 63. Mas falei, vou focar agora só no que é militar, porque tenho esse passado”.
O primeiro veículo que ele adquiriu foi o fusca 63, que ele ainda está reformando. Ricardo cita a história de cada um dos veículos que adquiriu. “Sempre fui doido com fusca, foi aí que comecei a entrar, ter acesso a questão de leilão do exército e ir atrás. O Jeep é um CJ5, que eu retirei lá em Resende, ele era da Academia Militar das Agulhas Negras. Peguei ele e não mexi em nada, do jeito que ele saiu do exército eu peguei. Veio com rádio, tudo funcionando, camuflado, com o manual, o caderno de manutenção que o sargento me deu, com toda a ficha de proprietário do Exército. Eu conheci o sargento que trabalhou com ele 20 anos e que dava manutenção nele. Então, ficou meu amigo, isso foi muito bom”.
A Dodge, ele fez questão de colocar a mesma numeração da viatura que trabalhou como rádio operador na operação Guavira no Mato Grosso. “É importada e americana. Esse modelo, o Estados Unidos criou para ser usado na Guerra da Coreia. Muito próximos no ar como o Exército Brasileiro. Eles doaram para o exército brasileiro e como já ficou antigo, foi colocado nos leilões também e adquiri uma, ela é 1962”.
Ricardo segue descrevendo outros objetos de sua coleção. “Tenho rádios de minha época de rádio operador do exército. Então são muitas coisas, tenho dois paraquedas da época que eu saltei, paraquedas antigos americanos. Tenho aqui uma rede de camuflagem de caminhão, fiz um aniversário na minha casa e botei na frente da minha casa toda. Coloquei um paraquedas nos fundos. É um amor pela pátria. A gente sai do exército, mas o exército não sai da gente”.
Como colecionador, ele ainda faz suas observações sobre os veículos alvo de colecionadores. “A verdade é que o bolso é o limite. Veículos militares hoje ficaram muito valorizados. Você não tem um valor certo, depende da originalidade do veículo e da restauração, se tiver. Isso tudo são os itens, também é claro, da raridade. Por exemplo, o xodó de todo mundo é um jipe 1942. Quem tem esse veículo, é considerado um carro top, mas, você vai ver o estado dele. E 1942, por causa do ano, usado na guerra, então o pessoal hoje muito fala muito sobre a (FEB) Força Expedicionária Brasileira. Tenho aqui quadros com o símbolo da FEB, que é a cobra fumando. Tentamos preservar os militares que foram chamados pracinhas, divulgar o nome deles”.
TIRO DE GUERRA
Desde que chegou a Caratinga, Ricardo faz questão de contribuir com os desfiles do Tiro de Guerra, seja no aniversário da cidade ou no Dia da Independência. Os veículos abrilhantam o que é considerado um dos momentos mais aguardados pela população. “Ajudo o TG com essas coisas, justamente para poder falar, levantar o nome do exército. Não só pelo exército, mas para essa meninada. Hoje as pessoas perderam os valores, então tentamos trazer isso, conservar um pouco do passado. O Tiro de Guerra tem que ser valorizado. No Exército aprendemos uma coisa que serve para a vida toda: hierarquia e disciplina; sabendo que isso precisa ser respeitado. É válido a gente valorizar e apoiar”, finaliza.