Existe um ditado popular que diz que “o trabalho dignifica o homem”, certamente que assim o é; o trabalho nos traz responsabilidades, nos ensina a ter disciplina, e nos traz como seu legado o bom nome, a dignidade. O trabalho é tão importante para nossas vidas que muitas pessoas são conhecidas somente pela sua profissão, em muitos casos, os vizinhos podem não saber o nome de uma pessoa quando pedimos informação, mas sabem a profissão que tais pessoas exercem e, pela profissão, nos indicam quem estamos procurando… Seja o professor, o pedreiro, o advogado, o lavrador, o médico, o padeiro, o mecânico, etc., independentemente de qual seja nossa profissão, ela é tão importante em nossas vidas que ela nos dará uma identidade civil e pública, mas nenhuma pessoa se resume a profissão que exerce, como pessoas, somos muito mais que a profissão que exercemos.
Mesmo com esse peso que a profissão trás, há pessoas que, além de sua profissão, são também reconhecidos por outras características de sua personalidade que se destacam e ofuscam a sua profissão, nos provando que ninguém se resume à somente aquilo em que trabalha, e que cada pessoa pode nos surpreender se nos importarmos em conhecê-las melhor, além de suas tarefas diárias.
Certa feita, um carpinteiro se casou com uma mulher simples, e depois de alguns meses juntos, tiveram um filho. O filho foi criado e instruído na cultura de sua pequena comunidade. A criança, com o passar dos anos, começou a ser instruída nos caminhos da religião por sua mãe, e a aprender a carpintaria, com seu pai.
Quando esse menino tinha doze anos de idade, seus pais o levaram a uma festa religiosa na capital e acabaram o perdendo no meio da multidão. Aflitos, angustiados, e depois de muito procurar seu filho, os pais o encontraram no templo, conversando com os principais sacerdotes da capital, e deixando todos admirados com sua inteligência e suas respostas. Com doze anos de idade, o aprendiz de carpinteiro, que aprendeu os princípios da religião com sua mãe, tinha causado admiração nos maiores sacerdotes e doutores de sua religião.
Essa criança cresce e, ao chegar à idade adulta, se afasta das atividades na carpintaria, que ele assumiu depois do falecimento de seu pai, e começa a dedicar a sua vida a ensinar as pessoas o caminho para uma vida feliz e bem aventurada. No estilo dos antigos filósofos e profetas andantes, ele sai ensinando as pessoas aquilo que ele aprendeu durante sua vida, que não se resumia a carpintaria. Ele ensinava desde as coisas mais simples e terrenas até as mais profundas e metafísicas.
Em seus discursos, tanto os destinados aos mais íntimos, quanto às multidões, o carpinteiro falava de vários temas: sobre agricultura, sobre construções, sacerdócio, economia, política, filosofia, e vários outros temas dos quais ele demonstrava ter conhecimento, mas, nos registros que temos de seus discursos, não se encontra nenhuma referência feita por ele à carpintaria. O assunto do qual ele mais tratava era sobre religião, sobre o sentido da vida, sobre o relacionamento do homem com Deus, o carpinteiro tinha tanto conhecimento sobre esses assuntos que passou a ser chamado de “Mestre”, e ele o era, foi o maior. Um dia, enquanto ele ensinava sobre religião, ele causou assombro e espanto a todos que o estavam ouvindo, a ponto de se perguntarem de onde vinha tanto conhecimento e sabedoria, já que todos o conheciam e sabiam que ele era, simplesmente, o “filho do carpinteiro”.
O Mestre carpinteiro, durante seu período de ensino, demonstrou ter compreensão sobre várias áreas do conhecimento, desde as coisas que regia a vida das pessoas simples e humildes, até as grandes discussões religiosas, filosóficas e políticas, demonstrava também um grande conhecimento sobre a psicologia e a natureza humana, e tinha uma enorme compaixão empatia por todos que o procuravam.
Como todos sabem, hoje esse carpinteiro é conhecido mundialmente. Para alguns, ele foi um grande sábio; para outros, um grande mestre; para outros, um profeta; para outros, um filósofo; para os cristãos, ele é Deus encarnado… O carpinteiro que aprendeu religião com a mãe ficou conhecido no mundo todo, por vários motivos e títulos diferentes. Mesmo envolvido com a carpintaria a maior parte de sua vida, até os trinta anos, não foi por causa de seu emprego que ele ficou conhecido, ele não se resumia e nem se resumiu a isso.
Podemos viver toda a nossa vida voltados para o trabalho, sendo tomados totalmente por ele, na luta de alcançarmos nossos desejos, e sermos felizes e satisfeitos com isso, mas, não podemos fazer do trabalho o único motivo de nossa existência, e nem julgar uma pessoa embasados no emprego que ela possuí. Ninguém se resume ao seu trabalho, e podemos nos surpreender com todos. Que venhamos buscar ir além do que nosso trabalho nos cobra, viver, e fazer outras coisas que vão além de nossa rotina. Todos podemos ser muito mais do que somos, e mais do que imaginamos ser. Que sigamos o exemplo do carpinteiro.
Wanderson R. Monteiro
(São Sebastião do Anta – MG)