Ildecir A. Lessa
Advogado
O atual momento do Brasil forma um cenário de crise tríplice: a crise política, a crise econômica e a crise moral. Em um exame mais aprofundado, verifica-se uma crise ética e moral generalizada do setor público e da sociedade. Nesse quadro de crise, no cenário político, registra-se as declarações controversas do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos Eduardo e Carlos contra instituições democráticas, o que tem gerado uma série de reações inflamadas de políticos, magistrados e entidades de classe.
Destaca-se a ameaça de Bolsonaro em não renovar a concessão pública da TV Globo. O cancelamento de todas as assinaturas do jornal Folha de São Paulo no âmbito do Governo Federal. A declaração de ser um quadro de hienas o Supremo Tribunal Federal. A declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro de se reeditar o AI-5, medida de 1968 que endureceu a ditadura militar brasileira. A crise instaurada, com relação a Lava Jato, onde está agora em destaque, os diversos atores, que são acusados de agirem institucionalmente e vinculados, de modos complexos e distintos, a diferentes interesses de classe e de frações de classe, para uma convergência de apoio à Operação Lava Jato, tudo a apontar para: a burocracia do aparelho de Estado, os movimentos da alta classe média, a grande imprensa e outros. Tudo a parecer que, as instituições estão inertes, que a sociedade está, entre alheada e surpresa, deprimida e ausente. Vem a incerteza da economia, que anda a passos lentos. A Justiça, sendo a bola da vez, com seus excessos que a leva a ficar assoberbada, inepta, sem solução a longo prazo.
A política caiu no vazio, entronada num mundo-poder paralelo, sem precedentes. É o está ocorrendo ao Brasil. O menosprezo integral por nossos valores mais comezinhos, o festejo renitente pela ausência de ética e de moral, a passividade às raias da submissão idiotizada e conivente, o desprezo absoluto pelo civismo e pelo patriotismo, a despersonalização alienada, o que é fatal para qualquer sociedade. A solução dos problemas que se acumularam requer uma abordagem sistêmica, condição difícil de obter sem um projeto de futuro.
Um país continental de 200 milhões de habitantes não pode avançar sem planejamento. A necessidade obriga o Brasil a superar o atavismo da improvisação, herdado do colonizador português, como advertiu Sérgio Buarque de Holanda. Para reverter os paradigmas do atraso, o brasileiro precisa entender que o Estado tem limites, e que a sociedade, deixada livre de amarras artificiais, terá ampliado o seu potencial de criatividade e de expansão do mercado nacional, abrindo mais oportunidades para todos.
Nesse cenário do Brasil atual, crítico da nação, toda consciência autônoma, livre e de bons costumes precisa sair da zona de conforto para agir, dentro da lei e da ordem, em prol do progresso, da recuperação da autoestima nacional e da esperança no futuro, para o Brasil sair desse momento atual, para um novo momento, mais fortalecido.