Profª Zilanda Souza – Neuropsicopedagoga
Período de férias. Rotina alterada. Tem família na estrada, no aeroporto. Tem filho na casa da vó. No sítio, na fazenda. Tem moçada trocando o dia pela noite. Dormindo na casa dos primos, assistindo filme até tarde, jogando, fazendo molecagem com a pasta de dente. Torcendo para que tudo não acabe assim, num dia qualquer de fevereiro, 6 da manhã, num retorno a vida normal.
O que ou quem entra de férias nesse período do ano? O que realmente “pausa”?
Embora as crianças tenham a rotina escolar pausada e não tenham que cumprir as obrigações do processo de ensino; a experiência, a criatividade e a aquisição de novas memórias permanecem ativadas. O aprender é contínuo e é promovido pela qualidade das experiências vividas.
Então a importância de pensar nas férias das crianças como uma continuidade do processo de desenvolvimento e de aprendizagem. Aprende-se na experiência com o mar, no contato com a areia, subindo em árvore, testando uma receita de bolo, retirando a mesa do café, passando a noite jogando e experimentando a ressaca de sono do dia seguinte. Aprende-se todas as vezes em que há o contato com o novo.
Por isso, precisamos oportunizar novas experiências para nossas crianças. As férias escolares são uma ótima oportunidade para isso. Pensar no que será feito, planejar os dias, perguntar as crianças o que querem aprender, quais experiências querem viver! Provocar então, uma nova aventura, um novo desafio.
A mãe do Ricardo experimentou o processo do aprender nas férias. Ao questionar o garoto o que queria aprender, o menino respondeu que não sabia, mas queria receber os amigos em casa para um campeonato de videogame. Foi então que a mãe sabiamente o respondeu: “Maravilha! Você quer aprender a receber os amigos em casa!”. E assim foram viver a experiência.
Terminada a euforia do campeonato. Desejo realizado. Filho feliz. A mãe não aguenta a ansiedade e propõe uma lista com o seguinte título: o que eu aprendi recebendo meus amigos em casa?
As respostas foram emocionantes para ambos. Pela primeira vez, Ricardo estourou pipoca, fez suco de laranja com a ajuda da amiga tecnologia e ajeitou uma mesa de lanche. Pela primeira vez improvisou um placar que iria monitorar o resultado do campeonato. Pela primeira vez, conseguiu refletir sobre o valor do trabalho da Ruth que ajuda na limpeza da sua casa e faz uma pipoca muito melhor do que a dele.
Contando sobre seus sentimentos, Ricardo disse que se sentiu feliz, importante e atrapalhado. Feliz, por ter uma casa para receber seus amigos, importante em poder organizar tudo, até o lanche e atrapalhado porque não tinha tanta experiência na cozinha. Precisaria de outra aula para aperfeiçoar sua prática.
A mãe de Ricardo, muito esperta, registrou o momento com a ajuda da amiga tecnologia (uma câmera de um celular) e colocou as fotos no quarto do garoto com o título: Minha primeira aula de como receber amigos em casa.
Nesses momentos, banhados de amor e muita sensibilidade; estava o precioso conceito aplicado: o aprender não está de férias!