Amor, segundo o dicionário, “é uma tendência que leva a alma a se apegar às coisas.” Definição simples e sem a emoção que o amor exige. É difícil definir o amor, pois sendo o maior sentimento do mundo e desejado por todos, é natural que haja mil definições.
Estamos falando do amor de namorados, noivos, casado. Amor que arrebata e faz com que se queira viver junto para o resto da vida. Amor exigente porque engloba ternura, ciúmes, sexo. Quando sentimos esse amor por outra pessoa, parece que a graça de Deus veio nos visitar, tal o desejo de estar unido, de adivinhar o pensamento, de desejar viver essa espécie de loucura deliciosa.
Basta ler os versos de Vinícius de Moraes e de outros grandes poetas para se ter o gosto certo do amor. Vinícius é citado por todos e conhecido no universo romântico quando disse sobre o amor: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.” Mário Quintana definiu o amor com sua forma discreta de escrever coisas profundas: “Amar é quando a gente mora um no outro.”
Existe um poema lindo atribuído a Mário Quintana, mas na verdade é de Myrthes Mathias. Chama-se Amor é síntese:
Por favor não me analise,
Não fique procurando cada ponto fraco meu,
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu.
Ciumenta, exigente, insegura, carente,
Toda cheia de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese,
É uma integração dados,
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
Ninguém consegue abraçar um pedaço,
Me envolva toda em seu braços
E eu serei perfeita, amor.
Um ponto que sempre me intrigou. Depois de tanto amor, inúmeros casamentos não duram. O amor acaba, embora desejado que seja eterno. O número de divórcio é imenso, e em certos países, ultrapassa o número de uniões. Sempre meditava sobre o desfecho infeliz de tão grande sentimento. Juras eternas, calor inebriante, desejo de ser feliz e de fazer feliz. E pensar que tudo isso se acaba, muitas vezes sem deixar rastro.
Até que um dia, lendo o artigo de um psicólogo sobre o assunto, descobri o xis da questão. Ele disse: “O amor não segura um relacionamento, é o bom relacionamento que segura o amor.” Isso Mesmo! O amor é frágil, é folha que o vento leva, é sol que a noite apaga. A gente não quer admitir, mas é verdade. O viver de um junto ao outro, testa o amor e mostra que ele depende de outras circunstâncias. O amor não aguenta traição, brutalidade, violência verbal e física, silêncio, distância, alcoolismo e ciúme exagerado.
Uma amiga quando se divorciou, quis desabafar comigo naquele momento de decepção e dor. Toda separação é doída. Ela me disse que não foi por traição que ela resolveu se separar. Foi por um motivo aparentemente simples, mas que no dia a dia virou suplício. Ele era tão pão-duro que ela tinha de dar conta até de dez reais a mais na conta conjunta deles. E ele sempre exaltava a própria família, menosprezando a dela. Humilhações que o tempo erguendo uma verdadeira muralha. E lá se foi a confiança – palavra chave no bom entendimento entre amores e também entre amigos. Mário Quintana que hoje me socorre, disse “confiança é como um tecido de seda, não aceita remendos.”
Por isso penso que se um casal sabe que o amor depende do bom convívio, é preciso arranjar um jeito de sempre causar o bem do outro. Lembrar que o amor é forte quando o sentimos, mas é frágil para se manter. Pois após ele se acabar e o casal se separar, há muitas vezes, o arrependimento, a vontade de voltar e o pedido de perdão cutucando o coração. No entanto, nada mais devolve o encantamento. Esse sentimento gostoso que sentimos, que damos o nome de amor, não acontece toda hora. É preciso tratá-lo como joia rara.
Marilene Godinho