Walber Gonçalves de Souza
Alguns ditados populares são muito interessantes: “o peixe morre pela boca”; “cabeça vazia, oficina do diabo”; “corpo são, mente sã”; “aquilo que não mata engorda”… E assim vai, poderíamos citar vários, mas entre eles há uma essência em comum, é preciso cuidar do corpo, cuidar da alma.
O filósofo grego Platão procurou entender esta dicotomia humana, corpo e alma, e ao mesmo tempo tentou mostrar a importância do equilíbrio do ser, portanto, a importância que devemos ter com o corpo e os seus sentidos e a alma com a sua racionalidade, sendo o sopro vital presente em todos os seres. Para ele, devemos cuidar do corpo porque ele “está sujeito aos males da condição humana, sobre a qual se impõe a natureza, devendo, portanto, obedecer à alma e servi-la, pois o corpo é ininteligível, multiforme, dissolúvel e jamais igual a si mesmo. Já a alma é inteligível, estável e imortal, devendo pois comandar e dirigir. Segundo Platão, “o corpo pode ser um obstáculo para a alma que busca a verdade”. Olha aí o ditado popular, “corpo são mente sã”.
Nas escolas também aprendemos com os professores de biologia sobre o funcionamento do corpo; lembro-me das saudosas aulas do Toninho Cotta no Colégio Estadual, quando ele dizia que, para que o organismo funcione bem é preciso que o nutramos da melhor forma possível. E para que isto aconteça é preciso descansar, proteger-nos do excesso dos raios solares, tomar água e saber escolher bem os alimentos. Realizando estas simples tarefas estaremos oferecendo ao corpo os nutrientes devidos para o seu bom funcionamento.
Mas o paladar é terrível, como já dizia Platão, e muitas vezes acabamos escolhendo os alimentos errados ou em quantidades excessivas. Assim, corremos do risco de ficarmos diabéticos, hipertensos, com colesterol alto e tantos outros males que afligem o corpo. Confirmando desta maneira o outro ditado popular, que “o peixe morre pela boca”.
Mas agora, pretendo fazer uma analogia do corpo com a alma e mostrar que da mesma forma que nutrimos o corpo, devemos também nutrir a alma. Cuidar da alma também deve ser uma das nossas atitudes.
Imaginemos uma situação, um corpo malnutrido gerará sequelas indesejadas, será que o mesmo não acontecerá com uma alma na mesma situação, o que pode acontecer com uma alma em processo de desnutrição ou malnutrida? E qual e como deveria ser a nutrição da alma?
Como seres humanos deveríamos nos preocupar com coisas prazerosas, pois o prazer é algo necessário, sem sombras de dúvidas, mas será que deveríamos ser fúteis, vazios? Parece que vivemos uma época que o conhecimento se tornou o inimigo número um das pessoas. Estranho ler isto, parece algo esquisito e contraditório, mas a realidade está se mostrando com esta face.
As músicas mais propagadas e ouvidas pelas pessoas, portanto que estão nutrindo nossas almas, são tão vazias e mesquinhas que em muitos casos são compostas por uma ou no máximo duas palavras, lembra do “Créu”, do “Lepo lepo”, por exemplo. Os programas que apresentam altos índices de audiência são tão baixos e medíocres que acabam apresentando entre outras coisas uma face desumana da sociedade. Quer fazer sucesso na TV é só apresentar brigas, mortes, pancadarias, roubos, crimes e assim vai, tendo sangue é o que interessa. Programas que bebemos de uma forma assustadora, que fazem parte do cotidiano das famílias e que nutrem maciçamente a nossa alma todos os santos dias. Com os jornais impressos a lógica não é diferente, o que vende é a manchete sanguinolenta. Quanto mais bárbaro for o crime mais procura, mais venda, mais repercussão, mais as pessoas querem saber, saciar suas curiosidades. É incrível como as pessoas adoram a desgraça alheia! Talvez seja o reflexo da nossa alma, que como uma veia, está “entupida” da gordura social.
Muitas pessoas buscam cuidar dos seus corpos, através de acadêmicas, exercícios físicos, alimentação mais saudável, mudando hábitos e costumes. Está na hora de começarmos a fazer o mesmo com a alma, a procurar a alimentar nossa alma com coisas mais saudáveis, com mais nutrientes. A falar mais da vida, e menos das pessoas; a ler mais livros bacanas, que apresentam conteúdos e não somente páginas com letras e palavras; a ver mais filmes com relevância cultural; a procurar programas televisivos que realmente acrescentam algum conhecimento. Uma alma vazia é oficina do diabo, eis aí outro ditado popular, e como diria Santo Agostinho, um ótimo caminho que pode ser trilhado para afastar o diabo da alma é preenchê-la com o conhecimento, com o saber, o verdadeiro e único nutriente da alma humana.
Walber Gonçalves de Souza é professor.