“É muito maior que eu imaginava” afirma o hidrólogo da NASA, Dr. Augusto Getirana, sobre a seca que se estende por todo o país nos últimos três anos.
Ao iniciarmos nossa discussão semanal com este trecho de impacto sobre a crise atual tenho por objetivo estender as dimensões em que o problema tem sido tratado na nossa cidade e região.
Segundo a NASA, nos últimos três anos a quantidade total de água perdida pela região sudeste e sul devido ao evento atual de seca, chega ao surpreendente montante de 49 trilhões de litros d’água, algo quase incalculável para nós.
Entretanto para que todos tenham uma noção das proporções deste evento para toda a sociedade, tal quantia equivaleria o abastecimento da cidade de Caratinga pelos surpreendentes 8600 anos ininterruptos.
O pesquisador ainda descreve que o nosso país não sofre uma falta de água num todo, a questão é que as regiões muito povoadas, que sofrem com seu efeito, atualmente dependem de coleta de água de subsolo e reservatório locais, que estão sofrendo um processo de desabastecimento.
Desta forma, ao considerarmos que devido as mudanças no clima tais eventos de seca intermitentes poderão tornar-se mais frequentes, caso não exista nenhum plano de gestão dos recursos hídricos em diferentes esferas públicas não será possível reduzir os impactos de tais eventos no cotidiano da população que vive nestas regiões de risco.
No caso de mega e grandes cidades, poderá existir um momento no futuro em que se tornariam inviáveis para receber novas pessoas, por falta de oferta desses recursos para a sua população.
Entretanto, mesmo com as previsões um tanto quanto incertas para o nosso futuro é notório que tais eventos serão mais intensos em regiões que possuem áreas nativas mais fragilizadas. Tal relação pode ser feita devido o papel que áreas bem preservadas, em equilíbrio, possuem na manutenção da provisão dos conhecidos como bens e serviços ecossistêmicos. Entre tais serviços, a manutenção da oferta de água limpa, que é indispensável para as nossas atividades diárias.
Portanto, a demanda atual por recursos hídricos e sua baixa oferta só tem aumentado a importância de tratarmos de forma eficiente e sustentável a gestão de tais recursos.
Ao passo que também é notória a necessidade de incluir um valor real dos mesmos, pois a água que consumimos tem um valor muito maior que aquele que está descrito na sua conta de água mensal.
Ao consumirmos a água potável que chega até nós, temos de entender que ela não é fruto de somente de um processo de purificação e, sim, um processo muito mais complexo.
Que começa através da forma que tratamos nossas áreas nativas de florestas, passa através de como buscamos desenvolver uma agricultura que possa impactar menos os recursos hídricos e termina com a utilização de forma responsável desta água que chega até nós.
Este processo, brevemente descrito aqui, é parte de um ciclo maior que pode ser perturbado através das nossas atitudes diárias.
Por fim, cabe a nós entender que não somos superiores ou inferiores a qualquer ser vivo ou outro indivíduo que também depende dos recursos providos da natureza para sobreviver, para que assim possamos entender que somos parte desta complexa rede e que caso o sincronismo natural entre os seus participantes for quebrado, todos irão sofrer as consequências igualmente.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA