Em meio a pandemia mundial causada pelo COVID-19, venho tratar de um assunto igualmente importante em nossas vidas, não apenas nesse momento, mas de forma contínua: a segurança no trânsito.
Fazendo uma analogia, os acidentes de trânsito podem se assemelhar à ocorrência do COVID-19. Ambos são silenciosos, invisíveis e, às vezes, negligenciados. Porém, o número de mortes e lesões oriundas dos acidentes de trânsito vem sofrendo uma escalada sem precedentes no último século, desde o advento do automóvel, com efeitos devastadores sobre todos nós e com um poder de destruição gigantesco.
Como a probabilidade de se envolver em um acidente de trânsito é relativamente baixa, em comparação a outros eventos da vida diária, sempre pensamos que esses eventos nunca nos acometerão… Até que um dia acontece, sem aviso, sem piedade. E basta ocorrer uma vez, para mudar drasticamente a vida dos envolvidos e seus entes queridos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3.700 pessoas morrem todos os dias vítimas de acidentes de trânsito no mundo. O custo econômico estimado é de aproximadamente 1,0%, 1,5% e 2,0% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países com baixo, médio e alto desenvolvimento, respectivamente.
No Brasil, a situação não é diferente. Em média, 42.000 pessoas morrem todos os anos no trânsito brasileiro, 166.000 ficam feridas em decorrência deles, muitas destas com invalidez permanente, sequelas físicas e/ou psicológicas que impedem a continuidade normal da vida.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estimou o custo para os acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras em cerca de R$12,30 bilhões para o ano de 2014 que, atualizados para o ano de 2019, considerando a inflação do real, esse valor já estaria na casa dos R$15,02 bilhões!
No passado, considerava-se que os acidentes de trânsito eram eventos aleatórios e independentes de outros fatores. Contudo, hoje se sabe que isso não é verdade, uma vez que o sucesso obtido pelos países desenvolvidos em reduzir sua acidentalidade, através do enfoque científico, tem mostrado que os acidentes de trânsito são, em geral, previsíveis e evitáveis.
De fato, os estudos científicos mostram que, em grande parte dos acidentes de trânsito, observa-se a presença de alguns poucos e principais fatores de risco, que são elementos que aumentam as chances da ocorrência de um acidente ou seu agravamento. Entre os fatores de risco mais comuns estão: o uso da velocidade excessiva; o consumo de bebida alcoólica, drogas ou medicamentos; não utilização dos equipamentos de segurança (cinto de segurança, capacete, dispositivos de retenção para o transporte de crianças, etc.); e distração do condutor (uso de telefones na condução de veículos, fadiga e sonolência, desatenção, etc.).
Todos esses dados e indicadores de segurança viária nos levam à conclusão que vivemos uma crise terrível quando se trata de vidas no trânsito e que precisamos mudar de comportamento imediatamente. Essa mudança de postura vem justamente para reduzir os fatores de risco o que, consequentemente, leva à redução do número e da gravidade dos acidentes. Não é incomum ouvirmos “é só uma cervejinha, não irá prejudicar minha capacidade como motorista” ou “não gosto muito de usar o cinto de segurança”, tratando-se de atitudes infelizmente comuns, mas, sem dúvida, condenáveis. Por isso devemos ser mais prudentes e responsáveis, consolidando assim, uma cultura de segurança no trânsito. Atualmente, com a diversidade de opções de deslocamento, tais como aplicativos, transporte coletivo, transporte não motorizado, entre outros, torna-se desnecessário assumirmos um risco, não somente conosco, mas com os demais usuários do sistema viário.
Claro que não podemos simplificar. As ações individuais são apenas parte (embora muitíssimo importante) das ações de combate à acidentalidade viária. Há ainda as ações de ordem governamental, como investimentos adequados em planejamento, infraestrutura e logística de transporte, além de campanhas de conscientização em segurança viária. É importante ter consciência do todo, é claro, mas mais importante ainda é ter consciência do papel individual a ser desempenhado a fim de contribuir para um trânsito mais seguro.
É chegado o mês de maio, símbolo da luta contra as mortes e lesões no trânsito, conhecido mundialmente como Yellow May (Maio Amarelo). Não à toa, maio foi escolhido para simbolizar a luta contra os acidentes de trânsito, pois em 2011, nesse mês, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou uma campanha a nível mundial, denominada “Década de Ações para a Segurança no Trânsito” (DAST) com o objetivo de reduzir em 50% as mortes e lesões provocadas por acidentes de trânsito até o ano de 2020 (ano corrente).
Então, chegamos ao ano final da campanha da DAST. Será que o objetivo foi atingido? Será que o Brasil chegou pelo menos próximo ao objetivo proposto? Embora análises preliminares possam ser feitas (sendo muito bem-vindas), apenas ao findar deste ano, poderemos formular respostas concretas a esses questionamentos.
Com o exposto, podemos concluir que a mudança de comportamento através de atitudes mais responsáveis se faz necessária para a melhoria da segurança de nossas vias. A ciência está aí para nos ajudar, seja no combate ao vírus, seja no combate aos acidentes, ou tudo o mais que nos aflige enquanto humanidade. Tenhamos criticidade sim, mas não deixemos de acreditar na ciência, que está aí a nosso serviço. Afinal de contas, ninguém quer passar pelo sofrimento causado pelos acidentes de trânsito (ou doenças, em certa medida, preveníveis), ver/ser um ente querido sofrendo por algo que poderia ter sido evitado. Não seja mais um número nas estatísticas, faça sua parte!
Marcus Vinícius Gomes de Lima
Engenheiro Civil
Especialista em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
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