Em livro, caratinguense apresenta lições que não negam a dor, mas apontam a fé como força para recomeçar
DA REDAÇÃO- Em tempos marcados por incertezas, cansaço emocional e profundas inquietações existenciais, muitas pessoas têm buscado respostas que vão além do racional — desejam sentido, acolhimento e, sobretudo, esperança. É nesse cenário que surge a obra ‘No Limite da Existência – Encontrando Fé e Força para Recomeçar , do autor e teólogo caratinguense Maurício Antônio de Araújo Gomes, lançada pela Editora Amplamente em 2025.
Fruto de anos de escuta pastoral, vivência acadêmica e sensibilidade espiritual, o livro dialoga com aqueles que já se sentiram à beira do esgotamento — seja emocional, espiritual ou existencial. Com uma linguagem profunda e acolhedora, Maurício convida o leitor a atravessar o vale da dor com fé, integrando reflexões teológicas, narrativas bíblicas e elementos da experiência humana em sua totalidade.
Nesta entrevista, o autor compartilha os bastidores da obra, revela as motivações que o levaram a escrevê-la, e fala sobre temas universais como o sofrimento, o recomeço e o papel da fé nos momentos mais sombrios da alma. Com honestidade e sabedoria, ele nos mostra que, mesmo quando tudo parece ter chegado ao fim, ainda é possível encontrar um novo começo.
Para começar, o que motivou o senhor a escrever este livro? Houve um momento específico da sua vida que serviu de gatilho para essa obra?
A motivação para escrever este livro nasceu da observação profunda da realidade humana — marcada por dores silenciosas, recomeços difíceis e uma busca constante por sentido. A cada história que ouvi, a cada testemunho compartilhado, percebi o quanto as pessoas estão vivendo no limite: emocional, espiritual e existencial. Este livro não surgiu de um momento pontual, mas de uma convicção crescente de que a fé, quando bem compreendida, pode restaurar, fortalecer e reerguer até aqueles que pensam não ter mais esperança.
‘No Limite da Existência’ foi escrito para dialogar com quem já pensou em desistir, com quem carrega culpas, luto, traumas ou cansaço da alma. É um chamado à restauração que Deus oferece — não como promessa vazia, mas como uma realidade possível, vivida por muitos personagens bíblicos e ainda acessível a todos nós hoje.
Mais do que uma resposta a uma experiência pessoal, este livro é fruto da escuta pastoral, do compromisso com a Palavra e da crença de que ninguém está irremediavelmente perdido. Sempre haverá um recomeço em Deus.
O título do livro fala em “limite da existência”. Como o senhor define esse limite? É algo que todos, em algum momento, inevitavelmente enfrentam?
O “limite da existência” representa aquele ponto em que as forças emocionais, espirituais e existenciais parecem se esgotar. Não se trata apenas de um evento traumático, mas de um estado interno em que a pessoa já não vê saída, clareza ou esperança. Todos nós, em maior ou menor grau, seremos confrontados com esse limite em algum momento da vida — seja pela dor da perda, pelas rupturas afetivas, pela solidão, ou pelas pressões de uma existência fragmentada.
A proposta do livro não é evitar essa realidade, mas encará-la com honestidade e fé. O “limite” não é um fim absoluto, mas uma travessia: um lugar em que Deus encontra o ser humano em sua vulnerabilidade para iniciar, ali mesmo, um processo de restauração.
O prefácio menciona que o livro não oferece respostas simplistas. Como equilibrar, então, fé e realismo diante da dor e do sofrimento humano?
O sofrimento humano exige reverência, não fórmulas. Por isso, desde o início, a proposta do livro foi oferecer um acolhimento realista, sem minimizar a dor, mas também sem sucumbir ao desespero. O equilíbrio entre fé e realismo nasce do reconhecimento de que a fé autêntica não nega a dor — ela caminha com ela. Jesus chorou, Elias se escondeu em profunda angústia, Jó questionou intensamente. A Bíblia nunca foi um manual de promessas fáceis, mas uma narrativa viva de pessoas reais que, mesmo feridas, encontraram sentido ao confiar em Deus.
Não se trata de romantizar o sofrimento, mas de enxergá-lo à luz da esperança. A fé não anula o real — ela o transcende, oferecendo uma perspectiva que acolhe a fragilidade, sem perder a convicção de que é possível seguir. É nesse espaço entre o caos e a confiança que este livro foi escrito: para ser companhia, e não sentença.
Que papel a fé desempenha nesse processo de recomeço? É possível reconstruir a vida mesmo quando a fé parece ter se perdido?
A fé é o sopro silencioso que ainda pulsa quando tudo parece cessar. Ela não grita, não exige certezas, mas resiste. Em momentos de dor profunda, ela pode parecer ausente — mas, na verdade, está apenas recolhida, aguardando o instante em que o coração se disponha a recomeçar.
O livro mostra que o recomeço não depende de uma fé perfeita ou inabalável. Muitas vezes, ela enfraquece, hesita, se cala. Mas mesmo em seu estado mais tênue, Deus a acolhe. Ele não exige força plena para agir, porque Sua fidelidade não está condicionada à intensidade da nossa crença.
Como José do Egito, que viu sua vida desmoronar antes de ser exaltado; como Elias, que pediu para morrer antes de ser renovado; como Pedro, que negou antes de ser restaurado — é possível recomeçar mesmo do lugar mais escuro da alma.
O recomeço, portanto, não acontece quando tudo está resolvido, mas quando decidimos confiar novamente, mesmo que seja com a voz embargada. A fé, mesmo em silêncio, ainda é um caminho.
O livro parece mesclar aspectos teológicos, históricos e até psicanalíticos. Como o senhor integrou essas diferentes áreas do conhecimento na escrita da obra?
A obra foi escrita a partir de uma convicção profunda: o ser humano é uma totalidade indivisível — espiritual, histórica, emocional e relacional. Diante disso, percebi que refletir sobre o sofrimento e o recomeço exigia muito mais do que referências bíblicas isoladas; era necessário integrar a teologia, a escuta pastoral, a leitura dos dramas da história humana e os sinais do inconsciente que emergem nas crises da existência.
A teologia, portanto, está presente como alicerce, oferecendo o eixo bíblico e doutrinário que sustenta a esperança. A história bíblica entra como memória viva, permitindo que o leitor se reconheça em figuras como Elias, Noemi ou Davi. E os aspectos psicanalíticos aparecem nas entrelinhas — na forma como o texto reconhece as sombras, os silêncios, os traumas e as angústias, sem julgamentos, mas com acolhimento.
O equilíbrio entre essas áreas surgiu da própria vivência ministerial e acadêmica. O livro foi construído com o cuidado de quem escuta, estuda e ora. Por isso, cada capítulo é, ao mesmo tempo, uma reflexão, uma oração e uma convocação ao autoconhecimento. Não se trata de teoria aplicada, mas de uma integração natural entre fé e humanidade.
Ao longo da obra, o senhor compartilha ferramentas de superação. Poderia citar uma ou duas dessas ferramentas que considera essenciais para quem está vivendo um momento de crise?
Uma das ferramentas mais poderosas que o livro propõe é a oração como um diálogo honesto com Deus. Não se trata de orações ritualísticas ou formatadas, mas de conversas sinceras, em que o indivíduo pode dizer exatamente como se sente, sem medo de ser julgado. Falar com Deus sobre a dor, sobre as incertezas e até sobre a ausência d’Ele é, por si só, um ato de coragem e fé. Muitas vezes, é nesse espaço de vulnerabilidade que a restauração começa.
Outra ferramenta recorrente na obra é a escrita como forma de cura emocional — seja por meio de uma carta de reconciliação, uma carta entregue a Deus ou mesmo um diário espiritual. Escrever permite nomear o que dói e organizar interiormente aquilo que parece caótico. É também um exercício de entrega e elaboração da experiência.
Ambas as práticas — oração e escrita — são acessíveis, humanas e espiritualmente profundas. Elas constituem caminhos possíveis para que o leitor transite do silêncio para a escuta e o recomeço.
O senhor acredita que o sofrimento tem algum propósito? Ou é possível encontrar propósito apesar do sofrimento?
O sofrimento em si não é algo que se deseje ou glorifique. A Escritura Sagrada trata o sofrimento com seriedade e verdade, sem reduzi-lo a algo idealizado. Ela o reconhece como parte da condição humana em um mundo marcado pela queda e pela imperfeição. No entanto, aquilo que nasce da dor — quando atravessada com fé, reflexão e abertura ao agir de Deus — pode revelar propósitos que, à primeira vista, não eram compreensíveis.
O livro não afirma que todo sofrimento tem um sentido imediato, mas sim que Deus é capaz de redirecionar a dor para fins redentores. Foi o que aconteceu com José no Egito, com Davi após o luto, com Noemi após a amargura. Todos viveram experiências de perdas e angústias, mas, ao final, compreenderam que o sofrimento não foi o ponto final — foi o ponto de transição.
Portanto, mais do que afirmar que o sofrimento tem um propósito específico, acredito que é possível encontrar um novo propósito mesmo depois da dor. Deus não desperdiça nenhuma lágrima — Ele transforma ruínas em recomeços, e é esse movimento de sentido que o livro busca revelar ao leitor.
Para quem o senhor escreveu este livro? Existe um público específico, ou ele é voltado a qualquer pessoa que esteja buscando um recomeço?
Este livro foi escrito para aqueles que, em silêncio ou em desespero, já se sentiram no limite — seja da fé, das emoções ou da esperança. Embora ancorado na fé cristã, ele acolhe qualquer pessoa que esteja atravessando um momento de dor e deseje reencontrar sentido.
Não há um perfil exato de leitor, mas sim uma alma ferida que deseja recomeçar. A mensagem é clara: mesmo em meio às ruínas, ainda é possível reconstruir. Deus continua a escrever histórias onde muitos veem apenas fim.
Quais são os maiores obstáculos que impedem alguém de recomeçar — e como enfrentá-los?
Entre os muitos obstáculos que se impõem ao recomeço, talvez os mais desafiadores sejam a culpa, o medo e o apego ao que já não faz sentido. Muitas vezes, o ser humano permanece paralisado não pelas circunstâncias externas, mas pelos muros que construiu dentro de si — mágoas não resolvidas, crenças de indignidade, promessas frustradas.
Enfrentar esses bloqueios exige, antes de tudo, uma entrega verdadeira: reconhecer a dor, permitir-se ser vulnerável diante de Deus e abrir-se à possibilidade de um novo caminho. O livro mostra que o processo de recomeçar não exige grandes feitos imediatos, mas pequenos gestos de fé — uma oração sincera, um pedido de perdão, uma carta jamais enviada, um passo na direção contrária ao medo.
Recomeçar é, acima de tudo, um ato de confiança: de que Deus não nos vê pelo que fomos, mas pelo que ainda podemos ser.
Há uma mensagem-chave que o senhor espera que o leitor leve consigo após concluir a leitura?
A mensagem central que o livro deseja transmitir é a de que o limite da existência não é o fim da jornada, mas o ponto onde a intervenção divina pode iniciar algo novo. O sofrimento não anula a dignidade humana, nem interrompe os propósitos de Deus.
Ao concluir a leitura, espero que o leitor compreenda que a restauração é uma possibilidade real e presente — não por força humana, mas pela fidelidade de um Deus que transforma ruínas em caminhos. A última palavra nunca pertence ao caos, mas à Graça de Deus.
Por fim, quais são seus próximos projetos? Pretende continuar escrevendo sobre temas ligados à fé, dor e recomeço?
Sim, essa é uma missão que continua. A escrita representa, em minha caminhada, um desdobramento do ministério que exerço com a vida e com a fé. Já estou desenvolvendo novos projetos que aprofundam a relação entre fé, saúde emocional e reconstrução interior, com base bíblica, reflexão teológica e escuta sensível da alma humana.
Minha intenção é seguir escrevendo sobre temas que ajudem o leitor a compreender que a espiritualidade cristã não é uma fuga da realidade, mas um caminho de coragem e reencontro — com Deus, consigo mesmo e com o sentido da vida.
Em breve voltarei para lançar uma nova obra para vocês: Heróis da Fé – Ensinamentos para Superar Desafios da Vida Moderna. Será uma continuação do propósito de inspirar vidas com base nas Escrituras e na experiência humana redimida pela fé.