Com 40 anos de profissão e uma das referências no jornalismo caratinguense, Kleber do Val discorre sobre sua carreira e ressalta a importância de emitir opiniões
CARATINGA – Ele foi um menino que pedia para que a mãe lesse propagandas e letreiros de lojas para ele. Assim que aprendeu a ler e escrever, tomou gosto por criar textos. Quando adolescente, tocava violão e queria ser Mick Jagger ou John Lennon, mas se tornou adulto e uma das referências do jornalismo caratinguense. Kleber do Val tem 40 anos de profissão. Seu nome é mais ligado ao rádio, afinal Discorama foi um sucesso absoluto na Rádio Caratinga, e Kleber tocava o melhor da música pop. Suas reportagens também marcaram época. Ele perguntava o que todos queriam saber, mas não tinham coragem de questionar. Seus trabalhos se estendem à televisão e ao impresso, onde ele mesmo admite que se sente mais à vontade.
Hoje ele produz na TV Sistec o programa ‘Terceira Idade em Ação’ e tem o editorial ‘Direto da Redação’. Nesta entrevista, ele fala um pouco de sua carreira e ressalta a importância de poder opinar. Polêmico? Não. Kleber do Val frisa que é apenas um cidadão que defende o que acha justo, ético e sensato.
O senhor trabalha com a televisão, com o rádio e também já escreveu para jornais, revistas. Com qual desses meios de comunicação se identifica mais?
A vida toda sempre tive uma enorme curiosidade em buscar conhecimento através da leitura. Mesmo antes de entrar para o ensino básico lembro-me de que não dava sossego à minha mãe para que ela traduzisse para mim tudo o que estava escrito nas placas das lojas e de publicidade de Caratinga. Coitada! Esse interesse pela informação escrita seguiu pela infância, adolescência e vida adulta. Como sempre li muito e de tudo – dos clássicos de Machado de Assis a histórias em quadrinhos – acabei também pegando o jeito para escrever. Por isso considero que minha maior vocação é para a produção de texto, embora também tenha me sobressaído muito como repórter de rádio, quem sabe, por fazer perguntas que talvez muitos gostariam de fazer, mas não tinham coragem. Nunca fui repórter de deixar o entrevistado muito à vontade não, quando o assunto pedia isso. Hoje, no rádio, exerço apenas a função de locutor noticiarista. Na TV Sistec apresento o editorial Direto da Redação e produzo o programa Terceira Idade em Ação.
Nas últimas duas décadas presenciamos uma mudança nos meios de comunicação com a internet, podemos dizer que o rádio é o meio que menos foi afetado pela internet, pelo contrário, a rede mundial tornou-se um aliado.
Por ser uma instituição antiga, o rádio adquiriu, ao longo dos anos, muita credibilidade. Ouvir rádio faz parte da cultura do brasileiro. Quem quer notícias, por exemplo, com confiabilidade, procura muito o rádio. Além disso, é um meio de comunicação dinâmico, que mantém uma ponte permanente de contato direto com seu público, em tempo real: o ouvinte fala, o locutor fala e todos escutam, ao vivo! Há, ainda, o encanto dos ouvintes pelos locutores, que ainda são vistos por muitos como verdadeiros artistas; noutras vezes são, para os ouvintes, amigos e até psicólogos informais; e além do mais o rádio passou a usar o próprio desenvolvimento da tecnologia a seu favor, estando presente também na internet, no celular e em outras plataformas modernas.
O senhor teve seu programa de rádio. Como foi essa época em sua vida?
Uma das mais intensas. Fui meio que jogado aos lobos – no bom sentido – naquela época (início da década de 80), pois era novato no ramo e sempre fui muito tímido. Nunca imaginei que um dia pudesse apresentar um programa de rádio, muito menos com cerca de três horas de duração (do meio-dia às três da tarde). No início, tremia. Apesar disso, o Discorama – era assim que se chamava o programa – alcançou muita audiência e até hoje, passados mais de trinta anos, ouvintes conversam comigo na rua sobre aqueles tempos. Era um programa musical e com muita participação do ouvinte, por carta e telefone (não havia internet, ainda). Acho que o sucesso se deu porque eu sempre tratava o ouvinte com muito carinho e procurava estar sempre atualizado em relação às músicas. Foi através do Discorama que fiquei, de fato, conhecido na cidade como radialista.
O senhor é muito firme em seus editoriais. Às vezes suas opiniões não são bem recebidas?
Como disse agora há pouco, nunca fui de ficar em cima do muro. Como comentarista, agora atuando na coluna Direto da Redação, da TV Sistec, não falo para agradar, mas para defender o que acho justo, ético e sensato. Como minha conduta é a de não fazer média e falar sempre o que penso, claro que acabo sofrendo críticas sim. Foi o que aconteceu por exemplo, recentemente, em relação a um comentário que fiz na televisão sobre os mimos excessivos que alguns donos dispensam aos seus bichinhos de estimação. Quase fui apedrejado. Mas sempre ganho muitos apoios também.
Atualmente o senhor é responsável pelo programa ‘Terceira Idade em Ação’. Como tem sido este trabalho?
Cansativo, mas compensador. O programa está há dezenove anos no ar, levando a todos as conquistas da nossa melhor idade. Tem uma repórter com mais de oitenta anos, a Nair Lima, conhecida de todos, que até hoje dá aquele show de competência e desinibição em sua função. Trabalho muito nos finais de semana (além da produção e do roteiro, também faço as filmagens do programa), acompanhando os eventos da terceira idade na região, mas me sinto realizado em poder contribuir para que haja menos preconceito e discriminação em relação a esse segmento.
O senhor é também é músico, compositor. Como anda essa sua faceta?
Amo música, e não vivo sem. Mas, hoje em dia, só ouço. Quando adolescente, cheguei a pensar que poderia vir a ser uma espécie de Mick Jagger, de John Lennon, quem sabe. Com o passar do tempo, caí na real e percebi que meu talento nesse campo deixava muito a desejar. Além disso, tenho tendinite, adquirida durante os anos a fio de digitação no computador. As dores na mão me impedem de tocar violão e, sem violão, fica difícil (ao menos para mim) compor ou tocar. Mas guardo na lembrança os bons tempos dos festivais de música, em Caratinga e até em outras cidades, dos quais participei como cantor, tocador de violão (músico, nem tanto!) e compositor.
Dos vários momentos da sua carreira, o senhor se recorda de algum em especial?
Foi como repórter de rádio e de jornal que enfrentei as mais impactantes situações. Já entrevistei artistas e políticos famosos, já cobri casos policiais de grande repercussão. Mas, com sinceridade, o que mais guardo na memória foram as reportagens nas quais pude ajudar alguém que precisava. Lembro-me de um bebê, certa vez, de família muito pobre da cidade, que nasceu com o pezinho virado. A mãe da menina me procurou e eu fiz a reportagem sobre o caso. Insisti no assunto, até que um médico apareceu para operá-la de graça. A cirurgia foi um sucesso e a mãe, até hoje, me agradece. Isso foi há mais de trinta anos. Mais ou menos por essa época, também, uma linda adolescente fez um apelo por um olho de vidro, pois seu olho natural havia se perdido por causa de uma doença. Um clube de serviço da cidade se sensibilizou com a reportagem, e o olho de vidro foi conseguido. Houve também o caso da mãe que perdeu um filho por espancamento. A mulher, de poucos recursos, sempre me pedia ajuda para que fosse feita justiça no caso. Como repórter, não sosseguei enquanto a polícia não pôs as mãos nos assassinos. Os episódios mais simples são dos quais mais me recordo.
Como é ser referência no jornalismo caratinguense?
Se é que sou referência, credito isso ao fato de ter procurado, durante toda a minha carreira, ser o mais honesto possível em minhas ações profissionais, sempre tratando as pessoas com respeito, mas nunca deixando de falar e de defender a verdade. Isso de ser referência, também, talvez tenha a ver com o tempo de serviço: afinal, após 40 anos de atuação na área de comunicação me reconheço domo um dos “dinossauros” desse meio em Caratinga. Fazer o quê, não é?