* Melissa Araújo Ulhôa Quintão
O ser humano realiza seus períodos de atividades durante a luz do dia e repousa a noite. Somos, portanto, como pardais e não corujas. Essa manifestação do sono no período da noite e vigília diurna é consequência do nosso relógio biológico. Algumas pessoas tem preferência em realizar atividades no período da manhã, e são chamadas de matutinas. Enquanto, outras pessoas preferem realizar os afazeres no final do dia, são chamados vespertinos. Portanto, os seres humanos apresentam melhor desempenho motor e cognitivo no período da vigília, que coincide com o período de luz do dia, decorrente do movimento geofísico de rotação da Terra em torno do sol.
Observamos que durante os jogos olímpicos em Julho, no Rio de Janeiro, alguns torneios aconteceram muito tarde da noite, como na Natação, por exemplo. A competição começava 22 horas. Em outras palavras, o evento acorreu no momento em que o desempenho dos atletas brasileiros estaria em uma fase do ritmo circadiano que prepara o organismo para relaxar e adormecer, ao invés de preparar para competir. Na hora que os atletas deveriam se vestir para dormir, eles vestiram sungas e maiôs. Sabendo da competição noturna, fisiologistas da Universidade Federal de São Paulo, atrasaram o relógio biológico dos atletas com uso de óculos que emite luz com comprimento de onda apropriado para inibir o sono. A luz inibi a liberação de melatonina, um hormônio que é liberado sob controle do relógio biológico. Assim, os atletas tiveram um atraso no ciclo sono-vigília, adormecendo e acordando mais tarde. Dessa forma, por volta das 22 horas, os atletas estimulados pela luz, ainda estavam ligados na competição e iam dormir depois da meia noite.
Os ritmos biológicos devem estar sincronizados com o ambiente para que o desempenho motor e cognitivo esteja em seu melhor desempenho. Quando há uma dessincronização, ocorre uma perda na qualidade de vida, prejuízos na saúde e no sono, por exemplo. Essa dessincronização dos ritmos biológicos acontece com quem faz viagens internacionais para diferentes meridianos. Por exemplo, um brasileiro que sai do País e chega ao Japão, terá uma diferença de 12 horas no fuso horário. Então, se ele chega de viagem as 12 horas no relógio brasileiro e no próprio relógio biológico, seria meia noite no Japão. Portanto, essa diferença na sincronia entre ritmos do organismo e a hora do Japão, gera o jet lag ou dessincronização social.
Agora, imagine aquelas pessoas que “precisam ir” ao Japão todos os dias e voltam! Refiro-me aos trabalhadores em turnos que chegam ao trabalho 20 horas e saem 8 da manhã. Como dormir bem, em meio às mudanças de ritmos biológicos? A resposta está no uso de luz em determinados momentos do dia, suplemento de melatonina, evitar a luz próximo ao horário de dormir, praticar exercício físico e cuidados com a alimentação. Essas dicas auxiliam o trabalhador a tolerar o trabalho em turno. Portanto, para sincronizar os ritmos biológicos desejo-lhe muita luz em seu caminho!
* Melissa Araújo Ulhôa Quintão
Doutora em Ciências (USP) e Mestre em Fisiologia (UFES). Docente dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Medicina do Centro Universitário de Caratinga – UNEC.
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