INHAPIM – A não ser que uma ordem judicial mude a situação, às 6h de amanhã, 36 pessoas, entre adultos e crianças, terão que deixar as terras do Patronato, situadas às margens da BR-116. A invasão das terras, consideradas improdutivas pelo Movimento dos Sem-Teto de Inhapim (MSTI), aconteceu em setembro de 2013. A direção do Patronato pediu em outras ocasiões a reintegração do terreno, mas tiveram os pedidos negados, desta vez o juiz da vara agrária de Minas Gerais, Otávio Almeida Neves, determinou a desocupação da área.
Na tarde de ontem representantes das polícias Militar, Federal e de um grupo de missões especiais de Ipatinga, também da PM; estiveram em uma reunião na Câmara Municipal de Inhapim com o líder do MSTI, Afonso Cláudio Vieira; o advogado do Patronato, a promotora de justiça de Caratinga, Vanessa Andrade; oficiais de justiça e o diretor de Cidadania no Campo da Secretaria de Agricultura do Estado, Aldenir Viana Pereira, além de outros envolvidos no assunto para planejar uma saída pacífica das terras.
O major Sérgio Renato, que conduziu a reunião, explicou que no local existem 74 imóveis, sendo 14 ocupados e ressaltou que o trabalho da PM é de apoio ao judiciário. “O principal objetivo desta reunião é dar oportunidade das pessoas se retirarem pacificamente, não queremos conflito”, afirmou.
O oficial da PM informou ainda que toda estrutura para a retirada dos imóveis deverá ser dada pelo Patronato.
O líder do MSTI disse que o objetivo ao fazer a desapropriação é fornecer o local para empresas com grande poder aquisitivo construírem galpões. Afonso se emocionou ao dizer que famílias carentes ficarão sem lugar para morar.
Representantes da Prefeitura de Inhapim disseram que as crianças deverão ser levadas para abrigos, enquanto os idosos para asilos e os adultos para os locais de onde vieram, o que causou grande revolta nos membros do MSTI.
O diretor de Cidadania no Campo, Aldenir Viana, explicou que os integrantes do Movimento agiram errado ao ocupar as terras sem comunicar ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas foi enfático ao dizer que o juiz da vara agrária “virou as costas” para essas questões e pediu uma prazo maior para desapropriação, o que segundo o major Sérgio Renato, não pode ser dado, pois foi estabelecido pela justiça.
O DESESPERO DAS FAMÍLIAS
As famílias do assentamento não participaram da reunião, mas fizeram reivindicações do lado de foram da Câmara. Osmarina Pereira dos Santos, 33 anos, tem quatro filhos e um deles é especial. Ela já tem sua residência no assentamento e não tem para onde ir. “Parcelei R$ 5 mil para construir minha casa. Meu marido é doente e tenho um filho de 11 anos que precisa de cuidados especiais. Não tenho condições de pagar aluguel e se nos tirarem dessas terras, não temos para onde ir”, queixou-se.
Vilma Aparecida de Frias, 29, mãe de dois filhos vive o mesmo drama de Omarina. “Não tenho como pagar aluguel, vivo do Bolsa-Família. Toda noite meus filhos me chamam para orar e pedir a Deus que não nos tirem de nossa casa”, relatou a mulher.
A intenção dos integrantes do Movimento é ficar no local até o último instante, na esperança que a justiça não faça a desapropriação.