Abertura da exposição acontecerá no sábado (9), no coreto da Praça Cesário Alvim
CARATINGA– Foi durante uma visita à exposição “Abra seus Olhos”, do Movimento SP Invisível, que Flávia Alves despertou o interesse em dar visibilidade à população em situação de rua de Caratinga. Assim, nasceu o projeto de Mostra Fotográfica em Caratinga, com imagens reais produzidas de forma sensível e empática dessas pessoas e relatos biográficos de cada um. A abertura acontecerá no sábado (9), às 10h, no coreto da Praça Cesário Alvim.
O projeto é realizado pelas voluntárias Flávia Alves, Cinthia Silveira e Adriana Miranda, contando ainda com algumas parcerias, dentre elas os movimentos sociais Caratinga Invisível, Cozinha Solidária e Cantina Áurea (mantida pelo Centro Espírita Dias da Cruz), Grupo Amigos dos Antigos e a Secretaria de Assistência Social. Em entrevista reportagem, elas relataram como foi a realização do trabalho.
Conforme Flávia, a exposição se apresenta a partir de uma ótica mais intimista. “Fiz uma visita a uma exposição chamada ‘Abra seus Olhos’ em São Paulo. Muito linda, sensível, saí de lá muito tocada, em ver as histórias de vida das pessoas em situação de rua, o rosto delas retratados com tanta dignidade, mostrando um olhar que se identifica com o nosso, se aproxima com a gente. Voltei com essa ideia na cabeça e comecei a conversar com algumas pessoas, pensando se podíamos fazer uma exposição desse jeito em Caratinga, com a nossa carinha. As pessoas gostaram da ideia, começamos a trabalhar para fazer essa mostra funcionar. Trabalhamos intensamente um mês e meio e, graças a Deus, está tudo pronto”.
Para Flávia, a escuta ativa desses indivíduos proporciona a estas pessoas o sentimento de pertencimento, para que elas se percebam como cidadãos de direito, dignos e inseridos na nossa sociedade. “Eu já participava de um movimento chamado Cozinha Solidária, que faz entrega de marmitas para a população em situação de rua. Então, eu já conhecia um pouquinho daquelas pessoas, onde elas ficavam, algumas são muito falantes e eu também. Fomos conversando e nos conhecendo um pouquinho. Quando tivemos a ideia de colocar esse projeto em prática, eu já tinha em mente as pessoas com as quais eu ia conversar. Foi bater um papo, explicar o que a gente queria, procuramos a prefeitura que nos abriu as portas do abrigo que estava funcionando naquele momento e conhecemos pessoas maravilhosas. Foi uma experiência muito bacana, muito marcante mesmo”.
Ela destaca que a população em situação de rua é carente de atenção e quando os voluntários deram início às conversas foi como se abrissem as portas para um mundo novo. “Eles aceitam, recebem muito bem. É claro que gente é gente de todo jeito, em todo lugar. Mas, a maioria gosta de conversar, contar; depois que eles percebem que temos o interesse real neles, se abrem com muita facilidade e conseguimos coletar muitas histórias incríveis, de pessoas fantásticas. Depois desse tempo todo conversando, sinto que quando a gente chega, muitos já nos recebem como amigos”.
A exposição será itinerante. A abertura na Praça contará com participações especiais. “A Aplauso Escola de Dança vai apresentar vários números para que as pessoas que passem na Praça, vejam a exposição e, principalmente, para que nossos meninos, como costumo chamá-los, tenham acesso a espetáculos que normalmente eles não têm. Convidamos uma pessoa em situação de rua que é muito talentosa, multi-instrumentista, para tocar para a gente também, estamos com muita expectativa. E, a partir daí, as pessoas podem entrar, visitar a exposição que ficará no coreto por 15 dias.”
De lá, a exposição seguirá para a Praça da Estação em um sábado e, em seguida, circular por outros lugares. “Vai para algumas igrejas, faculdades, locais de grande circulação, inclusive da população em situação de rua. É muito importante que eles se vejam de um ponto de vista diferente, que sejam vistos também por outras pessoas de um ponto de vista diferente”.
Na Mostra, estarão disponíveis uma foto com um trecho retirado dos relatos de cada biografado. Haverá ainda um QR CODE, onde os interessados poderão acessar o relato na íntegra. “De acordo com o desejo deles do que contar, o que não contar, como contar. Respeitamos muito a maneira de cada um contar a sua história. Inclusive todas as histórias, depois de escritas, foram levadas para que o biografado pudesse ouvir e fazer suas intervenções, se não gostaram de algo ou queria retirar algo. Mas, eles responderam muito bem a essas intervenções que fizemos e ficaram todas muito felizes em ver e ouvir as histórias delas”.
Flávia acredita que a intenção do projeto é também desestabilizar os estereótipos normalmente vinculados à população de rua. “As pessoas em situação de rua são muito diversas, mas, temos realmente pessoas fantásticas, do bem, disciplinadas, inteligentes, instruídas. Precisamos que eles sejam vistos de acordo com o que eles são, não como as pessoas imaginam que eles sejam. Não são bêbados, drogados e pessoas com problemas mentais, tem gente assim também, mas, não é a maioria. Tem gente muito boa que precisa de uma chance de ser vista e ouvida. E é isso que queremos mostrar para as pessoas”.
A projeção do “outro” através de sua história de vida aproxima ao mostrar similaridades entre o público expectador e os indivíduos apresentados a ele, desmitificando as minorias e criando espaço para uma sociedade mais integrada e justa, como afirma Cinthia. “Está sendo muito gratificante, trabalhar com as pessoas em situação de rua, abrindo um leque de visões muito grande, uma quebra de estereótipos, proporcionando um crescimento pessoal. São relatos muito fortes e em muitas coisas nos assemelhamos com a história deles, percebemos que eles são gente como a gente, numa situação diferente, mas, já tiveram uma vida muito comum à nossa em vários momentos”.
Adriana frisa que outra questão é integrar os movimentos que já atendem a população em situação de rua, visando fortificar as ações já empreendidas. “É realmente olhar de uma forma diferente para pessoas que que já são muito estigmatizadas. Quando da formulação desse projeto, um dos grandes objetivos foi trazer a empatia da população caratinguense por essas pessoas em situação de rua. Mas, além disso, a possibilidade das associações e das pessoas que já trabalham com esse público, que já ofertam seja comida ou roupas, que posamos unir para fazer a distribuição dessa atenção de forma mais organizada. Então, o projeto convocou algumas dessas instituições para trabalhar junto e terminando a mostra fotográfica, pretende-se permanecer com essa união”.