![Reserva surgiu do ideal de Feliciano Miguel Abdala, que desde 1976 vinha usando sua fazenda como laboratório natural para a preservação de espécies](https://www.diariodecaratinga.com.br/wp-content/uploads/2015/03/321-300x205.jpg)
Reserva surgiu do ideal de Feliciano Miguel Abdala, que desde 1976 vinha usando sua fazenda como laboratório natural para a preservação de espécies
No dia 1º de junho de 2000, morria aos 92 anos, de insuficiência cardíaca Feliciano Miguel Abdalla. Natural do distrito de Sapucadia e pai de sete filhos, ele deixou como legado a Estação Biológica de Caratinga, na Fazenda Montes Claros, no distrito de Santo Antônio do Manhuaçu, onde morou até os 54 anos. A partir daí, com a saúde já fragilizada, precisou se mudar para Caratinga.
Importante patrimônio ecológico, a Estação Biológica de Caratinga e a Fazenda Montes Claros seriam transformadas, em 2001 pelo Ibamam em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, uma justa homenagem a quem, durante varias décadas, foi questionado por seus vizinhos – eles diziam que o uso da fazenda para a pesquisa científica e a proteção de espécies nada mais era do que um desperdício de terra boa para o cultivo.
Com área total de 957 hectares e a 391 km de Belo Horizonte, a região é hoje um dos últimos refúgios do macaco muriqui ou mono-carvoeiro (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas. Em razão da caça indiscriminada, a espécie estava reduzida a aproximadamente 10 indivíduos na floresta da fazenda, mas, graças a Abdala e às pesquisas realizadas em suas terras, a população de muriquis foi estabilizada – o número de mortes já não ultrapassa o de nascimentos – e conta com 150 animais, ou seja, 50% da população total da espécie.
Nos últimos 25 anos, a mata da fazenda transformou-se em uma das áreas mais bem estudadas do Brasil. A parceria entre a Fundação Biodiversitas e a Associação Pró-Estação Biológica de Caratinga rendeu mais de 50 estudos e projetos que trouxeram conhecimento sobre a Mata Atlântica e a ecologia de primatas ameaçados de extinção. Entre essas pesquisas, uma das mais importantes trata do comportamento do muriqui e é coordenada pela bióloga Karen Strier, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Além do muriqui, vivem na RPPN outros três importantes primatas: o sagüi-da-serra ou sagüi-taquara (Callithrix flaviceps), considerado um dos mais ameaçados dessa família; o barbado ou bugio (Alouatta guariba), que está em situação vulnerável; e em maior abundância, o macaco-prego (Cebus nigritus).
A variedade da fauna local inclui 217 espécies de aves, 77 de mamíferos e 30 de anfíbios. A flora é igualmente rica e a mata está cheia de jacarandás, ipês, embaúbas, jequitibás, sapucaias e palmeiras, além de bromélias, uma particularidade desse bioma.