Audiência na Câmara de Caratinga discute hoje possível impacto das obras de canalização da Copasa
CARATINGA – Após as inundações registradas nas proximidades dos córregos São João e Santa Cruz, no início deste ano, começaram-se os questionamentos em relação à influência das obras de canalização da Copasa nestes transbordamentos.
Em todas as residências que a Reportagem visitou no dia seguinte à chuva, os moradores destacaram que os danos sofridos estavam diretamente ligados às obras nos córregos São João, Santa Cruz e Sales. Eles acreditam que alguns erros técnicos fizeram com que houvesse alagamentos em trechos com maior estrangulamento do rio.
PREJUÍZOS
A Reportagem esteve na tarde de ontem nos locais atingidos pelas chuvas de janeiro. Na Vila Paulo Afonso, uma das moradoras perdeu tudo e acabou se mudando para outra residência. Na Vila Pentecostal, Levi Rosa de Oliveira lamenta os transtornos sofridos. Ele mora no local há 18 anos. “Depois que fez essa obra na rede piorou, fechou o rio. A minha sorte é que tenho uma válvula na minha casa, senão teria sido muito pior. A água volta toda e aqui é só uma rede. A Copasa só veio desentupir a rede, depois daquela chuva, não nos procurou para saber de nada”.
Os comerciantes do Bairro Santa Cruz também contabilizam os prejuízos com a chuva de fevereiro. Isabel Cristina Mendes, que tem uma loja de roupas há 10 anos, afirma que ainda não tinha enfrentado período tão difícil. “O prejuízo foi grande. Muita roupa perdeu. Desse jeito ainda não tinha acontecido, entrou muita água, até nos fundos. Como estava com muitas mercadorias que molharam, pra não ficar completamente no prejuízo, vendi algumas por preços incompatíveis com os quais eu adquiro estas peças de fora”.
Questionada se foi procurada por órgão no sentido de apurar os prejuízos sofridos, Isabel afirma que a única visita que recebeu foi de uma assistente social da Prefeitura, que lhe ofereceu cesta básica.
Em um açougue, na mesma rua, Rogério José afirma que teve que arcar com os prejuízos sofridos. “Entrou muita água. Carvão, saco de ração, papel de assar frango, tudo foi embora. O banheiro entupiu, tive que gastar para resolver o problema. O motor da máquina de frango queimou, minha fiação toda parou de funcionar, ou seja, mais gastos”.
Rogério afirma que ao longo dos quatro anos que tem o estabelecimento, não se lembra de problemas semelhantes com a chuva. “Já tinha um tempo que isso não acontecia e com essas obras, a água não suportou. Ninguém procurou saber dos nossos prejuízos”.
COPASA
A Copasa informou quando ocorreram as inundações, que a obra de ampliação do sistema de esgotamento sanitário de Caratinga foi dimensionada para atender às condições adequadas de escoamento das águas pluviais e com potencial necessário para evitar inundações. Porém, interferências com edificações, galerias e pontes existentes, podem comprometer o escoamento da vazão, causando represamento e eventuais inundações.
A empresa ainda afirmou que o projeto de engenharia da obra foi elaborado com base em avaliações técnicas, econômicas, normas específicas e bibliografia pertinente. No entanto, as galerias, bueiros e pontes não são dotados da mesma capacidade de escoamento de água, por se tratarem de estruturas antigas que merecem adequações e/ou substituição.
A Copasa reforça que orientou o município a viabilizar as adequações e/ou substituições necessárias das edificações situadas nos córregos São João, Sales e Santa Cruz, no intuito de minimizar os impactos de eventuais enchentes. Mas, mesmo após o projeto e obra de canalização, construções avançaram às margens dos córregos, juntamente com o lançamento de lixo e entulho nos canais.
Mesmo com os esclarecimentos, as pessoas que tiveram prejuízos ainda buscam de quem são as responsabilidades e o que será feito para evitar que ocorram novas inundações. Eles esperam estas respostas na audiência de hoje.