João B. Alves dos Reis
A Ciência não pode ser cômica, não é um stand-up, ela é um artefato, ou um empreendimento coletivo, capaz de organizar o conhecimento do mundo e intervir sobre ele, não é inocente, apesar disso, é oposição aos nefastos e pseudos (fakes) ideais políticos autoritários. Tornou-se uma poderosíssima força unificadora da história do mundo, citando Paolo Rossi em A ciência e a filosofia dos modernos (2001, p. 22). Em momentos passados, escrevi textos no projeto Além da Palavra proseando alguns temas densos, preciosos e necessários. Tornaram-se indispensáveis. Então, conhecê-los, ou melhor, divulgá-los é preciso.
Assim pensei. Mas, como todo penso é torto…apesar do trocadilho insano, retifico a pressa da informação dos causos, com rigor científico apesar das imprecisões, ou melhor, das incertezas que vagueiam sobre elas, propagam-se cada vez mais através da insensatez perpétua minando e desvalorizando a arte, a ciência, enfim a cultura brasileira. Miremos na fragilidade e no desleixo inerentes ao fato anunciado da recém destruição do Museu Nacional, leia-se Imperial (seria o desejo de esquecer e findar com essa herança do passado?) e não o do Amanhã – que, ainda, encontra-se extremamente respaldado em segurança (quem vai saber?). Concluindo essa introdução, cheia de explicações e pesares, gostaria – como dizem os portugueses – de salientar que essa inação generalizada de pouco caso, ou nenhum, envereda ainda mais e rapidamente no coletivo nacional, resolvida com um filete de lágrima e um abraço solidário, destino, desígnios, devido à crise etc. Palavras, palavras, palavras…
Ora bem, é urgente inserir novas perspectivas, revitalizar novas concepções, realmente inovadoras. É sobre essa óptica, que incito e explano acerca das características e da carência nacional da divulgação e consequente popularização do funcionamento dos sistemas culturais, ambientais, científicos e tecnológicos, na vigência de um contexto atual, objetivando minimizar eventos impactantes negativos. Faz-se necessário, e digo, não se tratar de receita ou passo, mas de reflexões diferenciadas sobre os sistemas [os dicionários afirmam ser um conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente organizados] que prevalecem e para nós se apresentam alternando entre o caos e a ordem no cotidiano. Refiro-me ao desenvolvimento em consonância aos sistemas dinâmicos não-lineares, aspectos que povoam o coletivo científico no dia a dia, principalmente, das composições das organizações e sistemas caóticos que se espalham sobre o planeta, interligados às incertezas comportamentais das culturas científico-técnica e artística. Assim, penso serem dependentes de um viés (nesse caso, trata-se de um conceito estatístico sistemáticos em relação à média) abaixo das expectativas, avaliado ausente de acurácia (exaustivo exercício pela busca de melhores aferições do erro – ou melhor, quando o valor médio por calibração e ajustes dos equipamentos, obtém-se uma medida mais próxima do valor correto possível) principalmente, no trato das intensões “omitem”, nesse caso, a margem do erro real. Para iludir ou fantasiar o evento?
Reporto-me, finalmente, à questão do acesso e conhecimento do erro positivo, comum, normal e patológico (CANGUILHEM,2002) ao erro útil. Reforço tal alusão generalizada a Gaston Bachelard na obra A formação do espírito científico, quando ele aborda as questões das certezas gerais e particulares, enfatizando ser necessário determinar as abstrações cada vez mais apuradas, eliminando erros cada vez mais capciosos.
Tudo isso não pode ser solucionado apenas pelos pressupostos das perspectivas de modelos pansemióticos [Vide Winfried Nöth, Ecosemiotics, in Signs Sytems Studies, 1998], no universo das inter-relações dos humanos e seu ambiente natural pela magia, pelo mito, pelo místico, pelo mecânico, muito menos pelo organicista. Novas perspectivas, modelos e sistemas impõem à ciência e à sociedade contemporânea diligências aos métodos ou até a negação deles, como apregoa Paul Feyerabend, em Anarquismo Metodológico, na Revista Thema. Retornando às referências ao ajuste dos erros que se aproximam do valor médio mais próximo do valor correto, tratam-se de arranjos dos conjuntos numéricos, teoremas e algoritmos artificiais e suas inter-relações. Exemplifico dizendo que não se pode discutir substancialmente e adequadamente de forma objetiva, prática e assertiva sobre inteligência artificial ou neurociência, dosagem de drogas, avaliação sistêmica espacial ignorando saberes relativos às ferramentas numéricas computacionais, ações computacionais de bases mais usadas: binária (b)2, octogonal (b)8 e hexadecimal (b)16 etc.
Ainda, adentrando no contexto denso para finalizar o tema, reportamo-nos aos idos de 1988, em que Vilém Flusser em Caos e Ordem: Reflexão Pós-Moderna (Boletim da SBHC), no contexto, cita que todo ato racional esconde conflitos psíquicos desordenados, os quais escondem determinada ordem que rege a psique. Ou seja, isso significa que tanto o mundo objetivo quanto o subjetivo são estruturas em níveis ora ordenados ora desordenados. Melhor explicação, o caos é ordem ainda não descoberta, e ordem é caos ainda não descoberto, ou melhor, exemplificando através do movimento aparentemente caótico de flocos de neve caindo, escondem movimentos de ordem, pela observância da lei da gravitação. São metodologias de sistemas dinâmicos não-lineares condicentes com técnicas numéricas mais avançadas.
João B. Alves dos Reis – Físico, Doutor e Mestre em História da Ciência – PUC/SP. Pesquisador em Filosofia, Epistemologia e História da Ciência, Especialista em Meio Ambiente e Gerenciamento de Recursos Naturais FAFIC/UFMG. Professor do Ensino Superior – Engenharia – UNEC/Caratinga-MG.