Após se envolver em acidente e ter dupla fratura na perna direita, caratinguense afirma que foi orientado sobre a necessidade de cirurgia, mas não consegue ter acesso ao prontuário médico para tomar providências
CARATINGA– O motoboy Elias Francisco Pereira tem passado por um verdadeiro martírio desde a segunda-feira (12), quando se envolveu em um acidente no Bairro Zacarias. Impossibilitado de trabalhar devido a uma fratura nos dois ossos da perna direita, ele aguarda uma providência para realização de cirurgia eletiva, mas sequer teve acesso ao raio-x realizado durante seu atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ao prontuário médico. Para piorar a situação, alega que não recebeu assistência do condutor do outro veículo.
O DIÁRIO DE CARATINGA esteve na residência de Elias, na Rua Militar, Bairro Santo Antônio. Logo na entrada já é possível perceber a dimensão dos transtornos enfrentados pelo motoboy. São dois lances de escada que tem lhe impedido de sair de casa. Sentado em um sofá – onde tem passado maior parte do tempo devido às dificuldades de locomoção, ele conversou com a reportagem.
O ACIDENTE
“Estava indo sentido Bairro das Graças fazer uma entrega, o Uno atravessou na minha frente, me fechou fazendo manobra irregular, pegou na lateral, bateu e simplesmente evadiu. Não parou para prestar socorro nem nada”, lembra.
Socorrido pelos bombeiros, ele foi encaminhado para a UPA, onde recebeu os primeiros procedimentos, como enfaixamento da perna e realização de um raio-x. No entanto, teria sido informado pelo médico que precisará realizar uma cirurgia eletiva. “Depois não pude fazer mais nada. Dormi lá de um dia para o outro, me deram alta, falaram que o que tinha para ser feito já havia sido feito, que agora só com cirurgia. Não me deram encaminhamento nenhum, nem me cadastraram no SUS-Fácil para me ajudar. Disseram que se eu quisesse fazer rápido era só particular, por R$ 12 mil, mas não tenho dinheiro. Fazer o que? Estou só em casa esperando alguma coisa acontecer, mas está difícil”.
Sem condições de retornar ao trabalho, as despesas de casa têm preocupado Elias. “Estou de mãos atadas, não sei como faço. Só eu trabalho, tenho três crianças; minha sogra é acamada, se alimenta pela sonda, a latinha de vitamina dela gasta umas três por semana e é R$ 70 cada uma. Estou desesperado, tem poucos dias que voltei para cá, estava morando em outro lugar. A minha família está precisando de tudo e não tenho condições de fazer nada”.
Ele ainda afirma que não conseguiu diálogo com o condutor do outro veículo que se envolveu no acidente, que acredita ter provocado a colisão. “Identificamos a pessoa que conduzia o carro, tentamos contato com ela, mas está correndo, não quer arcar com a despesa e nem conversar com a gente na verdade. A Polícia Rodoviária esteve no local sinalizando o trânsito, mas acho que não fizeram boletim de ocorrência, pois não me foi passado nada”.
Com fortes dores e temendo pela demora na tomada de providências, Elias lamenta. “Quebrei os dois ossos e se eu levantar a perna ela dobra no meio. Para fazer minhas necessidades tenho que ‘agarrar’ no pescoço da minha esposa. Minha perna já está em processo de cicatrização e quanto mais o tempo passa é pior. Se cicatrizar ele vai ter que fraturar de novo para colocar no lugar”.
DIFICULDADES
Elizângela da Silva Martins, relata que a família tem enfrentado dificuldades na busca por um diagnóstico mais preciso da fratura sofrida por seu esposo. “Está muito difícil. Só deram alta sem encaminhamento, papel nenhum. Já tentei conseguir a ficha do atendimento, mas não liberam. Falam que tem que voltar depois. Porque para levar para outro médico, ele precisa saber o que aconteceu, de um encaminhamento. Já liguei várias vezes para a UPA para tentar conseguir o raio-x, eles transferiam para vários, enrolavam, desligavam o telefone. Depois falaram que era para alguém ir até lá pegar, chegando lá disseram que não libera. Pelo menos com o raio x na mão a gente tentava para outro médico saber o que tem que fazer. Para fazer raio x particular agora está difícil e até mesmo por locomoção. Ele não pode se mexer, porque não está bem imobilizado, só uma tala atrás e uma faixa enrolada. Até para ele movimentar no sofá você escuta o osso estalando, mexendo. Ele acorda à noite com dor, hoje mesmo teve febre. Está tendo muito mal estar, uma médica falou comigo que é a reação do corpo, porque está cicatrizando e como o osso não está no lugar, ele vai sentir”.
Com tantas dúvidas e sem orientação sobre o que fazer, eles têm recorrido a políticos e pessoas conhecidas, na busca por solucionar a questão. “Estão algumas pessoas tentando ajudar a gente, mas está difícil. Estamos correndo atrás de vereadores e até médicos de fora daqui, mas sem encaminhamento não consegue nada. Sem respostas, não tem como os médicos saberem o que aconteceu e como proceder”.