O século XXI foi responsável pelo avanço assombroso das comunicações. E nesse sentido, as mídias sociais são hoje as principais plataformas para esse fim. Contudo, a instantaneidade das informações revelou uma característica forte do ser humano contemporâneo: a necessidade, quase que doentia, da aprovação social.
Analogamente, a necessidade da aprovação social retira a percepção do mundo em nossa volta, nos fixando dentro dos ambientes digitais, onde vivemos uma espécie de caverna platônica. Segundo Platão, célebre filósofo grego da antiguidade, o ser humano vive preso dentro de uma caverna (mundo material), onde, devido a ignorância natural do ser, vivemos uma projeção da realidade (mundo inteligível).
Dessa maneira, associando as mídias sociais às ideias de Platão, é possível perceber que os seres humanos contemporâneos vivem presos dentro desses ambientes, criando uma projeção da realidade. Nessa caverna digital, o ser humano molda o seu próprio mundo de acordo à sua vontade, criando um sonho finito.
Sendo assim, é comum, cada vez mais, que as pessoas passem mais tempo se dedicando aos numerosos compromissos em grupos do WhatsApp, do Facebook, e preparando selfies para o instagram, tudo isso em troca do like, que talvez seja o objeto de maior desejo dessa geração. Receber um like é como receber uma resposta positiva ao seu conteúdo narcisista, aprovando o ser humano que você é.
A necessidade diária da aprovação gera um grande paradoxo nas comunicações: ao mesmo tempo que escalamos as relações sociais, sem barreiras, com várias pessoas, em todos os lugares, essas relações se tornam cada vez mais rasas e sem intensidade, o que Zygmunt Bauman, importante sociólogo polonês falecido em 2017, conceituava como Modernidade Líquida.
Sair da caverna não é tão fácil. Para Platão, isso só possível após o ser humano assumir sua ignorância, uma clara continuidade da corrente filosófica socrática: “só sei que nada sei”. E convenhamos, assumir nossa ignorância, sobretudo em tempos de ativismo nas redes sociais, não é algo muito simples.
Paulo Bonfá
Produtor Cultural
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