Não existe mais distância. Os meios de comunicação nos informam a cada minuto sobre tudo o que ocorre no mundo. A velocidade da internet nos conecta aos continentes em questão de segundos. Tecnologia de ponta, precisão em tempo real. Viajamos em nossos pensamentos, ultrapassamos barreiras, montes, vales, oceanos em busca do inimaginável. Sedentos de conhecimento, nos entregamos de corpo e alma de forma alienada e permissiva. Conectamo-nos ao mundo virtual. De forma surreal, imaginária e fútil avançamos à procura de novos horizontes distantes.
Desligamos de nós mesmos e entramos de cabeça numa louca e insana rotina. Esquecemo-nos de um bom dia, de um abraço, de um aperto de mão, de um beijo, das refeições em família, dos filhos, dos cônjuges, do trabalho, de nossos amigos, do nosso cachorro de estimação, de nossas plantas, de nossos atos e de nossa própria existência. Como robôs, somos acionados e de forma automática respondemos vorazmente através de nossos dedos, digitando freneticamente, tenazmente, alucinadamente sem trégua. Não sentimos mais nossa respiração. A mente atordoada não consegue processar esse frenesi e é como se flutuássemos feito balão, ao vento, sem destino, sem rumo, sem um objetivo.
Pobre humanidade. Repleta de zumbis, mentecaptos, homens do gelo, coração petrificado, sem amor, sem afeto, sem calor, sem noção, perdidos, vazios e carentes. A tecnologia roubou o bilhetinho apaixonado, o beijo no portão, o abraço apertado, juras de amor, olho no olho, o silêncio numa linda noite de luar, abraçados onde a ternura nos fazia sentir a felicidade de amar e ser amado. No silêncio da noite, iluminados pela lua, podíamos sentir o coração do outro bater forte. Quanto olhares, juras, cumplices de um momento mágico onde nada mais importava senão o calor humano.
Hoje o namoro é virtual. O sexo é casual, apenas ficamos e deixamos de ficar quando bem entendemos. Tem prazo de validade, cláusula de devolução como meros objetos do ego alheio. Casamo-nos por contrato, por procuração, por distração, por interesse, por vaidade, por infelicidade, pela rede de computadores, nos conectamos com o oriente e nem sequer somos presentes em nossa própria casa. Dizemos ‘eu te amo’ para alguém distante e não beijamos nossos filhos, ignoramos nossos pais, esquecemo-nos da caridade, do respeito ao próximo, matamos, deserdamos, abandonamos órfãos ao relento como se deixássemos uma sacola de lixo na rua. Ferimos, invejamos, enganamos, torturamos, desejamos o que não é nosso, nos degradamos. Assim como uma embarcação sem bússola ficamos à deriva e o vazio da alma nos machuca e maltrata ferindo-nos bem fundo. E diante de tantas amarguras nos resta pelo menos sonhar numa linda noite de sono que amanhã seremos felizes e que estaremos conectados apenas pelo coração através do verdadeiro amor que nos fortalece e nos faz acreditar que vale a pena amar.
Álvaro Celso Mendes
Graduando em Direito/FIC
Caratinga
Está crônica foi uma das vencedoras em concurso promovido pelo UNEC e irá constar no livro Além da Palavra a ser lançado no próximo ano