- Eugênio Maria Gomes
Há algum tempo, venho assimilando a ideia de que é possível viver melhor com menos. Não estou falando de passar dificuldades, nada disso, mas deixar de valorizar situações que não nos levam a nada, juntar coisas ou dar atenção demasiada a coisas de menor importância. Tenho conseguido. Há muito, parei de querer ter o “super carro”, nunca quis o celular “top dos tops”, deixei de colecionar os melhores relógios e canetas, deixei de ter inúmeros óculos para escolher um, passei a ter coisas mais duráveis e menos descartáveis.
Aliás, há muitos anos, tenho os mesmos móveis, reformo o mesmo sofá, deixei de entulhar minha casa com tudo o que via pela frente. Confesso, todavia, que em relação ao guarda-roupa ainda estou em processo de aprendizagem!
Outra questão que começo a trabalhar é com a superexposição da imagem. Não é uma tarefa fácil a ser cumprida, até porque, além de ser escritor, professor, palestrante, de ocupar um cargo importante na instituição em que trabalho, sou diretor de uma emissora e apresentador de programas de televisão, colunista de jornal, presidente de uma academia de letras e membro de ONG’s, clube de serviço, loja maçônica etc. Porém, resolvi navegar na onda de uma menor exposição da imagem. Também resolvi reduzir a quantidade de atividades…
Dirigi, em algum momento, todas as instituições das quais faço parte e, em cada uma delas, deixei projetos sustentáveis implantados e, sinceramente, até aqui, sempre achei que emprestava a elas a minha imagem, já consolidada por força do meu trabalho, da minha atuação literária e, claro, pela minha experiência de vida. Por isso, sempre fiz questão de registrar, no rodapé das minhas postagens, na minha biografia, no currículo, nas colunas dos jornais e nos livros as instituições às quais pertenço. É assim que acontece com vários outros irmãos, companheiros e amigos que ocupam algum cargo de destaque nas organizações.
Tenho dezenas de livros publicados, em várias editoras. A cada livro lançado, a cada projeto desenvolvido, o resultado é divulgado nas diversas mídias e não há como não ser citado ou chamado a me pronunciar a respeito. Além disso, os leitores me leem periodicamente no jornal e os telespectadores assistem a, no mínimo, três participações semanais em programas de televisão, sem falar nas matérias jornalísticas advindas das palestras que ministro e das ações costumeiras oriundas de minha atuação profissional. Mas, ainda assim, resolvi reduzir, paulatinamente, essa superexposição. Não por conta de conversinha fiada de invejosos e de gente que não tem o que fazer, até porque, numa cidade, como Caratinga, se você fizer alguma coisa os “sem serviço” comentam e, se você nada fizer, eles inventam.
Optei por uma tomada de atitude depois de pensar muito a respeito. Percebi que não faço questão alguma de ver minha imagem superexposta, mas me importo, sim, em divulgar ao máximo os projetos sociais, culturais e profissionais. Descobri, então, que é possível dar visibilidade aos projetos sem, necessariamente, aparecer.
Minha cabeça não para e, se não me policiar, crio um projeto ou invento alguma coisa todo dia. Acontece que, ao longo de todos esses anos, vez ou outra aparecem os comentários e os convites para participar politicamente da vida do município. É impressionante como não adianta dizer para as pessoas sobre meu desinteresse nisso. Muitos não acreditam e, alguns, continuam achando que desenvolvo projetos pensando em ganhos políticos. Talvez este seja, de fato, o ponto mais importante em reduzir a exposição da imagem. De fato, é possível continuar a trabalhar, a produzir, a ser solidário, sem, necessariamente ter que aparecer. Ademais, aos sessenta anos, já está na hora de começar um processo de reclusão, de descanso e de menos preocupações.
Na TV, já transferi a condução do quadro “Gestão em Ação” ao prof. José Carlos Moreira e, em breve, o prof. José Aylton de Mattos assumirá o “Crônicas do Cotidiano”. Quem sabe, daqui a pouco, apareça um entrevistador para o “Começo de Conversa”. Para mim, o mais importante, é que os programas continuem ativos. Até aqui já foram centenas de programas, desde que os implantei e sinto que são importantes fontes de informações sobre os diversos assuntos de que tratam.
No jornal DIÁRIO DE CARATINGA já passei a escrever quinzenalmente em lugar de publicar toda semana e já passei a mencionar, apenas, o meu nome e a minha condição de funcionário da Funec e escritor, algo que não pretendo abrir mão de ser, no momento. Até o fim do ano, completarei 500 textos publicados e, quem sabe, a partir de então, passe a publicar, apenas, esporadicamente.
Em relação aos livros, já são mais de quatro dezenas de obras autorais ou organizadas por mim. Também reduzirei o ritmo, passando a publicar os meus livros, apenas, uma vez por ano, sempre no mês de junho, tendo inclusive paralisado a série “Radiografias do Cotidiano”, em seu décimo volume. Quanto às obras coletivas, já transferi a organização do “Além da Palavra” para as professoras Paula Ribeiro e Cláudia Domiciano – colegas da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão do Unec – e, em relação ao livro “Obreiros do Conhecimento”, certamente conseguirei um valoroso irmão para coordenar a sua publicação. Obviamente, em todas as obras, estarei à disposição para auxiliar no que for preciso e, inclusive, participarei como autor. Apenas não serei o organizador das mesmas.
Como professor, acabei de pendurar as chuteiras. Foram ótimos os anos trabalhando como docente no Centro Universitário de Caratinga, onde tive a oportunidade de ministrar as disciplinas “Gestão de Pessoas” e “Marketing”, na graduação e na pós-graduação. Como resultado, quatro volumes da obra “Fragmentos de Marketing”, duas edições do livro autoral “Marketing Simplificado” e duas edições do “Compêndio de Administração”; dezenas de publicações em jornais, revistas e TVs por conta das visitas técnicas, dos cases em sala de aula e dos inúmeros seminários; centenas de orientações de TCCs e, claro, grande aprendizado, profícua troca de experiência e muita alegria ao ver centenas de bons profissionais atuando no mercado de trabalho, aplicando os conhecimentos básicos dessas disciplinas. Meus sinceros agradecimentos à Fundação Educacional de Caratinga, de maneira muito especial ao professor Antônio Fonseca da Silva -, que me permitiu o acesso à docência no ensino superior. Deixo a sala de aula feliz, com a boa sensação do dever cumprido.
Por último, têm ainda as redes sociais. Meu Instagram – administrado por minha filha Morena – será desativado em agosto próximo e, minha página no facebook já entrou em ritmo de compartilhar, apenas, questões profissionais relevantes. Aos poucos será migrada para a fanpage “Gestão em Ação” e para o site, ambos administrados pela sra. Fabrícia Valadares. Preciso deles para manutenção das postagens das minhas palestras e das obras literárias, as quais não podem ser terceirizadas.
Enfim, doravante, minha imagem estará menos exposta, e minha vida, muito mais tranquila. Essa mudança de estilo não é apenas uma resposta às poucas críticas maledicentes de pessoas que gastam seu tempo e energia, preocupadas com uma pretensa superexposição, ou com uma pretensa intenção voluntária de obter autopromoção ou autorreconhecimento. Até porque, esses corações amargurados se esquecem que uma pessoa pública e imensamente ativa, que vive cercada por mentes de todos os tipos – inclusive as preguiçosas -, inevitavelmente, vai aparecer…
Essa mudança de estilo é fruto de uma opção. É resultado de maturidade e de sabedoria. Significa que, doravante, nos anos que ainda tenho à frente, darei prioridade àquilo que merece ser prioritário. Àquilo que me dá alegria, paz, prazer, harmonia e tranquilidade. Isto significa livrar-me de coisas, tarefas, compromissos, informações e pessoas que consomem hoje, uma parte enorme do meu tempo e de minha energia, e passar e me dedicar intensa e profundamente, apenas àquilo que verdadeiramente importa na minha vida.
“A vida é uma aprendizagem diária. Afasto-me do caos e sigo um simples pensamento: quanto mais simples, melhor!”. (José Saramago)
- Eugênio Maria Gomes é funcionário da Funec e escritor.