* Cláudia Cardoso da Cruz Gomes
Observe o seguinte aviso: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado no andar.” O aviso está gramaticalmente correto?
Uma lei municipal da cidade de São Paulo, criada há alguns anos, obrigava os síndicos de todos os prédios que tinham elevador a colocarem esse aviso ao lado da porta do elevador. O aviso causou riso, virou motivo de piada na internet e até uma comunidade em uma rede social foi criada, intitulada “eu tenho medo do mesmo”. Alguns sabiam do que riam outros nem tanto, mas riam assim mesmo.
No ano seguinte a Comvest – Comissão de Vestibular da UNICAMP, em uma questão de seu vestibular, usou essa comunidade da rede social “Eu tenho medo do mesmo” considerando a palavra “mesmo” como pessoa, possibilitando o jogo de palavras “Mesmo, o maníaco dos elevadores”, usado pelos membros daquela comunidade, e solicitou aos candidatos que explicassem o jogo de palavras e também que reescrevessem o aviso de forma correta.
A resposta esperada era que o candidato compreendesse que a palavra “mesmo” havia sido usada de forma equivocada na função de substantivo, substituindo a palavra elevador. Desta forma, a palavra “mesmo” foi substantivada induzindo o leitor a considerar “mesmo” como pessoa. No que se refere à reescrita, o candidato tinha a opção de repetir a palavra elevador ou substituir pelo pronome ele ou este, ou seja: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se parado no andar.” ou “Antes de entrar no elevador, verifique se o elevador encontra-se parado no andar.” Conclusão: a palavra “mesmo” nunca pode substituir um pronome pessoal, no caso ele, ou um substantivo, no caso o elevador.
A Comvest percebeu que alguns candidatos compreendiam o sentido da brincadeira, mas não eram capazes de explicar de forma clara o porquê desta construção. Alguns na reescrita, novamente, colocavam a palavra “mesmo”.
Afinal qual a razão do uso recorrente da palavra “mesmo” substituindo um substantivo, ou um pronome pessoal? Segundo alguns linguistas isso se deve ao fato de que o falante, algumas vezes, evita repetir o substantivo ou tem insegurança em usar os pronomes pessoais, receoso em construir estruturas como “pedi ela” e optam por usar “pedi a mesma”, ou mesmo boca dela e optam pela boca da mesma, como nos exemplos a seguir:
“Luciana viajou e eu pedi a mesma para trazer para mim um notebook.” O correto, portanto é “Luciana viajou e pedi a ela para trazer para mim um notebook”. Ou “Luciana caiu e seu rosto chocou-se contra o solo. A boca da mesma ficou machucada.” O correto, portanto é: “Luciana caiu e seu rosto chocou-se contra o solo. A sua boca ficou machucada”.
Certo é que a palavra “mesmo” funciona, também, como um reforçativo: “Ela mesma recebeu seus convidados”. Ou “Eu mesma farei isso.”.
Portanto, ninguém precisa ter medo do “mesmo”!
*Cláudia Cardoso da Cruz Gomes é Coordenadora do curso de Letras e professora dos cursos de Letras e Pedagogia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC