CARATINGA – O prefeito Marco Antônio Ferraz Junqueira esteve no DIÁRIO DE CARATINGA e falou de suas obras antes de terminar o mandato, das conquistas como gestor do município. Abordou o setor de Saúde, revelou as frustrações com a política atual e com algumas coisas que deixaram de acontecer por conta da crise financeira que assola o país.
Acompanhe na entrevista tudo que Marco Antônio revelou sobre diversos assuntos, alguns deles bem polêmicos. A íntegra dessa entrevista pode ser assistida no site www.diariodecaratinga.com.br.
Está findando o seu mandato, e no sistema público o senhor está há mais de 20 anos. O que tem a dizer sobre as coisas boas que fez e as coisas que talvez não tenha conseguido executar?
Logo depois que me formei, vim para Caratinga trabalhar no Sindicato Rural. Saí e fiquei dois meses, fui fazer pós-graduação. Em 87 comecei a trabalhar no serviço público em Caratinga, depois em 93 entrei na parte da gestão na época do senhor Dário. Esse período todo de 30 anos, sete anos eu não estive na frente da gestão pública e digo que passei por todos os momentos: trabalhador, diretor de departamento, secretário, vice-prefeito e prefeito. Descobri que tudo é um momento que se passa na nação e no mundo, principalmente com a globalização. É difícil julgar um bom prefeito, depende do momento que ele pega. Se você pega o prefeito num momento de crise, tem uma avaliação, se no momento de crescimento, tem outra. Ontem fiz homenagem ao Carlos Côrtes, que foi um grande prefeito, trouxe a telefonia para Caratinga, foi o primeiro a trazer calçamento, teve espírito corporativista e ninguém se lembra. As pessoas lembram sempre dos homens públicos que já se foram como Doutor Eduardo, que teve uma morte trágica, do senhor Dário Grossi, José Assis… As pessoas homenagearam pelo momento trágico que passaram. A imagem do prefeito depende dos momentos que passam. Como acompanhei quatro prefeitos, todos eles, dentro ou fora do governo, avalio dos momentos financeiros que passaram. Na época do senhor Dário, 50% da população usava o sistema público, na época do Ernani, 65%, na minha época, 92%. É uma avaliação diferente para você ter. Financiamento bons em determinada época. As décadas de 80 e 90 foram ótimas para o sistema hospitalar, houve grande crescimento da medicina terciária. Hoje peguei o governo numa falência total, o que nos frustra é isso. Digo que a grande vantagem da vida pública é que tive a experiência de todos os degraus e tive a condição de amadurecer e compreender isso. A vida pública me traz um enriquecimento pessoal de compreensão às criticas, entendimento do ser humano e até meu autoentendimento. Você tem desgaste pessoal, exposição excessiva da imagem, calúnias, difamações, processos jurídicos justos e injustos, mas você expõe muito sua privacidade, sua saúde cai um pouco, você às vezes deixa seu negócio de lado, mas a riqueza que você tem no contribuir deixar seu nome na história de sua cidade, e nossa eternidade. Me frustra porque fiz muito menos do que sonhava, mas fiz mais que pude dentro da minha realidade. Sou um prefeito com a consciência tranquila, apesar de entender e as eleições demonstram isso, que a gente não perde política, a gente perde o pleito e de sete campanhas que participei, perdi duas. A gente analisa que é no momento de falta de recurso, que quem está no poder cai e quem está de fora cresce. Cresci minha campanha com o momento ruim da política do João Bosco e perdi no momento ruim da minha política. Então faço a conclusão que o enriquecimento pessoal é muito grande, minha contribuição social neste ciclo de 30 anos está concluída. Concluo meu período de executivo com muito orgulho. Meu tempo já foi o bastante.
O que gostaria de ser lembrado como prefeito na história de Caratinga?
Não tenho essa vaidade de ser lembrado para a eternidade. Quem se lembra quem fez o Centro Odontológico? Quem se lembra quem pegou o índice de cárie de 12 por criança e reduziu a zero? Foi a nossa gestão, as pessoas não se lembram disso. As obras ficam, os homens passam e se você deixa o registro é muito bom. Mas se você observar nenhuma obra inaugurada em meu mandato tem meu nome, todas têm a gestão 2013-2016, obra do povo. Faço questão disso para demonstrar que esse tipo de lembrança não gostaria de ter, porque quando você passa em qualquer unidade construída, ninguém olha quem fez. Isso é uma vaidade que se perde. Meu pai me lembrava do Antônio Araújo Côrtes, eu me lembro do Moacyr pra cá. Então a lembrança são das pessoas, placa não lembra de ninguém. Minha grande frustração é que queria mudar o modelo de se fazer política na cidade, acredito que avancei, mas queria fazer uma bem mais moderna do que a atual e o doutor Welington fará na obrigação. Eu disse que tiraria a política excessiva do executivo, então fiz uma lei que 30% dos cargos em comissão tem que ser de carreira, passou só 25% na Câmara, mas isso é uma vantagem, dei cargos de ponta a funcionários efetivos para dar continuidade ao trabalho. Isso politicamente é totalmente contrário ao óbvio, porque quem vai para a rua pedir voto é o companheiro, o efetivo pode gostar de você, mas não se expõe, e dei cargos de destaque a vários funcionários efetivos. Prestigiei muita gente que não esteve comigo em minha campanha. Dei pouca publicidade às minhas obras, meu trabalho, porque acreditava que as coisas aconteceriam naturalmente, não adianta forçar a barra, porque todos nós homens públicos somos esquecidos, isso é da vida, o que fica é sua consciência, a satisfação pessoal. Esta vaidade de ser lembrado, nunca busquei isso. O fórum de Caratinga, quem lembrou do ex-prefeito Ernani? Foi ele quem começou o processo. Quem lembra do Ceim? Inaugurei no Santa Cruz e lembrei que quem começou foi o João Bosco. Quem criou o PAM? O senhor Dário Grossi. Quem montou a maternidade? Fui eu com meus técnicos. O que fica para todos nós é a consciência própria e a minha frustração é que não consegui mandar essa mensagem, porque esse tipo de política mostrou que não funciona muito bem, pelo menos até agora. A política é muito clientelista, imediatista, voltada a resultados pessoais, ainda é cultural. Gostaria que o povo de Caratinga pensasse grande sem disputa política. Se acabou, vamos fazer parceria, manter que é bom e tirar o eu é ruim.
O senhor comandava o executivo e em sua gestão o legislativo teve os presidentes José do Carmo e Serginho. Como avalia o legislativo?
Pegue o José do Carmo e o Serginho como presidentes. Apostava também na política de independência dos poderes. Não mantinha funcionário monitorando. A chefia de gabinete não sabia o que estava na pauta, por isso quem acompanhou a Câmara via companheiros meus fazendo críticas, elogiando, não tive conduta de domínio sobre eles. O vereador de Caratinga, ainda avaliado pela sociedade em sua maioria, é que o vereador que fez algo é do executivo. Nunca ouvi um elogio assim: votarei nesse vereador porque ele fez essa lei, voto porque conseguiu trazer uma unidade de saúde para Dom Lara, isso é uma obra do executivo. Então geralmente o prefeito tem esse poder de trazer o legislativo porque a cultura política dá esse poder, porque o povo cobra do legislativo, o que é do executivo, por isso que o vereador quer ficar do lado do prefeito. Também fiz parte desse jogo, mas não usei disso com eles. Isso tudo é uma política moderna, aposto nela, acredito que pela questão econômica, a dificuldade que o Welington encontra ele terá que fazer essa política. O legislativo é o reflexo do povo, está lá porque o povo quis. É claro que esse sistema partidário é injusto, mas 70% foram pela maioria mais votada, então precisamos respeitá-los. Fiquei muito distante da Câmara mesmo, fiz questão. Fizeram papel muito mais político que de legislador. Talvez não porque quisessem, é o clamor da sociedade. Tanto é que quando tem reunião polêmica lota e na rotina fica vazia. A população acompanha muito mais o executivo que o legislativo, cultura da região.
Há poucos dias do final, o que avalia do apoio dos nossos representantes em Belo Horizonte e Brasília?
O apoio sem sombra de dúvidas mais interessante foi do Paulo Abi-Ackel, porque ele não foi votado, o apoiei no passado, fechamos com PMDB, apoiei Mauro Lopes e não o apoiei. Porque na verdade cumpri com minha honra de grupo político acompanhar pelo apoio que o PMDB me deu, devolvi o apoio de forma expressiva e o Paulo Abi-Ackel mesmo assim manda recurso de emenda parlamentar dele, acompanha, independendo do resultado de voto, então eu o valorizo muito. Em segundo ponto falo do Adalclever, deputado que mais ajudou Caratinga. Ele me deu 10 tratores, mais em quatro anos precisa trocar. Mais Batalhão da Polícia Militar, Bombeiro Militar, o Fórum, não tem riqueza maior pra nossa cidade para se tornar polo. Eu valorizo Adalclever nesse sentido e falo com tranquilidade porque nem na minha campanha ele veio, ele tem autonomia para isso, o que vi, é que ele fez o que Caratinga precisa. Como caratinguense, enquanto vida tiver vou registrar isso, independente do posicionamento político dele.
Em relação ao Mauro Lopes, na verdade ele olha por Caratinga, a expectativa das emendas foi muito menor que eu queria, mas entendo também não foi por culpa dele. A questão do Parque de Exposições ele influenciou, porque não é emenda dele, a estrada que liga Santa Cruz a Dom Modesto foi interferência dele, mas os recursos não chegaram ou vieram pela metade. Ele não teve culpa, mas eu não tive resultado político-administrativo do apoio dele, porque ficou pelo meio do caminho e entendo também que não é responsabilidade dele direta, é uma inconsequência desse governo federal, que apesar dele fazer parte diretamente agora com PMDB no comando, quebrou o país junto com PT e estamos aí pagando esta conta nos municípios. Então eu gostaria de dizer as obras que ele trouxe e com certeza Dr. Welington que irá inaugurar. Estamos num momento muito ruim administrativo, então o deputado federal sentiu muito com isso porque todo benefício que ele mandou foi travado ou impedido, então não pôde destacar. Adalclever pelo poder que teve, conseguiu direcionar tudo aquilo que ele determinou. Está apenas faltando a questão da nossa rodovia, é obra federal e tem má vontade para fazer, porque é necessária e a única reclamação que tenho porque não foi concluído e isso mostrou falta de influência e as casas próprias, que o Dr. Welington herdará, 872 casas, porque na hora de assinar o contrato o governo da Dilma cortou o investimento, agora reabrindo o financiamento, elas serão entregues. O deputado federal acabou sendo prejudicado pela própria administração da presidenta e depois desse presidente. Mas o estadual cumpriu violentamente com o que fez.
A expectativa era que o senhor transformaria a Saúde em seu mandato, mas acabou sendo uma questão polêmica. O que faltou para que a Saúde fosse aquilo que planejava no início do mandato?
Não respondi como frustação, porque minha frustação ideológica foi maior. Mas vou dizer, será publicado oficialmente, 25% de investimento na Saúde ninguém faz isso, quando me candidatei criticaram na minha campanha como fazia isso. Isso é recorde, as pessoas não acreditam, 25% na saúde, sobra o quê? Porque todas as obras que estão aí foram investimentos que consegui de fora. É muito dinheiro. Crise hospitalar, 90% procurando sistema público e a gente bancado por fora o máximo que podía. A maternidade foi inaugurada no primeiro ano do João Bosco e até hoje não veio recurso, quem quebrou aquilo lá foi o governo federal. Eu recebo o recurso e repasso. O PAM, tão criticado, que seria para ser Pronto Atendimento, tem pessoas há 30 dias internadas porque o hospital não dá conta, virou hospital. O que me frustrou foi que joguei muito dinheiro para segurar uma coisa que não é responsabilidade nossa, é covardia que o governo federal faz com os prefeitos. Quando cobram falam que é má administração, não existe isso. Eu poderia ter ficado fora, o hospital estaria fechado há dois anos. Por isso não fiz muitas obras que as pessoas esperavam, porque coloquei na Saúde e não deu reflexo. Acho que agora a sociedade compreendeu que não é minha responsabilidade, é falta de prestigio político, o que me ajudou a perder a política. Welington pegará 73 milhões de dívidas, só naquela operação Império, 37 milhões, ele está com certidão negativa suspensa para receber recurso, em janeiro terá que pagar 20% para pegar recurso, reflexo de prefeitos passados que não recolhiam INSS, que nossa gestão pagou 24 milhões. Ele conseguirá parcelar isso, vai atrapalhar a gestão, isso tudo ninguém sabe. A minha frustração não é pessoal, porque fiz tudo que pude. Fui melhor secretário que prefeito para saúde, estava tudo estável.
No final da gestão, como ficou o relacionamento do senhor com o funcionalismo público?
Excelente. Acho que tive grande apoio do funcionalismo. Tenho uma dificuldade com um setor, que são agentes comunitários de saúde, porque tem uma portaria da Dilma, elevando o salário deles pra R$ 1.100, mas ela não mandou dinheiro para isso. Se colocar recursos trabalhistas e obrigações, isso vai pra R$ 1.800 para um agente de saúde, que ele não mereça. Eu briguei na Justiça pra não pagar isso e agora acho que o resultado é que vai ter que pagar. Mas, vários municípios entraram questionando, porque o salário mínimo é o governo federal quem decide, mas o salário municipal quem decide é a Câmara, a não ser que tenha um incentivo e ela não deu. Então, acho que esse grupo não ficou muito satisfeito. O segundo grupo que eu acho que não ficou satisfeito foi a das monitoras, porque fiz uma política para as professoras, que está na Câmara para ser aprovado, o Estatuto delas que era um compromisso político meu e que não incluiu as monitoras. Elas se revoltaram por isso, há entendimento que não tem que incluir mesmo, ainda que elas exerçam a função de professoras, o curso que elas fizeram foi pra monitora. De qualquer forma nossos advogados e procuradores estão tentando acertar e fazer uma proposta satisfatória para o ano que vem pra elas. Mas, eu cheguei a dar aumento para algumas categorias, dei três aumentos no meu mandato fora o salário mínimo; consegui dar algumas vantagens. E pagar salário em dia nessa crise não é pra qualquer um. E paguei R$ 25 milhões de INSS, vou ficar devendo uns R$ 3 a R$ 4 milhões. Peguei R$ 15 milhões de empenho, vou deixar uns R$ 3 milhões. Quando a transição acabou liguei para o Welington, que está chegando do México, falei: ‘Welington, vem pra cá, quero te mostrar um monte de coisas. Preciso que você saiba como é que está a Dengue, porque a turma vai ter que demitir todo mundo’. Então, acredito que ele vai chegar agora na reta final, porque também está com alguns problemas políticos de gerenciar, montar secretariado, isso eu sei o que ele deve estar passando. De qualquer forma ele tem que focar um pouquinho. Então o funcionalismo; vou aos departamentos e sinto essa vibração positiva, agora sou um prefeito ausente dos locais de trabalho, sou muito de gabinete e o funcionalismo gosta da presença. Isso foi um erro político meu, mas é o meu perfil.
Deixando o cargo de prefeito, o que mudará em sua vida?
Eu conservei muito e talvez seja a grande crítica que as pessoas me fizeram, em relação a minha atuação política na minha gestão. O meu fim de semana era meu fim de semana com a minha família. Nunca abri mão do meu convívio e da energia da minha família. Podia estar muito mais com as lideranças, viver mais esse momento. Tanto é que fiquei como dentista até esse ano, fevereiro que eu fechei o consultório, sexta-feira eu ia pra lá, sábado de manhã, cuidar da minha vida material, sai a política, tenho que voltar para minha função. Então, acho que não vai mudar nada, o que vai mudar é a minha consciência no sentido de que a pressão muda. A pressão vai acabar na minha vida, minha visão vai ser minha profissão como professor e dentista. Não vou deixar de fazer política, perdi pleito, não perdi política. Mas, a fase do executivo, o ciclo, já deu. Acho que com 55 anos já cumpri minha missão.
Quais são suas considerações finais?
Agradecimento profundo a oportunidade que tive, estou saindo em paz. Com muita vontade de ter feito muita coisa, ter feito as casas populares, concluído a UPA, o SAMU que está parado, acabar o asfalto do Santa Cruz ao Bairro das Graças, muitas obras que vão surgir por aí e gostaria de ter concluído. Essa frustração tenho. Mas, compreendo que a questão financeira pegou e que independente de atrasar, vai sair. Como herdei muitas coisas de outros mandatos, também estou passando. Mas, consegui fazer uma gestão com transparência, todos os processos que têm pegaram no Portal da Transparência, ninguém descobriu papel oculto em nada. Foram erros técnicos que vou responder, estou muito tranquilo em relação a isso. E vou andar nas ruas como andava como prefeito, continuar meu trabalho, ainda tenho um foco muito grande na minha missão, sou mestre em Saúde Pública, estou concluindo agora e meu sonho é formar, é docência. Então, além da Odontologia, vou investir mais nesse setor. Vou seguir meu caminho em paz, com dignidade.