Marina Matos de Moura Faíco
A mama, em nossa cultura é considerada um ponto importante da feminilidade, parte fundamental da beleza, objeto de desejo e fonte de prazer. Sua função principal é a produção de leite para a amamentação, mas ninguém nega o papel fundamental das mamas na constituição da autoestima e autoimagem da mulher. Embelezam a silhueta do corpo feminino e desempenham função erógena e de atração sexual.
O desenvolvimento mamário é dependente da produção de hormônios pelos ovários, e durante a adolescência, a mama rudimentar começa a crescer e se desenvolver atingindo o ápice do amadurecimento durante a gestação e amamentação, quando efetivamente considera-se que a mulher apresenta amadurecimento do tecido mamário. A maturidade funcional das mamas ocorre na amamentação, com a produção e saída do leite. A mulher que não amamenta jamais atinge a funcionalidade total da mama.
À medida que a mulher se aproxima da menopausa, em função da modificação na produção hormonal, ocorre atrofia do tecido glandular e uma consequente substituição deste pelo tecido adiposo – liposubstituição; o que reduz o tamanho das mamas e as tornam menos firme. Tal processo não ocorre de maneira uniforme em todas as mulheres e tampouco em todos os quadrantes de uma mesma mama, o que pode resultar na observação de densidades mamográficas diferentes durante a realização de exames de rastreio para o câncer de mama. Além disso, as mudanças hormonais que constituem a transição menopausal ou climatério podem produzir efeitos como a dor mamária.
Dessa forma, as alterações consideradas fisiológicas e decorrentes do envelhecimento mamário podem ser suficientes para causar pânico na maioria das mulheres. Imagine então o que ocorre quando uma mulher descobre que sua mama pode estar ameaçada?
A descoberta de um nódulo na mama é uma das ocorrências que mais ansiedade provoca na mulher. A maioria dos nódulos mamários encontrados é detectada pelas próprias pacientes e mesmo sabendo que 80% destes são benignos, lesões não proliferativas que não aumentam o risco de desenvolver câncer de mama, o pânico sobre a possibilidade de estar realmente doente é inevitável. O período entre a observação e o esclarecimento da origem e natureza da lesão pode originar a cancerofobia, uma reação de pânico que pode ser considerada uma doença tão séria quanto o câncer é para a mulher.
O medo é importante para o ser humano. Mas, é preciso saber em que sentido. O medo é considerado uma reação instintiva frente à possibilidade de perigo ou ameaça. É um mecanismo de proteção que provoca estado de alerta, atenção e cautela. Não deve gerar pânico!
O câncer de mama é a neoplasia mais prevalente entre as mulheres no Brasil. Sabe-se que inúmeras variáveis contribuem para o risco de desenvolver esta doença como idade, hereditariedade, doença prévia, lesões precursoras, fatores endócrinos e ambientais, e o simples fato de ser mulher. O diagnóstico de câncer de mama é vivenciado como um momento de imensa angústia, sofrimento e ansiedade. Impossível não associar essa notícia à possibilidade de morte precoce o que gera uma influência negativa na qualidade de vida da mulher. Mas não pode gerar pânico!
Mesmo sabendo que o processo de carcinogênese, ou seja, a formação de câncer é em geral lenta podendo levar vários anos para que uma célula prolifere e dê origem a um tumor palpável, e, portanto, que o rastreio através de exames de imagem pode sim detectar precocemente a lesão, muitas mulheres não aderem à prevenção. Acredita-se que as elevadas taxas de mortalidade sejam decorrentes do diagnóstico em estágios avançados, apesar das campanhas de prevenção e do conhecimento sobre o relativo bom prognóstico da doença.
É paradoxal, mas ao mesmo tempo em que mulheres não aderem aos protocolos de prevenção alimentam uma fantasia em relação ao câncer o associando à morte. Em função disso, medidas radicais têm sido desenvolvidas e divulgadas na mídia, mas é necessário cautela. É claro que prevenção é sempre a melhor opção. No entanto, a radicalização pode gerar consequências tão traumáticas quanto à possibilidade de doença.
A mastectomia preventiva é uma opção e precisa ser adotada com critério. Consiste na remoção cirúrgica de parte do tecido mamário, com a finalidade de diminuir o risco de desenvolvimento de câncer de mama (reduz em até 90%) nas mulheres que apresentação mutações nos genes BRCA1/BRCA2. No entanto, as mulheres que ainda não fizeram o teste genético não devem pensar em mastectomia preventiva, mesmo que tenha vários casos de câncer na família. Vale ressaltar que o fato de ser portadora de mutações nos genes não significa que a mulher desenvolverá a doença. Por isso, a cancerofobia é um fator que deve ser avaliado cuidadosamente para não haver precipitação ou abuso de indicação. Sem contar que a mastectomia preventiva não deixa de ser uma mutilação. A sensibilidade da mama muda, a identidade corporal se modifica, a estética é comprometida. Isso pode tornar a mulher insegura e fazê-la até mesmo questionar a sua feminilidade e a aceitação pelo parceiro.
Então, é importante saber que: a prevenção é sempre a melhor alternativa, mas… A MAMA é sua!
*Marina Matos de Moura Faíco é médica residente em Ginecologia e Obstetrícia, doutora em Fisiologia e Coordenadora do curso de Medicina do UNEC.
Mais informações sobre a autora em http://lattes.cnpq.br/5256973785497421