Marina Matos de Moura Faíco
O roteiro parece se repetir dia a dia na casa de milhares de meninas em nossa sociedade. A adolescente engravida do namorado, abandona a escola prematuramente, o namoro acaba, a jovem fica responsável por cuidar da criança e, com isso, não consegue tempo para estudar e trabalhar. O sonho de um futuro melhor parece fadado a fracassar. Não dá para fechar os olhos. A questão está aí, por todos os lados: a gravidez na adolescência é, de fato, uma realidade.
A adolescência determina a transição entre a infância e a idade adulta. É um período caracterizado por intensos processos conflituosos, por necessidade de auto afirmação e por transformações físicas importantes. Exatamente por isso, é uma fase marcada por conflitos, dúvidas, inquietações. É um momento de mutação, de oportunidades, de entender que o crescimento faz parte dos ciclos da vida, de começar a pensar em uma carreira profissional, de se apaixonar e, também de perigos: drogas, violência e sexo sem prevenção.
A escola é um lugar privilegiado para os primeiros encontros, primeiros namoros, primeiros amores. No entanto, falar sobre sexo e sexualidade na escola, apesar dos avanços experimentados nos últimos anos, não é tão comum e simples. Falar sobre sexualidade implica repensar preconceitos, quebrar velhos paradigmas e, sobretudo, superar hipocrisias presentes há muito tempo.
A difícil comunicação sobre sexualidade entre pais e filhos é marcada por uma ambiguidade em que ambas as partes reconhecem o problema, mas evitam enfrentá-lo. O dilema está então constituído. A orientação sexual poderia levar a iniciação sexual precoce? Ou a falta de orientação poderia resultar em doenças ou gravidez indesejada?
Na atualidade vê-se o exercício da sexualidade começando cada vez mais cedo, impulsionado pela imposição social que leva crianças a adolescerem precocemente. A iniciação da atividade sexual pode gerar consequências que podem levar adolescentes a ingressarem na vida adulta rapidamente mesmo não estando preparadas psicologicamente, forçando a jovem a mudar completamente seu modo de vida. Atualmente a gravidez na adolescência é considerada como um problema de saúde pública, que pode ser evidenciado pela falta de educação sexual, planejamento familiar e pelo uso errôneo de métodos contraceptivos.
Iniciar a vida sexual nem sempre é uma decisão consciente ou livre, nem tampouco uma decisão em que se avaliam os riscos e consequências envolvidas. Ainda que sejam relações consentidas ou aceitas, muitas vezes a adolescente tem pouco controle sobre o evento da iniciação sexual.
Hoje em dia observa-se uma variedade de publicações e programas para adolescentes que são veiculados pelos diferentes meios de comunicação, destacando a Sexualidade e Saúde Reprodutiva. Mesmo que a escola não se anime a falar sobre isso, mesmo que os pais tenham dificuldade de abordar esse assunto, são vários os espaços nos quais já é possível, não só ouvir especialistas falando, mas discutir de igual para igual os diferentes aspectos da sexualidade e da afetividade, tanto no plano biológico como também sobre as sensações, as emoções e os conflitos que existem num relacionamento; sobre contracepção; sobre a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids; sobre a necessidade de se adquirir habilidades para se tomar decisões acertadas e para resistir à pressão do grupo; sobre como a mídia trata a sexualidade; sobre os sentimentos presentes na maternidade.
Ficar grávida na maioria das vezes traz felicidade… Entretanto, a gravidez precoce e indesejada, favorece a possibilidade do desajuste familiar. Meninas menores de 15 anos de idade estão engravidando, e isso não deve ser visto com naturalidade.
Será subversão ou desejo? Talvez se possa até pensar em acaso, descuido, ingenuidade, submissão e tantos outros fatores. A gravidez e a maternidade na adolescência rompem com a trajetória tida como natural e emerge socialmente como problema e risco a serem evitados. A família muitas vezes é responsabilizada por todas as infelicidades do mundo jovem. Mas o que se observa é que nem sempre ela se sente preparada para responder aos anseios de seus filhos e filhas.
Medos, insegurança, desespero, solidão, todos esses sentimentos acometem os adolescentes e pais envolvidos numa gestação precoce. Ao engravidar a menina passa a ser tratada como mulher, mas precisamos entender que aquela menina que fica grávida é uma adolescente gestante. Se tornará uma mãe de palmo e meio… mas MÃE!!!
A menina grávida não tem maturidade biológica para gestar uma criança, nem tampouco maturidade psicológica para exercer a maternidade. A gravidez na adolescência representa um momento de crise no ciclo de vida familiar. Para a adolescente, a gravidez pode significar uma reformulação dos seus planos de vida e a necessidade de assumir o papel de mãe para o qual ainda não está preparada. Para os pais, tal experiência é marcada por sentimentos variados, tais como surpresa, decepção, raiva, culpa ou alegria, e também por questionamentos do tipo “por que isto aconteceu?”, “onde foi que eu errei?”, “será que dei liberdade demais à minha filha?”.
Mães de palmo e meio é o nome dado a um blog criado por adolescentes de uma escola portuguesa que decidiram se reunir para tratar de assuntos relacionados à gravidez na adolescência e suas consequências. Iniciativas como estas deveriam ser estimuladas em nossa sociedade. As dificuldades de comunicação entre adultos – pais e professores – e adolescentes podem desaparecer quando existe interesse e responsabilidade na procura por esclarecimentos sobre a sexualidade.
A adolescência leva a descoberta de que além de ter belos sonhos, é preciso ter metas e assumir o compromisso de concretizá-las. Tudo o que se deseja pode ser conquistado dia após dia. Então, MENINA, construa seu projeto de vida. Ter um projeto de vida faz a pessoa se sentir mais segura, confiante e menos perdida na hora de fazer as escolhas necessárias a cada dia. Faz pensar em como será o mundo que vamos ajudar a construir.
A primeira relação sexual, para ser segura e prazerosa, só deve ocorrer a partir do momento em que você se sentir preparada. Essa escolha é sua! Respeite seu próprio ritmo e não se deixe levar pelas pressões dos outros.
Meninas… futuras mães! Vocês são donas de suas vidas e, por isso mesmo, podem participar da construção de um mundo melhor. Um mundo sem preconceitos, sem discriminação. Um mundo mais pacífico, mais solidário e menos violento. Por isso, escolham bem as sementes que vão gerar os frutos que vocês desejam colher. Não se transformem em mães de palmo e meio. Sejam MÃES por inteiro!
* Médica Ginecologista e Obstetra do CASU e Prefeitura Municipal de Caratinga/MG, Mestre e Doutora em Fisiologia pela UFMG, Professora e Pesquisadora do UNEC. Mais informações sobre a autora em http://lattes.cnpq.br/5256973785497421