Uma admiração natural, e sincera
Família é uma experiência formidável, única, e muito difícil de esquecer – há tantas lembranças, e muitas são sempre boas! Hoje vou falar do meu irmão mais velho que completa 80 anos na sexta-feira. Como estamos geograficamente distantes, não poderei abraça-lo, mas aqui neste meio tão apropriado e sempre integralmente voltado para a experiência humana, o Diário de Caratinga, prestarei a minha homenagem a ele e a todos os aniversariantes desta semana.
Quatro anos antes de mim lá veio ele, o filho que o pai esperava. Meu pai, um exímio artífice com suas mãos sempre cheia de calos, já tinha (ou planejava) mudar para a cidade, saindo do interior onde seu trabalho se dividia entre a agricultura e objetos de madeira, juntamente com seu sogro.
Meu pai, que viveu um pouco mais de cem anos, tornou-se na cidade (Ijuí) o artista no.1 na fabricação de carrocerias para caminhonetas. Há 80 e mais anos, depois de um acidente o conserto da ‘lataria’ ficava muitas vezes dispendioso demais, e optava-se, então, por uma carroceria de madeira – e aí, entrava meu pai, com uma marcenaria renomada na região. Seu primeiro filho homem certamente despertava uma esperança de continuidade: – Meu filho vai assumir meus negócios, e certamente se dará muito bem!
E tudo correu bem – meu irmão era o artista no. 2 (ou 1, não sei), até que uma vocação religiosa o tirou da “oficina”, para a velha Europa. Como meus pais eram muito dedicados à causa do Reino de Deus, não tiveram nenhuma objeção, e com suas parcas economias, compraram a passagem de navio que levou o melhor companheiro de meu pai embora.
Eu, que já estava lá também, não tinha focalizado o trabalho manual: creio que devido a doenças na infância, fui sendo ‘protegido’ de trabalho ‘pesado’, enquanto me dedicava aos estudos – e onde também pude demonstrar habilidade e talento.
Meu pai – coitado! Estava triste, e muito feliz! Tinha de continuar sua lide diária, mas sem projeção de ter um verdadeiro companheiro do lado. Claro, muitas vezes eu era convocado para deixar os livros para ‘ajudar’, mas tal ajuda nunca fizeram uma diferença nos negócios da empresa. Meu pai sabia que eu nunca o iria substituir.
Meu irmão tinha ido e voltaria alguns anos depois com uma carteira de habilidades e talentos totalmente diferentes. Ele dedicou-se à pregação das Boas Novas, e bilíngue, pôde trazer muita luz, paz, esperança e conforto a muitas pessoas onde quer que estivesse, e onde lhe era franqueada a palavra. Mas especialmente na sua própria ‘paróquia’, onde se dedicava dia e noite, enquanto que sua fiel e abnegada esposa cuidava do “Haushalt”, isto é, de tudo o que dizia respeito à família, filhos, etc. e etc.
Até hoje meu irmão continua trazendo as boas notícias do perdão de Deus toda a vez que é convidado – uma alegria e contentamento para ele, mas muito mais, uma voz experiente e sábia que ainda não cansou de plantar boas sementes.
Não posso deixar de dizer, porém, que, como hobby, ou entretenimento, ou por prazer e de fato, por habilidade, ele continua fazendo trabalhos, estando atualmente terminando a reforma de sua casa, por dentro e por fora, e de todos os aparelhos, etc. e etc… No ano passado, algumas semanas antes do início da pandemia, viajamos juntos – e em todo o lugar onde íamos visitar (parentes, amigos), ele sempre achava alguma coisa que podia consertar. Impressionante esse meu irmão que eu admirei desde meus primeiros dias de vida!
Bem, comecei falando de ‘macaquinho de arquibancada’ – e preciso explicar. Ao refletir sobre meu irmão, me perguntei por que é que tenho essa admiração tão grande, incansável por ele. Deixei de mencionar outras coisas que eu sempre gostava nele: sua voz, seu canto, sua musicalidade – como ele conseguia transmitir tanta beleza misturada com alegria, verdade, amor, confiança, esperança – pra mim ele foi o melhor comunicador de todos os tempos, e a quem eu muitas vezes tentei imitar…
Imagino que no início de minha vida meu irmão deu uma atenção muito especial para mim. Certamente não tinha a ver com trocar minhas fraldas, algo que na família homem nunca faria. Graças a Deus, mudamos… Creio que ele fazia gracinhas para mim – piscava um olho, depois o outro; escondia-se com uma toalha, e depois, aparecia de novo – não sei, não estava consciente do processo que estava ocorrendo naquele meu início de vida. Mas que eu acabei sentado ‘na arquibancada’ enquanto ele estava no meio do picadeiro, fazendo truques, mágicas, acrobacias, risadas, cantorias, piadas!
Deve ter sido isso. Há um ano nos dias que passamos juntos pude confirmar minha teoria: gostava dele demais, e não sabia porquê. Hoje, ao homenageá-lo – meu irmão Bitto (apelido que talvez até eu dei a ele – não clamo autoria, porém), cujo nome verdadeiro – Ehrfried (traduzido quer dizer “proteção, paz” segundo o Google, e, segundo a palavra alemã “Ehr” – “honra, digno de honra”) – então, um significado extraordinário, tremendo, que bem traduz o que continuo sentindo por ele.
Parabéns, meu irmão querido, pelos oitenta – que sejam muitos mais, vamos lá – nosso pai chegou aos cem, queremos chegar lá também, ou bem pertinho!
Parabéns a todos os aniversariantes – e a todos nós, pela bênção da família, da fraternidade, pela vida, pelo nosso Criador e Salvador!
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – [email protected]