De jogadora a profissional de Educação Física são anos de dedicação
CARATINGA- Hoje é comemorado o Dia Internacional da Mulher. A mulher há anos vem quebrando barreiras e construindo espaços e no esporte não é diferente. Conforme o relatório “Movimento é Vida”, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – divulgado em 2017, a prática de exercícios físicos por mulheres no país é 40% inferior aos homens.
E quanto ao futebol, algo que beira ao absurdo, mas em 14 de abril de 1941, com o Decreto-Lei 3199, Getúlio Vargas proibiu que mulheres praticassem esse esporte. Dentro desse decreto havia o artigo 54 com normas destinadas especificamente para as figuras femininas e que mostrava claramente o posicionamento do Estado sobre o que era ser mulher na época. Essa proibição acabou em 1979.
Mas, a menor participação feminina no esporte não intimidou Luiza de Sá Ferreira. Desde criança ela tem demonstrado sua ligação, principalmente, com o Futsal. Tornou-se jogadora, sendo considerada uma jovem promessa e mesmo após deixar as quadras, seguiu carreira como profissional de Educação Física e hoje tem ensinado crianças e adolescentes os valores do esporte.
“O esporte está presente na minha família porque meu pai sempre jogou. Ele era goleiro à época, então sempre me incentivou. Desde que comecei a andar, já ganhei uma bola”, conta Luiza, empolgada.
Dentre as demais modalidades esportivas, ela optou pelo Futsal, iniciando os treinos aos oito anos de idade e seguiu se aperfeiçoando até os 18 anos. São inúmeras medalhas e troféus, destacando seu desempenho como atleta destaque ou o trabalho em equipe. “Eu só joguei mesmo futsal. Gosto muito de voleibol, mas, a altura nunca me ajudou e eu também nunca corri muito atrás desse esporte. Participei de algumas competições, cheguei a morar fora de Caratinga e foi muito bacana”.
Representando o município, Luiza conseguiu competir com as principais equipes da época e se recorda com muita satisfação daquele período. “Mesmo com toda a dificuldade, o futsal feminino era muito valorizado, claro que falo muito comparado ao futsal feminino de hoje em dia aqui na cidade. Eu jogava para as escolas, inclusive cheguei a rodar várias escolas justamente por conta do futsal, vários lugares me ofereciam bolsas. Então, eu treinava mais na escola e no CTC também, porque a escola era mais voltada para competição dos Jogos Estudantis e eu também treinava em outros locais para disputar campeonatos regionais”.
Ela cita que tinha como inspiração Alessandro Rosa Vieira, mais conhecido como Falcão, ex-jogador de futsal brasileiro que atuava como ala. “A grande maioria se espelha muito no Falcão, sempre foi um cara que pra mim, diante das suas jogadas, inteligência e movimentação, que eu sempre quis parecer com ele”.
Em relação aos comentários maldosos e carregados de preconceito pelo fato de uma mulher jogar bola, ela afirma que lidou bem com a situação até mesmo dentro da família. “O preconceito sempre existiu, mas, graças a Deus, conseguimos na época montar uma equipe bacana, tínhamos em torno de 12 atletas. Por mais que existisse esse preconceito, realmente conseguimos superar. Minha mãe mesmo tinha um pouco de preconceito e ela foi rompendo essa barreira, inclusive, mais para frente, era a pessoa que jamais perdia os meus jogos. Ela foi convivendo nesse meio e observando que era diferente de tudo que ela pensava”.
Questionada sobre uma partida que considera marcante, Luiza cita o ano de 2004, quando ela tinha 14 anos. A equipe CTC/Microleste, da qual fazia parte, venceu o Campeonato Mineiro. “Jogamos em Manhuaçu contra uma equipe muito favorita de Governador Valadares por 5 a 2. Graças a Deus fomos muito elogiadas pelo nosso desempenho na competição, a partir daí que as portas começaram a ser abertas para algumas atletas e para o nosso treinador na época, que era o Monirzinho”.
DE JOGADORA A PROFESSORA
Mas, foi no auge do talento que Luiza mudou de planos. Alguns fatores contribuíram para a decisão de abandonar o posto de jogadora, como frisa. “Essa desvalorização mesmo, infelizmente, tanto o futebol quanto o futsal feminino não é tão valorizado assim. Chegou um ponto da minha vida que eu precisei fazer uma faculdade e eu, infelizmente, não consegui seguir a carreira, por conta de questões financeiras mesmo, para ser bem honesta”.
No decorrer dos estudos de Educação Física, ela pensou em de alguma forma prosseguir dentro do Futsal, ainda que de forma indireta, mas acabou seguindo rumos diferentes. “Na época optei por esse curso principalmente por causa do Bacharelado, para dar continuidade a essa vida de atleta, mas agora como treinadora. Porém uns quatro, cinco meses antes de eu formar, tive a oportunidade de trabalhar na escola e não consegui montar as escolinhas, conforme era meu desejo. Mas, o esporte nunca saiu de mim”.
Atualmente, Luiza leciona desde à Educação Infantil até o Ensino Médio, com um trabalho recreativo e de socialização, psicomotor. Além do ensino voltado para as modalidades, com fundamentos e parte tática. Como educadora, ela ainda observa o mesmo preconceito de anos atrás. “Hoje em dia, infelizmente, ainda enxergamos em alguns pais (preconceito), por conta de pensar que a filha vai ficar extremamente masculinizada por conta disso, mas não tem nada a ver. O esporte contribui de outra forma, depois que esses pais, assim como minha mãe, liberam os filhos para fazer essa modalidade, o ponto de vista muda completamente”.
De Luiza para as “Luizas” do futuro, o conselho é seguir em frente e não desistir dos sonhos. Persistir para alcançar é o que ela recomenda. “Realmente seguir a carreira se é aquilo que quer, porque tive oportunidade de conviver com atletas excelentes em Valadares quando morei lá e algumas estão fora do Brasil. Talvez, se eu tivesse seguido essa carreira e de repente saído daqui, teria tido mais oportunidade. Infelizmente, aqui no Brasil, ainda acho extremamente desvalorizado, mas, lá fora, já consigo enxergar que tem atletas com uma vida razoavelmente bem, que compense seguir nessa carreira e não parar de praticar essa modalidade”, finaliza.