4 de setembro de 2015. Um acidente envolvendo dois automóveis, na BR-120 entre Viçosa e Texeiras, provocou a morte dos professores de Manhuaçu Geórgia Salazar e Reinaldo Corrêa Tinoco. Outros dois professores, Hugo de Carvalho Brito (também de Manhuaçu) e Marcelo Gomes dos Santos, (Caratinga) sofreram ferimentos. O Celta em que estavam bateu num Fiat Uno. O acidente aconteceu no trecho conhecido como “Reta da Paula”.
Marcelo se feriu gravemente, mas hoje já está se recuperando e voltou a dar aulas. Ele considera ter “nascido de novo”. O DIÁRIO DE CARATINGA conversou com ele, que falou sobre as sequelas do acidente e o que mudou em sua vida após ter visto a morte de perto.
O ACIDENTE
Marcelo afirma que não se recorda do dia do acidente, mas de acordo com relatos de outras
pessoas, os quatro professores estavam indo para uma aula do mestrado de Matemática em Viçosa, quase chegando ao destino, se acidentaram, por volta de 13h. “Não me lembro de nada, não tenho memória do dia. Fiquei apagado até as 22h30 mais ou menos, só fui acordar quando vi a minha esposa, lembrei direitinho quem ela era. Não tive lapso de memória em relação a isso, só não me lembro do dia do acidente. Quando acordei estava amarrado, não tinha noção do que tinha acontecido. Só me falaram que eu tive um acidente de carro. Mas, eu não percebia, fiquei com o olho travado por praticamente três meses e meio. Você não consegue ter a percepção do que ocorre. Eu não tive”.
O professor ainda afirmou que após ser levado para atendimento médico, em uma escala de risco, o seu caso era considerado grave, abaixo apenas do gravíssimo. “Tive lesões do lado esquerdo, porque o carro girou para a esquerda e esse lado bateu de frente com o outro carro. Fiquei todo manchado do lado esquerdo, por causa do cinto de segurança. Depois que tive alta, falo isso com as pessoas e elas ficam até assustadas, mas tive que aprender a andar. Foi rápido, mas eu não conseguia andar. Tinha que escorar em alguém, me amparar, é como se eu tivesse desaprendido, mas aprendi rápido. Sensibilidade no lado esquerdo, até nos dias atuais tenho essas lesões. Mas, não tive nada no cérebro”.
Um ano e três meses após o acidente, Marcelo já retomou a sua rotina. No momento desta entrevista, ele estava no intervalo da aula que ministrava na Escola Estadual Princesa Isabel. Ele afirma que ainda tem algumas dificuldades, mas preferiu ter força de vontade e retomar, aos poucos, suas atividades. “No final do ano passado eu voltei porque já estava estressado de ficar parado. Voltei para dar uma ativada, mas o meu olho só começou a destravar em janeiro desse ano. Agora, o meu lado esquerdo, a sensibilidade não é normal. Por exemplo, quando eu durmo esse braço (esquerdo), tenho muita dificuldade. É uma coisa estranha, mas acredito que com os anos deva voltar ao normal”.
FÉ
Sobre o fato de ter sobrevivido em um acidente tão grave, Marcelo faz uma atribuição de acordo com sua crença. “Eu creio que nós temos os dias determinados de chegar nesse mundo e partir. Entendo que não era o meu dia, como era dos outros dois. É questão de fé, como creio que Deus governa o dia de você vir, você não escolhe a família, não escolhe nada, também creio que o meu dia está determinado pra ir, como das outras pessoas. Sempre fui tranquilo com relação isso. Mas, eu tive uma experiência”.
Ele ilustra com um fato curioso do dia do acidente envolvendo a sua colega que estava dirigindo o carro, Geórgia, que faleceu. “Você percebe: ‘Poxa a vida, era o dia dela’. Tudo que não era pra acontecer; aconteceu, no caso dela. Toda sexta, dia de aula; nós revezávamos os carros. No dia que era do carro dela, ela não levava. Ela nunca levou quando éramos nós quatro, sempre era o Hugo, que escapou e o Reinaldo, que também faleceu, que trazia. Nesse dia ela levou. A Geórgia e o Reinaldo estavam do lado esquerdo do carro, ela dirigindo e ele no carona. Eu e o Hugo, do lado direito, escapamos, ele à frente e eu atrás. Só que ele se lembra de tudo e saiu só com lesões na mão, porque segurou no painel”.
Em relação a voltar a entrar em um carro após o acidente, o professor afirma que chegou a ter um trauma, mas, hoje se sente mais tranquilo. “Sou muito tranquilo com relação a dirigir hoje, mas o meu irmão voltou a me levar para as aulas do mestrado no final de outubro, que eu já não aguentava também. Pedi a ele que me levasse novamente, ele me levava, mas eu sentia um desconforto. Hoje não sinto isso mais, mas eu sentia. Era um trauma de estar em um carro? sim, senti. Mas, têm pessoas que não voltam mais a andar em um carro, eu não tive esse medo, mas havia um desconforto, um receio, apesar de achar que ele dirige bem”.
Aos 42 anos, Marcelo (que é esposo de Michele Tamara e pai e Anthony, de oito anos) afirma que sua vida mudou completamente e ele valoriza mais a vida, com o sentimento de gratidão. “Me tornei um profissional mais dedicado no meu trabalho. Sempre fui grato a Deus pela minha vida, mas hoje sou muito mais. Me doo mais no meu trabalho, chamo muito mais atenção dos meus alunos para a vida. Mexeu comigo, mudou, acrescentou mais. Sempre amava ser professor, hoje amo muito mais. E procuro passar isso para as pessoas”.