* Sávia Francklin Mansur
O leite é um alimento que tem sua história relatada em 6 mil a.C. A história mostra que os primeiros a ordenharem o animal para o consumo da bebida o fizeram à essa época, nas regiões em que hoje está a Inglaterra e a Europa Ocidental. Habitantes da Líbia deixaram para trás diversas pinturas rupestres que mostravam a imagem de vacas sendo ordenhadas. Nos desenhos, é possível identificar até processos de fabricação de queijos.
Por volta de 3.500 a.C., o povo egípcio utilizava a bebida com finalidades religiosas, assim como outras tribos e civilizações. A vaca era adorada e dedicada aos deuses cultuados nos templos. Sua fama era tanta que diversos filósofos e pensadores famosos, como Aristóteles e Heródoto, mencionaram o líquido em alguns de seus registros.
O leite é um produto alimentício obtido da ordenha de um mamífero, composto basicamente por água, gordura, proteínas, lactose e sais minerais. É considerado um alimento rico, uma vez que é importante fonte de proteínas, vitaminas (especialmente A, B1 e D) e de cálcio, sendo este mineral fundamental para a formação óssea.
Como todo alimento rico em nutrientes, o leite e seus derivados, precisam de boas práticas de higiene para manter a sua qualidade. Infelizmente, muitos de nós ainda temos o hábito de adquirir estes tipos de alimentos (leite e seus derivados) de “origens duvidosas”. Entenda-se por “origens duvidosas” aqueles fabricantes e/ou comercializadores destes produtos que não exercem as boas práticas de manipulação dos mesmos.
Quantos de nós ainda adquirimos o leite veiculado pelo leiteiro? Quantos de nós ainda adquirimos o queijo de fabricação caseira, o qual possui mais “buraquinhos”, o que lhe confere um “sabor ainda melhor”!!! Pois bem, não haveria problema algum que estes alimentos viessem destes comerciantes, e os mesmos executassem as boas práticas de manipulação, de tal forma que os produtos mantivessem a sua qualidade original.
Vamos às explicações: quando o leite in natura, ou seja, aquele leite que não passou pela indústria e não foi pasteurizado, é veiculado, é necessário cuidados com a temperatura e o transporte, pois, por ser um alimento rico em nutrientes, o leite acaba se tornando um ótimo produto para bactérias de diversas espécies crescerem e se multiplicarem muito rapidamente, e a maioria destas bactérias nos fazem muito mal, como por exemplo, podem nos causar diarreias, febre, vômitos, dores de cabeça, e até doenças do tipo meningite! E ainda, há adulteração do leite. A adulteração do leite consiste em adicionar produtos a ele, os quais têm a capacidade de mascarar a sua falta de qualidade. Adulterações mais comuns são: a adição de água oxigenada; adição de amido e até de ureia (urina do animal ordenhado). Estes produtos podem provocar a falsa impressão que o leite é “menos aguado e mais forte que o de caixinha”. Na realidade, o consumidor, ao adquirir este tipo de leite, pode estar levando para sua casa um alimento altamente contaminado que irá provocar grandes danos a quem o ingerir. Os mais atingidos são as crianças e pessoas mais velhas, as quais possuem um organismo mais susceptível a adquirir doenças.
Quanto ao queijo “rendado”, ou seja, cheio de buraquinhos, saiba que estes furos são indicativos de contaminação por bactérias provenientes de fezes e urina, que são os chamados coliformes fecais. Cada “buraquinho” é um índice de contaminação. Lembramos aqui que estamos nos referindo ao tipo de queijo chamado de minas frescal ou queijo verde. Pois há queijos específicos, em que os buracos são característicos de sua qualidade, como o queijo tipo suíço, gouda e outros. Na realidade, o queijo minas frescal, deve possuir uma massa compacta e sem furos. Por ser uma massa verde, tem um tempo de validade curto e deve ser confeccionado com leite pasteurizado, pois quando o leite é levado à temperatura de pasteurização as bactérias que nos provocam doenças são eliminadas.
Diante disto tudo, você deve estar se perguntando como deve proceder quanto à aquisição destes alimentos. É muito simples: adquira somente produtos que tenham algum tipo de inspeção, seja ela municipal (SIM), estadual (IMA) ou federal (SIF). Estes órgãos de fiscalização são os responsáveis pela comercialização dos produtos e nos dão garantia que o produto está apto para consumo. Em caso de algum tipo de contaminação, o consumidor tem a quem responsabilizar.
Para o governo federal não existe a comercialização do leite in natura e você deve estar se perguntando, de novo, por que o leiteiro ainda lhe oferece leite dentro daquele latão que ele carrega na sua carroça ou moto. Pensemos que nosso país não é pequeno, visto que possui dimensões continentais e que muitos órgãos fiscalizadores não desempenham seu papel por questões políticas, mas pense também que, enquanto houver pessoas comprando estes tipos de alimentos nessas condições, haverá pessoas vendendo estes alimentos dessa maneira. Não coloque a culpa apenas nos órgãos fiscalizadores, faça também a sua parte, rejeitando estes alimentos nessas condições. O melhor fiscal é o próprio consumidor!
REFERÊNCIAS:
http://www.qualidadedoleite.com.br/textos/12/historia.html,
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Regulamento técnico de identidade e qualidade do leite pasteurizado. Diário Oficial da União: 2002.
FORSYTHE, Stephen J. Microbiologia da segurança alimentar. Trad. Maria Carolina Minardi Guimarães e Cristina Leonhardt. Porto Alegre: Artmed. 2002.
GERMANO, Pedro Manuel Leal; GERMANO, Maria Izabel Simões. Higiene e vigilância sanitária de alimentos: qualidade das matérias-primas, doenças transmitidas por alimentos, treinamento de recursos humanos. 2008.
* Sávia Francklin Mansur – Nutricionista
Graduada pela UFV- Viçosa, MG; Pós Graduada em Saúde Pública pela UFV.
Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade pelo UNEC, Caratinga, MG.
Professora do Centro Universitário de Caratinga – UNEC, Caratinga, MG do Curso de Nutrição.
Coordenadora do Setor de Nutrição da SMS de Manhuaçu.
Responsável Técnica pela Unidade de Alimentação e Nutrição – SND – da SMS de Manhuaçu
Mais informações sobre o autor(a): http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4209839P0.