* Camila Beltrame de Souza Caldeira
Dizem por aí que alegria incomoda! Pensando bem, talvez incomode sim, principalmente aquelas pessoas que talvez não desejam tanto o nosso bem como imaginamos que desejassem. Mas e daí? Se nos preocuparmos em demasia com a opinião dos outros tenho a certeza de que não conseguiríamos comprar uma única unidade de sabonete nas gôndolas de farmácia, por exemplo – logo já viria a vendedora afirmando que até poderíamos levar a marca X, mas é a marca Z que promete a “incrível conquista” de menos rugas em duas semanas; e sendo assim, sairia com a sacola cheia de coisas que nem precisava naquele momento.
A reflexão a ser feita então é a seguinte: alegria incomoda a quem realmente importa? Você? Após refletir bastante, cheguei à seguinte conclusão: sim! Algumas pessoas se incomodam com a própria alegria. Como se ser feliz fosse um pecado e, por isso, deixam de correr atrás de algo que poderia lhe causar extrema fonte de êxtase. E sabe por que isso acontece? Simplesmente por medo. Deixa-me explicar melhor: a maioria de nós é criada para viver o dia a dia quase de forma automática – temos nossas obrigações, nossos compromissos (pessoais, profissionais e sociais!), fomos criados para seguir normas e padrões de bons costumes, a viver com rótulos e assim tudo acaba “fluindo no automático”. Quando se assusta, já é sexta feira e já se passaram quatro meses, então chega o natal e as promessas de ano novo que nem sempre são cumpridas, porque você está automatizado. E dessa forma os sonhos ficam adormecidos – sempre adiados para o “quando der eu faço”. Dessa mesma forma deixamos de nos arriscar porque somos “velhos demais” para começar tudo de novo e nos limitamos a viver da forma como realmente gostaríamos. Com isso, abrimos mão de novas conquistas e, talvez, de coisas melhores por nos apegarmos ao que já temos, por não querermos sair da zona de conforto – aquela que já nos oferece o que consideramos bom, mas nem sempre ótimo. Maldito comodismo! É como se soubéssemos que caminhar com uma pedra presa ao sapato nos incomoda bastante, mas ah.. já se passou tanto tempo e, afinal, é só uma “pedrinha”… e aí nos acostumamos com a pedra e passamos a conviver com a existência dolorida que ela nos causa!
Se você está em dúvida se está incluído nesse grupo de receosos, minha dica é que faça uma releitura sobre você mesmo. Pense sobre seus sonhos, sobre os desejos de sua alma, anulando todo e qualquer senão ou condição que lhe faça pensar em outra coisa que não seja o que você realmente deseja. Confesso que não é uma tarefa fácil e que, por diversas vezes, você terá um sentimento de estar sendo egoísta, individualista, aventureira (o). Sinto em dizer, que se assim não o fizer, não chegará ao seu verdadeiro interior – mesmo que após toda análise ainda decida ficar dentro da zona de conforto. É preciso se avaliar; avaliar e decidir se a felicidade pra você é algo que lhe causa medo ou algo que vale a pena correr atrás e lutar por ela, mesmo que para isso você tenha riscos.
Clarice Lispector, renomada e respeitada escritora, criou o termo Felicidade Clandestina – texto lindo de ser lido que nos remete a pensar sobre encontrar a felicidade nas pequenas coisas. Atrevo-me a citar que ela traz esse título por acreditar que “felicidade clandestina” significasse: felicidade em fazer determinada coisa que para ela mesma fosse ilegal. E é assim com todos nós, a verdadeira felicidade nem sempre é vista como legal aos olhos dos que nos rodeiam. Mas ainda assim prefiro pensar que mesmo clandestina essa deve ser vivida. A vida é única! O tempo é a única coisa que após ser consumido não pode ser reposto! Clandestinamente ou não, que tenhamos coragem de requerer a cidadania da nossa felicidade! Ah, e com relação às pessoas que se incomodam com a sua felicidade: opte por aqueles que te deem asas e não amarrem correntes aos seus pés!
* Camila Beltrame de Souza Caldeira
Professora do Centro Universitário de Caratinga. Coordenadora do Curso de Pós Graduação Lato Sensu da UNEC. Graduada em Fisioterapia e Graduanda em Medicina pela UNEC. Especialista em Fisioterapia Cardiopulmonar pela UNAERP – Ribeirão Preto – SP.