Walber Gonçalves de Souza
A formação humana, entre outras coisas, passa pela apropriação de valores e princípios. Acabamos refletindo em nossas vidas o que acreditamos, o que pensamos, os valores e princípios que temos. A formação dos grupos sociais, que formam a sociedade, segue o mesmo raciocínio.
Daí nasce a importância de que os valores e princípios em que as pessoas passam a acreditar, a partir da sua formação, sejam realmente pertinentes com aquilo que podemos chamar e caracterizar de humano, no sentido pleno da expressão.
Quando pensamos em valores e princípios acaba aflorando em nós a ideia de honestidade, compaixão, zelo, cuidado, caridade, fraternidade, retidão, justiça, amor, educação, respeito, honrar pai e mãe, honrar os filhos e filhas… enfim, tudo aquilo que engrandece o ser humano, que o torna amável, querido, um ser social que realmente preocupa com a vida em sociedade.
Agora, como os valores e princípios fazem parte da nossa formação eles podem sofrer variações. Podemos absorver tantas outras coisas, e passar a achar que estes são os verdadeiros valores. Por isso, podemos aprender a fazer um monte de atrapalhadas e pensar que aquilo é algo normal, que deve ser aceito por todos, pois são os valores que foram ensinados e automaticamente aprendidos. Para ilustrar, cito, como um destes valores que aprendemos e acabamos achando que é correto é o “jeitinho brasileiro”. Um costume que não conseguimos nos livrar dele, que parece estar empregando e que acarreta tantos danos para a vida em sociedade.
Estamos precisando repensar os nossos valores, repensar o que damos valor, repensar o que acreditamos ter valor. Estamos precisando repensar quais são os valores que estamos deixando para os nossos filhos e filhas. Estamos precisando repensar quais são os valores que recheiam as nossas relações interpessoais.
Se a sociedade reflete os valores que temos e acreditamos, pare uns minutos e faça uma lista mental de quais são aqueles que estão reinando em nosso meio?! Quais são os valores que vem se destacando e direcionando a vida das pessoas?!
Converse com os nossos jovens e adolescente veja qual é a percepção que eles têm da nossa sociedade, qual a percepção que eles têm da vida. Às vezes em sala de aula, comentando sobre algum assunto que é pertinente ao contexto atual da nossa sociedade, as reflexões em muitos casos são as mesmas, a grande esmagadora maioria dos nossos jovens e adolescentes não acreditam em mais nada, não acreditam em todos aqueles valores que foram citados no início deste texto. E se eles pensam assim, a responsabilidade é nossa, pois são os valores e princípios que eles estão aprendendo de nós adultos, através dos nossos atos e pensamentos.
Estamos deixando um legado estranho, desumano, um legado em que os valores estão totalmente invertidos. A percepção que se tem é que o crime compensa; que a impunidade nunca deixará de existir, haja visto os constantes casos que se escancaram debaixo dos nossos olhos todos os dias; que com “jeitinho” sempre se resolve as coisas; que a mentira alimenta a dita “justiça”; que a aparência vale mais que a essência; que o ser nunca sobressairá sobre o ter, pois é quem tem grana é quem manda. Infelizmente, este é o legado que de fato estamos deixando. Por mais que falamos o contrário é isto que a moçada está pensando.
Os interesses se tornaram tão pessoais, que defendemos bandidos, para continuarmos “bonitos na fita”. Só que esquecemos que a moçada nova está de olho naquilo que fazemos. Assim, ela aprende a ser omissa, a não ter coragem, a achar que o errado também pode ser visto como uma pequena falha, que sempre vai existir, e por isso não precisa ser banida e nem tão pouco combatida. Perpetuando assim, de forma indireta, uma sociedade com ares de falência.
Um dia desses escutei de um aluno o seguinte: “Walbão, no Brasil não vale a pena ser honesto não, veja quantas pessoas trabalham pra morrer, e nunca são reconhecidas, nunca tem direito a nada, nem ao básico para viver; e outros roubam muita grana, ficam alguns dias presos e depois saem como se nada tivessem feito, não devolvem o que roubaram, caem no esquecimento, pois a memória do brasileiro é curta, e vão viver a vida com o bolso cheio de grana”.
Sei que o pensamento do mencionado aluno daria uma outra reflexão, um outro texto, mas nas entrelinhas do pensamento dele começa a reinar os valores do legado maldito que estamos deixando. E que triste legado!
Walber Gonçalves de Souza é professor.