CARATINGA – Há tempos uma polêmica toma conta do centro de Caratinga. A questão é sobre os lavadores de carros que ficam atrás da Catedral de São João Batista. A alegação é que eles usam o espaço público para um fim privado. Ainda existem reclamações sobre a conduta de alguns lavadores. O DIÁRIO foi informado que existe um estudo para que eles deixem este local.
As principais queixas vão em direção ao comportamento de determinados lavadores. Alguns motoristas reclamam que já tiveram seus carros arranhados por se recusarem a lavar seus veículos com estas pessoas. Outros dizem que até tiveram pertences roubados. “Tem gente que acha que a praça é dela. Mas não é. Não concordo com que ocorre atrás da Catedral. Esses lavadores se ‘apropriaram’ dessa área da cidade”, reclama um motorista que preferiu não se identificar.
O OUTRO LADO
Para saber um pouco da vida dessas pessoas, o DIÁRIO conversou com três lavadores de carro que trabalham atrás da Catedral. A reportagem foi ouvir o ‘outro lado’.
Os lavadores disseram que o rendimento diário oscila entre 35 e 70 reais. Todos são unânimes ao afirmar que não são bem vistos pela sociedade. Alegam que por trabalharem na região da Praça Cesário Alvim, são colocados no mesmo “balaio”. “Nesta praça acontece coisa errada. Tem gente que usa droga e que rouba. Mas não temos nada a ver com isso”, se defende um dos lavadores.
Há dois anos Diego Leandro do Nascimento, 19 anos, lava carros neste espaço. Ele disse que caso haja proibição, a situação vai ficar complicada. “Tenho minha filha para criar. Não tenho documento para trabalhar fichado. Se me tirarem daqui não sei o que vou fazer?”, indaga Diego.
Diego afirma que esse é o seu único ganha-pão. “Ninguém nos ajuda, digo isso em relação a Prefeitura. Querem nos tirar daqui, mas não sabem para onde nos levar. Pelo jeito vou ter que voltar a morar na rua, já que não terei condições para pagar aluguel”.
Sobre as queixas de alguns proprietários de veículos, Diego nega que ocorram ameaças contra eles. “Isso não existe. Mesmo quem não gosta da gente pode parar o carro que não vamos fazer nada. Não temos nada contra eles”, disse o rapaz.
Outro lavador de carros entrevistado é André Luiz Siqueira Nunes, 32 anos. Pai de quatro filhos, André trabalha atrás da Catedral há oito anos. Ele admite que a vida não tem sido fácil. “Muita gente fala mal de nós. Dizem que somos ladrões. Claro que tem uns que fazem coisas erradas, mas isso não se aplica a todos. Mas depois que nos organizamos, não vemos mais aqui pessoas usando drogas. Isso antes acontecia, hoje não existe mais e quando acontece, a gente até briga com eles. Não permitimos que usem drogas aqui, pois acaba afugentando nossos clientes”, justifica André.
Para tentar legalizar esta situação, André conta que até um cadastro foi feito. “Queríamos ter uniformes. Assim os donos de carros saberiam com quem estariam tratando. Aqui não obrigamos a nada. Não é obrigado a lavar e nem a dar dinheiro para nós. Mas sempre tem gente com bom coração que nos ajuda. Taxistas procuram nossos serviços. Eu trabalho com honestidade e tenho conquistado a confiança do pessoal”.
Segundo André, a classe só quer trabalhar. “Hoje ninguém reclama mais. Tem tempo que não acontece roubos nos carros que são deixados com a gente. Hoje tá bem organizado o nosso trabalho. O pessoal que era ruim foi tirado fora”.
Para André, pelo fato de trabalharem na praça, as pessoas tendem a generalizar e comparar os lavadores de carros com os pedintes. “Não somos pedintes, estamos aqui trabalhando”, frisa.
Sobre deixar o local, André conta que acatará a decisão, caso a Prefeitura tome essa providência. “Se for pra sair, eu saio. Espero que o prefeito arrume algum serviço pra gente. Não tenho medo de trabalhar. Quem me conhece sabe que eu sou trabalhador. Só não entendo isso, tanta coisa pra mexer em Caratinga e querem mexer com trabalhadores”.
Cleidiane Constância de Araújo também trabalha lavando carros. Mas ela não vem todos os dias, ela só trabalha quando tem alguém para cuidar de sua filha. No dia da entrevista a jovem reclamava que precisava de dinheiro para comprar gás de cozinha. “Querem tirar a gente daqui, mas não sabem o que a gente passa. Pergunta quem mora por perto, mora nestes prédios. Eles sempre conversam com a gente. Só não entendo por que alguns têm tanta raiva da gente. Tratam a gente igual cachorro. Até água já cortaram uma vez e não tivemos como lavar os carros”.
O estudante Alexandre Rodrigues, morador de Inhapim, é um dos que usa os serviços dos lavadores de carro da Praça Cesário Alvim. Ele disse que quando vem a Caratinga sempre deixa o carro atrás da Catedral e nunca teve problemas. “O pessoal me trata muito bem. Lavam direito o meu carro. Penso que eles deveriam continuar trabalhando aqui, pois estão ganhando a vida de forma honesta”.
Sobre essa questão, na segunda-feira (19), a reportagem conversou com Isaías Borges, secretário de Defesa Social. Ele disse que o assunto estava sendo estudado e que depois daria mais detalhes desse projeto.