Silvana Aparecida, mãe de Natália, que foi assassinada aos 10 anos, disse “que não concorda com o benefício ao assassino”
CARATINGA – No último dia 4 de fevereiro, a Justiça concedeu o benefício de saída temporária a Geraldo Marcelino Moreira, o “Homem Aranha”, condenado pela morte de três pessoas, sendo que, dessas, ele ocultou os cadáveres de duas crianças de apenas 10 anos, em 2002, no quintal de sua casa.
De acordo com a sentença deferida pelo juiz Michel Cristian de Freitas, da comarca de Governador Valadares, Geraldo Marcelino passou por exame criminológico, a fim de aferir sua aptidão para gozar de benefícios que impliquem em liberdade. “O exame criminológico foi realizado em 26/11/2020 e nele não constam elementos que sejam óbice à concessão de benefícios na execução penal”.
Ainda de acordo com a sentença, Geraldo Marcelino não possui em seu desfavor falta disciplinar de natureza grave.
Dessa forma o juiz concedeu ao sentenciado a autorização para saída temporária para visita à família, por sete dias de cada vez, num total de trinta e cinco dias por ano de prisão, respeitado, entre uma e outra de referidas saídas temporárias o prazo mínimo de intervalo de 45 dias.
Para a saída temporária foi estabelecido pela Justiça que Geraldo Marcelino forneça o endereço onde reside a família a ser visitada; recolhimento à residência visitada no período noturno, das 20 horas até às 6 horas do dia seguinte, e proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
O juiz determinou que a Polícia Militar de Caratinga fosse oficiada da decisão. A reportagem entrou em contato com o comandante do 62º Batalhão de Polícia Militar, tenente Coronel André Pedrosa, que disse que ainda não houve o comunicado a respeito da data prevista e se Geraldo Marcelino realmente sairá do estabelecimento penal. “Essas autorizações são prévias e nem sempre são confirmadas, mas sempre somos comunicados a respeito”, afirmou o comandante.
Atualmente o Homem Aranha continua na Penitenciária de Governador Valadares. A reportagem também tentou contato com o advogado de “Aranha”, Anderson Parreira, mas não obteve resposta.
“UM HOMEM DESSE DEVERIA ESTAR MORTO”, AFIRMA SILVANA, MÃE DA NATÁLIA
A reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA procurou pelas mães de Thaís e Natália, que ainda residem no bairro Esperança, para ouvir a opinião delas sobre o benefício concedido ao homem que matou suas filhas.
A mãe de Thaís não foi encontrada, mas a senhora Silvana Aparecida da Silva Moraes, 59 anos, mãe da Natália, mesmo tratando de uma forte depressão desde que perdeu a filha, aceitou falar com a reportagem. O olhar de dor e sofrimento da senhora Silvana, acompanhado pela reportagem quando a ossada da filha foi encontrada, continua o mesmo, e ela foi enfática ao dizer que jamais concordará com qualquer benefício ao “monstro”, que destruiu sua família.
“Não concordo, um homem desse deveria estar morto, ele não tem direito a nada, tem que pagar o que fez até morrer na cadeia, não pode receber esse benefício, perdi minha filha e até hoje não conformo, não aceito isso”, disse Silvana com muita revolta.
Hoje, Natália estaria com 29 anos. Dona Silvana contou que após a morte da menina, perdeu também um filho assassinado e há cinco meses o marido faleceu. “Passei a ter depressão, tomo cinco remédios por dia, não sou a mesma de antigamente, meu sofrimento dobrou, esse homem não pode sair da cadeia”, reafirmou Silvana.
RELEMBRE O CASO
Os crimes praticados por Geraldo Marcelino Moreira ficaram marcados na história de Caratinga por ter matado quatro garotas.
O desespero começou em 2002 com desaparecimento e depois o encontro do corpo de Juliana Abdalla Guilherme, à época com 26 anos, em uma mata, onde ele teria combinado de entregar o aparelho celular do amigo dela que havia sido furtado e sido vendido para ele.
Em dezembro de 2002, Homem Aranha foi preso com o celular, mas negava o homicídio de Juliana, porém quando interrogado pela polícia, levou os policiais em vários locais diferentes no Morro da Antena, dizendo ter deixado o corpo ali. Depois, Geraldo confessou o crime de acordo com os autos judiciais e disse que o corpo estava na “Lagoa do Sumidouro” zona rural de Caratinga, onde os policiais encontraram partes do corpo queimado e a arcada dentária, onde foi possível certificar que era de Juliana.
Ainda no ano de 2002, o desespero tomou conta de mais duas famílias e de toda a cidade. As meninas Thaís Grasielle Inácio e Natália Celeste da Silva Moraes, de 10 anos à época, desapareceram juntas. Várias campanhas para encontrá-las foram realizadas. Um primo das meninas saía em um carro com microfone pelas ruas da cidade fazendo um apelo para que fossem encontradas. Foram anos de tristeza, procura e enganos, porque em todo momento pessoas entravam em contato com a família dizendo que tinham visto as meninas em algum lugar do país.
Na época o DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou as mães das meninas, que por fim, a única coisa que queriam era encontrar os corpos de suas filhas para enterrar.
Foram três anos de aflição, apenas em 2005, três ossadas foram encontradas enterradas no quintal de Homem-Aranha. Tratava-se de Thaís, Natália, e acreditava-se que a outra ossada fosse de uma garota chamada Josiane Karine, que desapareceu em novembro de 2002, mas os exames deram negativos para as ossadas, e nunca mais ninguém falou do caso de Josiane.
Mesmo com evidências tão claras e ao mesmo tempo assustadoras, o monstro “Aranha” continuava negando a autoria dos homicídios.
As mães das meninas conseguiram enterrar as filhas, mas o estrago emocional era enorme, por saber que dentro do caixão só tinham ossos.
Em agosto de 2004, “Homem-Aranha” foi preso e levado para penitenciária de Ipaba, e condenado há 27 anos pela morte de Juliana Abdalla.
Em 28 de abril de 2011 “Homem-Aranha” foi julgado e condenado há 48 anos de prisão pelas mortes de Thaís e Natália.
Geraldo Marcelino está na cadeia há 16 anos, e agora se encontra no presídio de Governador Valadares para cumprir sua pena de 75 anos.
- Homem Aranha está preso em Governador Valadares (Foto: Arquivo)
- Silvana, mãe de Natália, sofre de depressão desde que perdeu a filha
- Thaís (foto: Arquivo)
- Natália (Foto: Arquivo)
- Juliana Abdalla foi assassinada aos 26 anos (Foto: Arquivo)