(Noé Neto)
Na mitologia grega, um ponto que antecede a famosa guerra que destruiria a cidade de Tróia é o julgamento de Páris, um jovem sábio que, apesar de ser um mero mortal, foi encarregado por Zeus a escolher entre três poderosas deusas: Afrodite, Hera e Atena, qual era a mais bela. O que ele não sabia é que tudo isso foi instigado por Éris, a deusa da discórdia.
Segundo o mito, a Páris foi oferecida Sabedoria suprema por parte de Atena, riqueza e reinado por parte de Hera e o amor de Helena, a mais bela mulher do mundo, por Afrodite. O jovem escolheu a paixão, passando a ser o protegido de Afrodite e odiado de Atena e Hera. Como prêmio, ganha Helena, como castigo dá início à grande guerra.
O mito antigo nos traz reflexões profundas sobre o presente, de uma forma especial em relação à política. Ponderações à cerca dos julgamentos que fazemos, sobre as recompensas prometidas e principalmente no que se refere as consequências das escolhas tomadas.
Ao que parece, Éris continua ofertando a maçã de ouro à mais bela, espalhando o que possui de melhor: a discórdia. De uma forma muito intensa e atual, agora a maçã foi substituída pelas ações das redes sociais. Através delas, o fã clube de Afrodite, os discípulos de Hera e os devotos de Atena, vão gladiando em torno de argumentos vazios ou inconsistentes, se tornam inimigos pelo disse e me disse e aos poucos formam um exército pronto para adentrar em uma guerra vazia, que só busca atender a luxúria dos desejos alheios.
Há aqueles que escolheram Atenas, mas não entendem que a sabedoria, apesar de ser o mais forte instrumento de mudança, sozinha, sem os outros dons, não sustenta uma nação. É preciso ser sábio, mas também é preciso estar disposto a utilizar dessa sabedoria em benefício de todos, fortalecendo, embelezando e amando.
Também existem os que já escolheram Hera e a riqueza, o poder, por ela ofertado. Os desejos desses são muito claros, pois não conseguem disfarçar a cobiça. O que eles desconhecem é que o ouro mal distribuído ou mal aplicado não sustenta os impérios que logo se tornam ruínas.
Muitos, como Páris, escolheram a paixão e com ela a cegueira imposta pelo amor desmedido à Helena. Nesse caso, pouco importam as evidências do comprometimento anteriormente firmado por ela, nada importa a traição aos princípios, apenas a paixão prevalece. A esses, a decepção da traição é quem rasgará o véu e trará junto a vergonha e o desespero.
Assim, as redes vão criando fantoches da discórdia. Os acordos de destruição vão sendo traçados diante dos nossos olhos troianos e somos facilmente manipulados por telas que produzem números, frases e dados, facilmente editados, manipulados e principalmente propagados por uma legião de admiradores iludidos.
O que Páris não entendeu é que não é a maçã de ouro que interessava às deusas, mas sim a vaidade de ser aclamada a escolhida. O que precisamos entender é que enquanto escolhermos nossos representantes segundo nosso interesse particular, vaidade e paixão, veremos os portões continuarem se abrindo a cada pleito para um novo cavalo de Tróia, disposto a destruir tudo, inclusive quem o escolheu.
Busquemos o Oráculo de Delfos, enquanto se pode achá-lo e tomemos consciência de nossas decisões, enquanto não nos é tirado o direito de decidir.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel