Redes sociais e os eSports são alguns dos principais motivos para os jovens estarem online o tempo todo
Ao contrário dos adultos que entram, navegam e pesquisam informações na internet, os jovens estão conectados a ela constantemente. Este “estar na internet” gera para os jovens uma necessidade de conciliar uma diversidade de atividades, pois a rede é vivenciada por muitos como uma espécie de extensão do próprio corpo. As interações com seus pares, as descobertas, as emoções, tudo acontece online, causando a impressão de que ela reflete com exatidão o mundo real.
Entretanto, é preciso ter claro que as redes sociais possuem algoritmos que selecionam o conteúdo postado a ser distribuído nas timelines dos usuários. Esses algoritmos trabalham para não desagradar o usuário. É isso que dá a impressão de que todos pensam igual a você. Este fenômeno, também chamado de “bolha”, faz com que o universo de possibilidades e descobertas do jovem fique muito restrito e afete seu desenvolvimento. Por isso é preciso equilibrar o tempo conectado via tecnologia com a vivência cotidiana de interações e descobertas, sem a mediação da internet.
Em outras palavras – a digitalização, tão exaltada em diversos campos de atuação, especialmente nos negócios, chegou para ficar nas interações humanas. E se isso não é reversível, precisa ser ao menos administrado. Uma recente pesquisa feita em dez países, incluindo o Brasil, aponta que os jovens entre 15 e 18 anos do país não desgrudam do celular: 64% costumam checar as redes sociais assim que acordam. Dentre os entrevistados no Brasil, 55% acreditam que seu smartphone os tornam mais espertos e legais. Dentre os aplicativos, os brasileiros também são os maiores usuários do Facebook (94%), Youtube (85%) e WhatsApp (84%). São números muito acima da média mundial.
A mesma pesquisa corrobora a tese de que o celular virou uma espécie de extensão do corpo dos jovens de hoje em dia. 88% dos entrevistados gostariam de ter um dispositivo conectado à rede mundial de computadores dentro do próprio braço. Por isso que a maioria deles respondeu que, fora do seu mundo virtual, se sente sozinha. No Brasil, 68% dos adolescentes ficam ansiosos e solitários quando estão sem internet.
eSports – Vício x carreira
Também a prática esportiva no campo virtual vem ocupando um espaço muito grande na vida dos jovens, com os campeonatos e torneios de eSports cada vez mais populares e atraentes. Ao observar a quantidade massiva de tempo em que jovens passam jogando na internet desde que isso passou a ser possível, a indústria de games criou bases para que isso se tornasse uma profissão. Nasceu aí um ciclo virtuoso, onde indústria e jovens talentosos em jogos online conseguem lucrar e ter sucesso juntos. Hoje chamada de “eSports”, a modalidade movimenta milhões de dólares ao redor do mundo e mobiliza milhares de jovens, inclusive do Brasil.
Se passar tempo demais online pode afetar o desenvolvimento social dos jovens, direcionar essa energia para atividades produtivas, como as competições online que dão prêmios e prestígio, pode ser um bom caminho. O importante é ter equilíbrio. Ao menos é o que apontam estudos do setor. Há um debate acadêmico entre psicólogos e outros profissionais da saúde sobre os efeitos das mídias eletrônicas no comportamento de jovens. Ao longo das últimas décadas, pesquisas já foram conduzidas para investigar os efeitos negativos dos jogos e da vida online, como dependência, depressão e agressão.
Muitos estudos acadêmicos, sobretudo as realizadas no início dos anos 2000, concluíram que uma alta dosagem de videogames violentos faz as pessoas agirem de maneira um pouco mais rude do que agiriam de outra forma, pelo menos por alguns instantes depois de jogarem. Várias pesquisas sérias apontaram também que as pessoas que consomem jogos violentos podem ser dessensibilizadas em relação a estímulos emocionais, além de verificarem menor empatia em seus círculos sociais e aumento de agressividade. Tudo isso é fruto do desequilíbrio entre o real e o virtual.
Por outro lado, temos exemplos de jovens que garantiram uma boa vida para si e para suas famílias por meio de jogos considerados violentos. O americano Dominique “SonixFox” Maclean é uma estrela dos jogos de luta, por exemplo. Dominando inicialmente o cenário competitivo dos jogos da NetherRealm Studios, no caso as franquias Mortal Kombat e Injustice, ele também mostrou seu talento em outros games, como Dragon Ball FighterZ.
Tendo conquistado a EVO (The Evolution Championship Series, torneio de games de luta mais importante do mundo) três vezes, com dois títulos em Mortal Kombat X (2015 e 2016) e um em Dragon Ball FighterZ (2018), SonixFox Maclean já acumula mais de US$ 526 mil (cerca de R$ 2 milhões) em premiações. Diante deste cenário dúbio e desafiador, é importante não demonizar a tecnologia e fazer com que esses jovens saibam separar os valores de uma vida em sociedade com os prazeres do isolamento virtual.