Embora a maioria dos casos graves aconteça em idosos, ninguém está isento
CARATINGA – O novo Coronavírus deveria poupar os mais jovens, segundo informaram as autoridades sanitárias durante os primeiros meses da pandemia. Entretanto, o aumento do número de casos e até mortes precoces vêm sendo registradas nos úúltimos meses em vários países, preocupando as famílias e intrigando médicos.
O vírus, que até então afetava predominantemente pacientes idosos com comorbidades, está cada dia mais presente entre a população jovem e sem nenhuma doença pré-existente. O caratinguense Thiago de Souza, de 31 anos, foi transferido para a UTI do Casu-Hospital Irmã Denise no último mês de dezembro, após apresentar sintomas durante vinte dias com teste rápido positivo para Covid-19. Mesmo sem nenhuma comorbidade, Thiago teve crises convulsivas, perda de memória e trombose venosa cerebral, um tipo de AVC que acontece quando um coágulo de sangue entope uma das artérias do cérebro, podendo levar à morte ou gerar sequelas graves como dificuldades na fala, cegueira ou paralisia. “O meu maior desafio foi não saber com que eu estava lidando, porque quando se fala em Covid, todos pensam em falta de ar, de paladar essas coisas. Fiquei com medo nos primeiros dias, porque tive crise convulsiva, pelo fato de eu ter 31 anos e uma trombose na cabeça, era algo sem explicação”, comenta Thiago.
O neurologista do Casu – Hospital Irmã Denise, Felipe Duarte, acompanhou o período de internação de Thiago. De acordo com o médico, a Covid-19 não causa problemas apenas nos pulmões. “Os problemas de pacientes infectados pela Covid-19 não estão ligados apenas à inflamação nos pulmões, mas também à coagulação excessiva. Este estado de coagulação excessiva pode acarretar eventos trombóticos, dentre eles a Trombose Venosa Cerebral. Esta é uma doença neurológica, um tipo de AVC que acontece quando coágulos de sangue ficam parados obstruindo as veias cerebrais, chamadas de seios venosos. Estas veias são muito importantes, pois, drenam todo o sangue do cérebro. Portanto, a obstrução desta drenagem pelos coágulos nos seios venosos inicia uma cascata de eventos intracranianos, podendo acarretar o inchaço do cérebro ou de partes dele, dores de cabeça persistentes, alteração da visão, da consciência, sonolência e até mesmo hemorragias intracranianas e coma.”
O médico Felipe Duarte esclarece que a demora na identificação e tratamento de forma adequada pode levar à piora do quadro clínico e dos sintomas, e o surgimento de complicações e formas graves da doença.
“O exame inicial feito na emergência é, geralmente, a tomografia de crânio, utilizada para avaliar os pacientes atendidos com queixas frequentes, como cefaleia severa. A angiotomografia ou angiorressonância magnética permitem complementar o estudo e devem ser realizados nos pacientes com suspeita desta condição. O tratamento principal envolve iniciar imediatamente uma medicação anticoagulante específica. A demora em se identificar e tratar de forma adequada pode levar à piora do quadro clínico e dos sintomas, e o surgimento de complicações e formas graves da doença. Daí a importância de buscar atendimento em local com profissionais treinados e capacitados para o reconhecimento desta condição e imediato tratamento diante de uma suspeita.”
Após dezesseis dias de internação, Thiago recebeu alta hospitalar e, curado da doença, ele voltou ao hospital para agradecer a equipe. “Eu não tenho palavras para falar da capacidade médica deles, Dr. Felipe, Dr. Diogo, são pessoas que além de serem ótimos profissionais, tem um coração imenso. Criei um sentimento de amor pela equipe de enfermagem, psicólogos e médicos, saí de lá maravilhado. Voltei lá para dar o meu agradecimento, penso que se eu tivesse no melhor hospital do país pagando uma fortuna, eu não teria sido tão bem atendido como fui no Casu”, finaliza Thiago.