CARATINGA – O Janeiro Branco é dedicado a colocar os temas da “Saúde Mental” em evidência na sociedade, chamando a atenção dos indivíduos, das autoridades e das instituições sociais para tudo o que diz respeito aos universos mentais, comportamentais e subjetivos dos seres humanos.
Criada em 2014 por um grupo de psicólogos de Minas Gerais, a campanha chega ao seu sétimo ano no Brasil com a proposta de um mundo no qual as pessoas tenham mais responsabilidade consigo mesmas e com as outras. A questão que motivou a criação da campanha é bem simples (e muito séria): as pessoas estão adoecendo em quantidade e ritmo preocupantes. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em torno de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão. O número é equivalente a 5,8% da população, colocando o país em segundo lugar no ranking americano (atrás apenas dos Estados Unidos).
Trata-se de uma doença mental que, segundo o estudo, pode alcançar de 20% a 25% das pessoas no Brasil. A ansiedade, por sua vez, afeta quase 20 milhões de brasileiros (cerca de 9,3% da população). Isso inclui o transtorno obsessivo-compulsivo, problemas de fobia, estresse pós-traumático e até mesmo ataques de pânico.
Já o suicídio é apontado pelo Ministério da Saúde como a quarta maior causa de mortes de jovens no país. São números expressivos e que, muitas vezes, ultrapassam outros indicadores relacionados à saúde e ao bem-estar da população.
Para explicar melhor a importância do cuidado com a saúde mental, a reportagem conversou com a psicóloga clínica e organizacional, Isabella Gomes.
Qual o principal objetivo da campanha “Janeiro Branco”?
O “Janeiro Branco” é uma campanha ao estilo da Campanha Outubro Rosa (conscientização sobre câncer de mama), Novembro Azul (conscientização sobre a saúde do homem) e do Setembro Amarelo (conscientização sobre suicídio). O grande objetivo do Janeiro Branco é chamar a atenção de toda a sociedade para as questões e necessidades relacionadas à Saúde Mental e Emocional tanto das pessoas, como das instituições humanas. No que diz respeito às instituições humanas, me refiro à saúde das relações dentro das instituições. Sejam elas a família, trabalho, escolas e diversos contextos em que transitamos na vida e nos esbarramos com a nossa humanidade e a do outro. Esse movimento preconiza que uma humanidade mais saudável pressupõe a construção de uma cultura da Saúde Mental no mundo! A campanha Janeiro Branco tem o propósito de colocar a saúde mental e emocional em evidência e convidar as pessoas a pensarem sobre suas vidas, a qualidade de seus relacionamentos, suas emoções, pensamentos e comportamentos.
Campanhas são para mudar paradigmas, superar tabus, desmontar preconceitos, gerar informações e colocar conhecimentos em pauta. É para educar e sensibilizar as pessoas, para mudar ou até mesmo salvar vidas!
Por que “Janeiro Branco”?
Porque, o primeiro mês do ano, simbolicamente e culturalmente, permite às pessoas uma oportunidade de fazer uma pausa, entre o fim e o início de algo, para recarregar as energias, para avaliar o passado e planejar o futuro. As pessoas em geral tem o costume de pensarem e refletirem sobre suas vidas, sobre suas relações sociais, condições de existência, em suas emoções e em seus sentidos existenciais. É um período de reflexões e geralmente os indivíduos fazem planos, estabelecem metas para uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, é um mês propício para ressaltar que a saúde mental e emocional precisa de atenção.
E, esse início de novo ciclo, que a inauguração de um ano novo traz, passa aquela ideia de que temos “folha ou em uma tela em branco” diante de nós e assim podemos ser inspirados a escrever ou a reescrever nossas histórias de vida.
O Janeiro Branco pretende estimular iniciarmos o ano favorecendo uma cultura da saúde mental.
E por que falar sobre saúde mental justamente nesse momento?
Quando conseguimos cultivar uma mente saudável isso resulta em equilíbrio e bem estar e é apenas assim que conseguimos construir uma vida significativa e com qualidade. Na verdade, para que todas as outras áreas importantes da vida funcionem, é preciso dar atenção a essa parte. Não há como viver bem negligenciando os aspectos mentais e emocionais.
E falar sobre o assunto é uma das principais e melhores formas de se promover a Saúde Mental e emocional dos indivíduos e das instituições!
Além de ser um momento oportuno para refletir, examinar a vida e recalcular rotas, falar sobre como anda a saúde das nossas emoções é extremamente importante para prevenir, para ajudar a identificar quando é sofrimento e pedir ajuda, para diminuir o preconceito e para gerar mais empatia.
Falar de Saúde mental e emocional tem se tornado algo cada vez mais importante e extremamente atual.
Como podemos identificar que estamos precisando de ajuda, e o que fazer?
Na verdade, o sofrimento mental faz parte da vida. Todos experimentamos dores emocionais em algum momento. E em algumas pessoas esse sofrimento pode se agravar e serão acometidas por transtornos psicológicos, que precisam ser conhecidos e tratados. Algo que ajuda a identificar o desenvolvimento de um problema psicológico é avaliar o tempo que os sintomas permanecem no seu dia a dia e se esses sintomas são recorrentes.
Então a partir do momento em que eles começam a aparecer de forma contínua, trazendo prejuízos às atividades diárias, é o momento de parar e de procurar a ajuda de um profissional. O sinal de alerta e a atenção é quando os conflitos passam a ser recorrentes e prejudiciais, sem observação de melhora. A psicoterapia é uma grande aliada no tratamento de problemas psicológicos.
Os principais sintomas de adoecimento mental a serem observados são:
– Tristeza intensa, angústia, choro fácil, apatia.
– Perda de interesse pelas atividades que eram prazerosas.
– Diminuição da energia ou cansaço excessivo.
– Baixa autoestima e sentimento de inferioridade.
– Culpa e autocrítica excessivas.
– Alterações de sono e de apetite significativas.
– Dificuldades de raciocínio, concentração ou memória.
– Desesperança, isolamento.
– Agitação, irritabilidade.
– Falta de desejo sexual, dores pelo corpo e de cabeça frequentes.
– Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
É importante conhecer esses sintomas para se avaliar, e saber quando pedir ajuda ou até mesmo quando oferecer ajuda a algum colega ou familiar. Saber que se trata de sofrimento mental e possível adoecimento, muda o nosso olhar.
Quais as principais doenças mentais que estão afetando a população atualmente?
É muito interessante reconhecermos o quanto nossa sociedade anda adoecida emocionalmente. Por isso, é importante conhecer alguns dados, que são no mínimo alarmantes!
Nos últimos anos, os transtornos mentais tiveram um aumento considerável. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Mesmo assim, parte dessas pessoas não possuem assistência médica adequada.
Precisamos falar mais, ouvir mais, até que a saúde mental vire parte do dia a dia das pessoas.
O que pode ser feito para promover a saúde mental?
Cuidar da saúde mental não é apenas tratar transtornos que podem estar te acometendo, na verdade sempre é importante cuidar da nossa saúde mental. Quando se fala de prevenção, todo cuidado conta, todo cuidado é importante!
O cuidado com a saúde mental, geralmente é despertado após adoecimento, mas não precisa ser assim, podemos cuidar de construir práticas que podem nos ajudar a prevenir. Precisamos fazer esse investimento em nós mesmos.
Podemos ter algumas atitudes para manter nossa saúde mental boa e saudável. São atitudes que promovem mais equilíbrio emocional, para lidar com os desafios e momentos difíceis.
Algumas dessas práticas são:
– Cuidar da saúde física: Nossa bioquímica corporal não funciona bem quando nos alimentamos de forma não saudável, ou quando falta exercício físico ou quando sobra estresse – problemas hormonais atrapalham o funcionamento cerebral, o bom funcionamento dos neurônios. O que pode facilitar desenvolvimento de processos adoecedores: ansiedade, depressão, dificuldades de memória…
– Cuidar das emoções: É importante aprender a identificar os sentimentos e também aprender a lidar com emoções difíceis, como a raiva, frustração e tristeza.
– Cuidar dos pensamentos: Alimentar pensamentos mais produtivos trabalhando em cima da melhoria daquilo que preciso resolver.
– Aprender a administrar o estresse: Diminuir a autocobrança e exercitar a autocompaixão. Tomar consciência a respeito de contextos estressantes com relacionamentos, trabalho, família. Uma aprendizagem sobre limites, saber quando dizer sim e quando dizer não.
– Ter um propósito de vida: Refletir sobre o que você quer pra sua vida. Não se tornar vítima diante da vida e buscar formas criativas de fazer a vida melhorar, para crescer, evoluir, construir…
A ideia é que, ao parar para fazer essa reflexão, você possa escolher algo que você queira implementar na sua vida e que você possa tomar a decisão de apenas começar… Apenas comece a realizar esse movimento de mudança e de saúde na sua vida.