Marilda e Marília, enfermeira e técnica de enfermagem respectivamente, falam sobre o dom de cuidar daqueles que precisam
CARATINGA- No último dia 8 de março foi comemorado o ‘Dia Internacional da Mulher’. E como algumas pessoas costumam dizer que o dia da mulher deve ser comemorado todos os dias, o DIÁRIO DE CARATINGA segue com homenagens em referência a esta data e conta a história das irmãs gêmeas Marilda Heloísa Gonçalves e Marília Helena Gonçalves, 51 anos.
Elas decidiram seguir o mesmo caminho em suas vidas profissionais. Uma é enfermeira e a outra, técnica em enfermagem. Na família somente elas atuam na área da saúde, mas uma sobrinha está no 5° período de Medicina.
INSPIRADORA
Marilda foi a grande inspiração de Marília. Ela conta que após fazer um curso técnico, deu início à faculdade em 2008, concluída em 2013. “Incentivei a Marília a fazer o técnico, só que eu queria que ela fizesse faculdade também, mas ela preferiu ficar só no técnico e está feliz no que está fazendo. Sempre me identifiquei com a área. Trabalhei em 1986 no hospital, na recepção, depois fui convidada a trabalhar no raio X e comecei a gostar. Trabalhei um tempão com um cirurgião plástico e gostei. Sempre estava ligado à saúde”.
Há 31 anos atuando na saúde, Marilda afirma que muita coisa mudou. “A saúde está sucateada. Do tempo que trabalhei no hospital em 1986, não tinha o que hoje tem e era melhor. Não tinham ambulâncias para buscar os pacientes em casa, fazer as transferências. Todas as transferências as ambulâncias eram pagas. Hoje, que o SUS fornece isso tudo, tem dia que está difícil, a ambulância está quebrada, a vaga demora a sair, mesmo a pessoa tendo dinheiro para pagar o médico da outra cidade não quer receber. Então, hoje está muito pior. Melhorou bastante em alguns aspectos, mas já esteve bem melhor”.
A profissão exige controle emocional. A todo o tempo, inúmeros pacientes chegam para atendimento, uns com diagnósticos mais leves e outros mais graves. Marilda afirma que é nestes momentos que o profissional precisa mostrar sua preparação. “Quando chega algum paciente, em óbito ou até mesmo muito grave, que a família está bem desestabilizada, a gente não pode ficar se envolvendo emocionalmente, senão os familiares vão sentir assim: ‘Que falta de segurança é essa desse profissional? Meu filho está lá grave e ao invés dela estar lá cuidando está aqui chorando’. Às vezes até a própria condição da vida cria na gente uma barreira, que tem gente que vê isso como frieza, mas, eu não vejo. Vejo como uma barreira que criamos para não perder o equilíbrio emocional. Para dar uma força ao familiar, para ele ficar mais seguro. Até o paciente que às vezes chega grave, com muita dor. O pior é o acidentado que fica ali: ‘Me ajuda, me salva’. Então a gente tem que saber dosar bem as palavras para poder acalmar aquele paciente, que ele tenha uma evolução de acordo com a medicação e para melhorar”.
Marilda acrescenta como ela acredita que deve ser a relação com paciente. “A gente deve saber nos colocar no lado do paciente ou até mesmo do acompanhante. A gente tem que saber entender e que um dia pode estar o inverso. Eu posso estar como um paciente e um colega estar cuidando de mim. Tenho que me compadecer daquela dor, entender, porque a lei reza o seguinte, que um dia estou desse lado, mas amanhã do lado de lá”.
Questionada se já pensou em mudar de profissão, ela respondeu prontamente que não. “Me sinto realizada. Tenho vontade de fazer uma outra pós, pois já tenho uma e quero fazer mais uma e pretendo me especializar em alguma área da enfermagem mesmo”.
Com anos de experiência no cargo, a enfermeira dita quais são as características para seguir na carreira. Ela afirma que o salário do profissional ainda não teve melhoria significativa, mas tem esperança. “Para ser enfermeiro, a pessoa tem que ter dom. Não adianta falar que quer ser enfermeiro, porque quer cuidar. A gente tem que cuidar, mas tem que ter dom, porque já aconteceu de eu estar lá no meu trabalho e a minha outra irmã chegou lá amparada. Eu prontamente ajudei o médico a conduzir tudo ali, até finalizar, com o óbito e em tempo algum me desestruturei. Se não fosse o dom, acho que não teria conseguido chegar até a médica concluir que minha irmã foi a óbito. A pessoa nasce para ser isso, porque na enfermagem a gente não ganha dinheiro, mas, reconhecimento. Todos os lugares que já trabalhei, fiz grandes amizades, até hoje sou requisitada a trabalhar além de onde trabalho, que é no Pronto Atendimento”.
INSPIRADA
Já Marília fez o curso técnico no ano de 2010 e reconhece que a irmã teve papel fundamental na sua escolha. “Foi vendo a Marilda. Despertei interesse de trabalhar na saúde vendo ela. E eu gosto de trabalhar na saúde”.
Ela trabalha no Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD). Para ela, o mais complicado na profissão é lidar com os pacientes que estão extremamente fragilizados e levar uma palavra de conforto. “No SAD a gente se envolve muito com a família e com o paciente. É paciente terminal do câncer. Estamos ali, próximo, e daqui a pouco esse paciente já tem uma confiança tão grande na gente, que quando chegamos, sabemos que estamos indo ali levar o alívio da dor, uma conversa, então pra mim isso é o mais difícil. É um acompanhamento familiar, trabalho com o doutor Igor e a doutora Mônica; estamos sempre juntos do paciente. Se ele sente dor às 2h, temos que sair esse horário para ir lá levar o conforto para ele. São pacientes que já estão ali sabendo mesmo o que pode acontecer a qualquer momento. Mas, me relaciono muito bem com todos eles, tanto com a família quanto com o paciente”.
Assim, o profissional que trabalha diretamente na residência do paciente acaba criando laços de afeto, como destaca Marília. “Tínhamos uma paciente no Alto da Antena, que quando o SAD chegou sentimos nela uma certa resistência. Chegou médico, equipe da enfermagem e com o passar do tempo, com as visitas ela foi se soltando mais e quando a gente chegava ela falava: “Chegaram meus anjos”. Doutor Igor ainda falou: ‘Me chamou de meu médico, vou até tirar uma foto com você agora’. E realmente ele tirou a foto com ela, mas perdemos ela na semana passada. Ela ficou com a gente por dois anos”.
Assim como a irmã, Marília também nunca pensou em mudar de profissão e concorda que atuar na enfermagem é um dom. “Sou professora, dei aula 10 anos, trabalhei na creche e depois parti para a área da saúde e estou já há cinco anos. E gosto muito. É o que a Marilda disse. É dom, tem que gostar muito do que faz. Porque se não gostar, não segue a diante, para no caminho. Nunca tem que estar cansada, mas sempre pronta para atender e cuidar. É o que a gente faz. Sempre cuida com carinho. Saindo de casa, deixando filho em casa, mãe, para cuidar. Deixa de cuidar da casa da gente para cuidar daquele que está no leito precisando”.
DIA DA MULHER
Em referência ao Dia da Mulher, Marilda finaliza deixando uma mensagem: “Parabenizo as mulheres pelo dia 8. Hoje a grande maioria que está no mercado são as mulheres. Elas são mais cuidadosas, atenciosas, precavidas. As mulheres poderiam engajar mais para buscar e tomar conta, porque aconteceu esse problema da Dilma, mas acho que ela não entrou com a intenção de deixar o País da forma que está. Acho que ela foi mal assessorada. É continuar buscando os avanços”.