CARATINGA- Como encerramento da Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Caratinga, realizou a inauguração do Centro Dia ‘Piter’. O evento contou com a presença de usuários, familiares e amigos da instituição.
O Centro-Dia de Referência é uma unidade pública especializada que atende jovens e adultos com deficiência que não têm autonomia e dependem de outras pessoas. As famílias dessas pessoas também são atendidas no Centro-Dia. Nesta unidade são desenvolvidas atividades que permitam a convivência em grupo; cuidados pessoais; fortalecimento das relações sociais; apoio e orientação aos cuidadores familiares; acesso a outros serviços e a tecnologias que proporcionam autonomia e convivência.
André Pena, presidente da Apae, explica como será o funcionamento. “O Centro-Dia tem como objetivo acolher os usuários que já concluíram o ensino, que têm 18 anos ou mais e que têm um grau mais acentuado de deficiência intelectual e múltipla. O objetivo é mostrar a eles um convívio social e familiar mais amplo, dinâmico e voltado à necessidade deles, à realidade deles. São crianças que a probabilidade eles estarem ou serem incluídos no mercado de trabalho são poucas”.
Conforme André, uma equipe multidisciplinar estará à disposição para atendimento. “Fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional, educadora, assistente social e uma coordenadora do setor, que vai ministrar esse curso e fazer esse acompanhamento não só aos usuários, como à família, voltado a essa inclusão social, haja vista que antes eles estavam na escola da Apae. E como já concluíram o ensino regular têm essa necessidade, é mais um apoio que a Apae de Caratinga está oferecendo aos seus usuários”.
34 usuários da Apae de Caratinga serão atendidos no espaço. “Eles serão atendidos de acordo com a necessidade deles. Inicialmente será um atendimento mais amplo, frequente e regular, à medida que forem evoluindo vamos aumentando essa lacuna de atendimento”.
A HOMENAGEM
A inauguração também foi marcada pela emoção, afinal, Pedro Rocha Filho, o Super-Herói de Caratinga foi homenageado, dando nome ao Centro-Dia – Serviço Especializado de Assistência Social para Pessoas com Deficiência. Piter, como era conhecido, iniciou na Apae em 23 de março de 1977, onde permaneceu até setembro de 1987.
O irmão de Piter, Flávio Furtado da Rocha, não conteve as lágrimas ao falar sobre a homenagem. “Essa homenagem é dolorosa, porque na realidade eu não queria essa homenagem, queria ele aqui do meu lado. Eu queria que tivesse a inauguração do Centro que é muito importante, mas que ele pudesse estar aqui participando desse evento também. Isso marca porque ele fez parte da história da cidade, é uma homenagem singela, carinhosa, que vai ficar e pra gente da família representa muito. É uma demonstração de amor e carinho que o pessoal tem por ele, pra gente é muito importante”.
Flávio ainda se recordou que, quando era criança, seu pai lhe ensinou o caminho da Apae e ele era o responsável por levar e buscar Piter todos os dias. “Eu buscava, às vezes eu até queria ficar na Apae participando das oficinas que ele participava, então em alguns momentos eu desejava participar, porque era um momento de lazer, que ele gostava de estar participando. Vejo a evolução da Apae e fico muito feliz”.
Quando Piter faleceu, em junho de 2019, muitas pessoas passaram a questionar sobre a família dele. Por isso, Flávio fez questão de contar um pouco sobre esta história. “Nós perdemos nossa mãe, a gente era muito novo, logo depois minha irmã mais velha foi meio que obrigada a ir para o Rio de Janeiro e depois a caçula teve que sair. Acabei arrumando um emprego fora, fui morar em outra cidade, inclusive levei o Pedro para morar comigo depois que meu pai faleceu, mas o pessoal foi até onde ele estava na cidade de Tarumirim, já se sentindo em casa, muito feliz, tendo a rotina diária alegre, levantava de manhã, sabia o queria fazer durante o dia, saía a noite, da mesma forma que ele saía em Caratinga, porém numa cidade bem menor, cidade que até acolheu ele muito bem. Só que foram atrás, buscaram ele, disseram que a cidade estava sentindo falta, que todos estavam sentindo saudades, aí ele veio”.
Conforme Flávio, Piter acabou não se “ambientando”. Por outro lado, ele precisou morar em Ubá, ainda mais distante do irmão. “Não tinha internet, essa forma de comunicação, e quando voltei para Tarumirim fiquei sabendo que ele já estava morando no hotel, que ele tinha passado um tempo na casa da minha avó, depois acabou indo pra rua e arrumaram um espaço pra ele no hotel. Ele acabou ficando lá, contaram várias histórias para ele que se não obedecesse, fizesse bagunça ou coisa parecida, eu viria, pegaria ele, amarraria ele na cama para ele não sair da minha casa e por um bom tempo a gente ficou com essa agonia. A minha irmã do Rio tentou levar ele várias vezes, mas ele não quis, não queria sair da cidade, não queria viajar e nem passear com medo de não poder voltar para Caratinga”.
Com o passar dos anos Piter fez muitas amizades em Caratinga, onde recebia cuidados e era muito querido. Era na cidade que ele desejava morar, como frisa Flávio. “Como família sempre tentava levar, mas ele infelizmente não queria, queria viver em Caratinga. A forma que ele se sentia feliz, a forma que gostava de viver, se levasse para outro lugar se sentiria mutilado. Pessoal acha que ele não tinha família, mas tem, a gente respeitava o desejo dele”, finaliza.