Eugênio Maria Gomes
Dois temas bem atuais: Liberdade de Expressão e Responsabilidade com o que se publica. Ostentando a condição de valor intrínseco ao conceito de democracia, a liberdade para se expressar é cada vez mais defendida por todos os que lutam por princípios e valores como a Liberdade, o Acesso ao Conhecimento, a Comunicação e a Educação. Também tem ocupado espaço no pensamento dessas pessoas a preocupação com o princípio da Responsabilidade com o que é publicado, porquanto liberdade para se expressar não pode significar falar o que quiser, sem ter de responder por isso. No foco dessa questão, também estão as Mídias. De maneira muito especial a Imprensa, de maneira geral, e a Internet.
Quando nos referimos à Imprensa estamos falando do conjunto de mídias que exercem a comunicação alicerçada na informação, excetuando-se, portanto, as mídias utilizadas para propagandas e as que têm como objetivo levar lazer e entretenimento aos receptores. E é justamente esse viés da informação que tem participado da construção da imagem de credibilidade da imprensa, desde que ela chegou ao Brasil, junto com a bagagem da família real portuguesa, no início do século XIX. É claro que não é apenas o fator tempo que tem ajudado nessa percepção do brasileiro acerca da seriedade da imprensa, mas, também, a postura dos profissionais e a linha editorial das diversas mídias utilizadas. Assim, também encontraremos determinadas mídias, nas quais, não acreditamos. Porém, em pesquisa nacional – realizada pelo IBGE, a pedido da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, percebe-se considerável grau de confiança dos brasileiros na imprensa, com ênfase para o jornal impresso.
Na outra ponta da escala de medição do “nível de confiança na informação”, está a Internet. Não por menos, essa é uma mídia que se tornou terra de ninguém. Um espaço onde as pessoas escrevem qualquer coisa e, muitas vezes, sem nenhuma responsabilidade. E o que é pior: um espaço onde reina, de forma livre e relativamente absoluta, a impunidade. Conseguir a punição de alguém que escreveu algo que não deveria – e não poderia – dá tanto trabalho e a solução é tão demorada que muitos dos ofendidos costumam deixar pra lá. No entanto, ações contra delitos praticados na internet crescem proporcionalmente ao número de usuários, demonstrando que, de fato, boa parte dos internautas está bastante à vontade para as suas manifestações, inclusive quanto a mentiras e criações de factoides. A respeito dessa impunidade, o editorial da “Gazeta Digital”, de fevereiro de 2016, registra o seguinte: “Os criminosos invadem sistemas e programas de computadores no Brasil sem o menor receio, fazem vítimas, destroem indivíduos e famílias inteiras a todo instante porque confiam que seus crimes não serão descobertos. Afinal, sabem muito bem que na contramão da velocidade virtual, trota sobre a velha carroça, a legislação brasileira!”.
Enquanto isso, a imprensa passa a ter um desafio cada vez maior para conseguir fazer com que a boa informação chegue ao seu destino, que atinja um número cada vez maior de pessoas, próximas demais de um veículo que virou uma “sensação nacional”, em um país em que mais da metade de seus habitantes acessa a internet, com mais de 80% deles o fazendo através do celular. Ou seja, não obstante a Televisão liderar o ranking das mídias acessadas, o rádio ter uma excelente aceitação e o jornal impresso ser lido, pelo menos uma vez por semana, por cerca de 20% da população (apenas 7% dos leitores o fazem diariamente), é a internet que oferece o acesso mais fácil, mais rápido, em tempo real.
Os defensores da boa informação poderiam pensar se esse não é, de fato, um caminho sem volta, se a informação será tratada de qualquer forma, sem cuidado e respeito, através das redes sociais, para sempre. Não, não será, na medida em que a imprensa conseguir utilizar, a seu favor, essa ferramenta tão importante, denominada internet. E a solução parece simples, com muitos veículos de comunicação de Caratinga e região já o fazendo, inclusive o nosso querido Jornal DIÁRIO DE CARATINGA, que nesta data completa 22 anos de vida e que reproduz o seu jornal na internet. Como bem diz o ditado, “se você não consegue vencer o inimigo, junte-se a ele”. Mas, a tarefa não é tão simples assim. Não basta, apenas, lançar a boa informação na internet, é preciso que as pessoas queiram acessá-la. Aí esbarramos em um problema estrutural do país, cuja solução parece, cada vez mais distante: a Educação. Enquanto não quebrarmos o paradigma de que a Educação só acontece nas salas de aula – e olha que lá ela somente acontece em algumas poucas delas – mas, pelo contrário, que ela precisa acontecer nos lares, nos grupos sociais, nas organizações, nas empresas etc, estaremos longe de uma solução para o assunto.
Com a precariedade da Educação, muitos “espertos”, verdadeiros experts em levar informações truncadas, travestidas de verdade, continuam a fazer o uso indevido da internet, alimentando milhões de mal educados, que acreditam na primeira coisa que leem, prontos à reprodução de mentiras como se verdades fossem, sem nenhum senso de responsabilidade pelo que dizem ou respeito pelas pessoas, entidades e instituições cuja honra maculam. Na internet, qualquer um se torna doutor em Física, Medicina ou Direito e fala com a autoridade de um especialista sobre assuntos que mal conhece.
A Internet, essa maravilhosa ferramenta, que como nunca antes visto, permite a divulgação instantânea de acontecimentos, serve de instrumento de reprodução de informações e democratiza de forma espetacular o acesso ao conhecimento, deve ser usada com responsabilidade, e o leitor, aquele que acessa a informação veiculada nesse tipo de mídia, onde a verdadeira autoria é sempre uma incógnita, deve cercar-se de todas as cautelas possíveis, antes de assimilar a informação e, principalmente, antes de reproduzi-la, pois, como se sabe, uma mentira dita mil vezes, pode se tornar uma verdade…
“As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho, e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”
Umberto Eco, parece, tinha mesmo razão…!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.