Por fazer parte de um mercado que rende bilhões, o uso dessas substâncias altamente nocivas à saúde humana e ao meio ambiente persiste
Há décadas tem sido discutido os danos ao ambiente e à saúde causados pela utilização dos agrotóxicos. A princípio, a utilização desses agentes químicos era compreendida como a proteção necessária às atividades agrícolas contra a proliferação de fungos, ervas daninhas, insetos e demais pragas que possam impedir uma colheita ‘saudável’.
Muitas discussões e estudos científicos já comprovaram os impactos do uso de agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente. O problema começa afetando quem fabrica os produtos, dos trabalhadores na manipulação dos pesticidas no plantio o prejuízo se prolifera intoxicando a população como um todo.
Casos graves de intoxicação por agrotóxicos no Brasil e Alabama
Entre 1929 e 1971, a cidade de Anniston, no Alabama, EUA, sofreu com uma intoxicação provocada por agrotóxicos à base de Bifenilpoliclorado (PCB) manipulados por uma empresa de tecnologia agropecuária. Alguns dos moradores desenvolveram câncer, hepatite, diabetes e também houve casos de mortes dias após o contato com as substâncias presentes no ar.
No Brasil, houve um caso grave provocado pelo uso de agrotóxicos, que quase não teve repercussão. Ocorreu em 2006 em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. A cidade foi intoxicada devido a pulverização aérea do agrotóxico Paraquat, proibido em inúmeros países.
Os moradores da região apresentaram inúmeros problemas de saúde e até mesmo amostras de leite materno mostraram que havia a presença de substâncias tóxicas como o DDT, proibido no Brasil em 2009.
Agrotóxicos e sua ação prejudicial à saúde humana
Os agrotóxicos afetam a saúde de quem os fabrica, na aplicação dos pesticidas no cultivo e no consumo dos produtos que foram contaminados. De todas as maneiras, a saúde é gravemente afetada.
De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), os agrotóxicos podem causar problemas neurológicos como o Mal de Alzheimer. De acordo com o princípio ativo presente nos pesticidas, podem surgir problemas como: irritação de pele, distúrbios hormonais e doenças cancerígenas.
A exposição da população aos agrotóxicos também teria relação com o desenvolvimento da leucemia e do linfoma não-Hodgkin. Em mulheres grávidas os riscos são de morte do feto, má-formação, desenvolvimento de problemas neurológicos na criança, prematuridade, entre outros.
No geral, a intoxicação causada por agrotóxicos pode levar a sintomas como: tontura, náuseas, vômitos, problemas respiratórios, tremores, irritações (na pele, nos olhos, garganta), desmaios, convulsões e até ao coma.
Já a exposição prolongada aos pesticidas pode desencadear males mais graves como lesões cerebrais, paralisias, distúrbios comportamentais, lesões hepáticas e desenvolvimento de tumores, entre outros.
Principais impactos dos agrotóxicos no meio ambiente
O primeiro problema ambiental causado pela utilização dos agrotóxicos é a contaminação do solo, dos lençóis freáticos, lagos, rios e mares, mas as reações adversas acontecem em cadeia. Podem ser tomados como exemplo os inseticidas (organoclorados e organofosforados), que têm efeito biocumulativo, ou seja, as substâncias permanecem no inseto, no corpo de um peixe ou de qualquer outro animal. Se um animal se alimenta de outro contaminado, também se intoxicará, em uma reação em cadeia irrefreável.
A utilização dos agrotóxicos também empobrece o solo, isso porque impede a fixação de nitrogênio, o que torna a utilização de produtos fertilizantes cada vez mais necessários nas atividades agrícolas.
Outro problema que costuma ocorrer é o surgimento de pragas mais fortes e resistentes aos agrotóxicos, e isso acontece devido à seleção natural, o que também reflete na criação de substâncias cada vez mais potentes e tóxicas.
Há como refrear a indústria dos agrotóxicos?
Apenas em 2014 no Brasil, o faturamento da indústria de agrotóxicos foi de US$ 12 bilhões, ou seja, trata-se de um mercado extremamente lucrativo, que tem desenvolvido cada vez mais fórmulas e que em contrapartida coloca a saúde humana e do meio ambiente em grandes riscos.
Em 2002 foi criado um projeto de Lei 6299/2002 por Blairo Maggi, atual Ministro da Agricultura, com a finalidade de fazer com que os registros de novos agrotóxicos passassem a ser realizados pelo Ministério da Agricultura e não mais pelo Ibama ou Anvisa, ou seja, os órgãos responsáveis por analisar os riscos ambientais e à saúde humana não fariam mais parte da regulamentação dos produtos tóxicos.
A solução para tentar trazer um equilíbrio seria a utilização de produtos orgânicos e naturais unidos aos pesticidas, o que diminuiria a quantidade de substâncias tóxicas utilizadas. O Brasil é hoje um dos principais consumidores de agrotóxicos do mundo e o mercado de produtos orgânicos avança aos poucos.
Fonte: Emarket