* Adriana Barbosa Sales de Magalhães
Com o aumento da ocupação urbana nas bacias de drenagem, houve uma consequente degradação da qualidade da água. Desta forma, em consequência do crescimento populacional e da produção agrícola e industrial, os corpos hídricos têm se tornado cada vez mais eutrofizados (ricos em nutrientes), devido, principalmente, aos lançamentos de esgotos domésticos e efluentes líquidos industriais, ao carreamento de fertilizantes utilizados na lavoura e aos dejetos oriundos da criação de animais domésticos, nas proximidades dos cursos de água.
De acordo com o estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o Brasil ocupa a 112ª posição no quesito saneamento. Esse levantamento foi feito com 200 países e segundo a pesquisa, somente 38% de todo o esgoto gerado no Brasil recebe algum tipo de tratamento.
O esgoto lançado diretamente nos rios, altera as condições físicas, químicas e microbiológicas da água. Por conter uma grande quantidade de nutrientes, como fósforo e nitrogênio e alta concentração de matéria orgânica, acelera o crescimento de microalgas e cianobactérias (também conhecidas como algas azuis).
As cianobactérias constituem um grupo particularmente importante. O intenso crescimento desses organismos na superfície da água, conhecido com florações, produz, frequentemente colorações visíveis na água. Além de alterar o sabor, o odor e a turbidez da água, podem também acarretar graves consequências para a saúde humana em virtude da capacidade de muitas espécies produzirem toxinas com efeito neurotóxico ou hepatotóxico.
A intoxicação pode ocorrer tanto por meio da ingestão de água, quanto pelo contato direto durante atividades de recreação, ou ainda pelo consumo do pescado contaminado. Entretanto, a principal via de intoxicação é a ingestão de água sem tratamento adequado para a remoção das toxinas.
As Estações de Tratamento de Água (ETA’s) que captam águas superficiais podem expor populações humanas a sérios riscos de saúde, uma vez que, o projeto e a operação das ETA’s não contemplam procedimentos de rotina para a remoção de toxinas produzidas por cianobactérias.
No Brasil, a Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, a qual define as diretrizes relativas ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano, exige de todas as ETA’s a contagem mensal de células de cianobactérias na água bruta. O monitoramento dos mananciais de abastecimento público é fundamental para que possam ser avaliados os riscos de uma possível ocorrência de florações tóxicas.
O crescimento excessivo de algas em reservatórios brasileiros é uma realidade e tem prejudicado os usos múltiplos das águas. Em mananciais de captação da água para abastecimento público, quando há florações de cianobactérias, o tratamento mais utilizado pelas ETA’s é a utilização do carvão ativado em pó, que é um produto eficiente para a remoção de toxinas. Entretanto há um aumento dos custos no tratamento da água, pois além do carvão ativado ser um produto caro, a empresa de saneamento vai utilizar uma maior quantidade de produtos químicos para tratar a água e torná-la própria para o consumo humano.
Embora as cianobactérias sejam organismos que naturalmente ocorrem nos corpos d’água, suas proliferações são intensificadas especialmente pelo aporte de nutrientes oriundos da atividade antrópica. Portanto, a diminuição da ocorrência de cianobactérias nos mananciais está diretamente ligada à adoção de medidas mitigadoras desses impactos nos corpos hídricos.
Considerando que o esgoto sanitário sem tratamento e disposição adequada pode contaminar as áreas de mananciais e prejudicar a captação, é notória a importância do saneamento básico para a melhoria da saúde, da qualidade de vida e do meio ambiente.
*Adriana Barbosa Sales de Magalhães, Bióloga pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC – Bahia), Mestrado e Doutorado em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Pós doutorado em Saneamento Ambiental (UFV). Professora do Centro Universitário de Caratinga
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