Produtores devem procurar viveiros registrados e que possuam documentação sanitária, para evitar pragas que contaminem a plantação
CARATINGA– O sucesso de uma lavoura começa no desenvolvimento das mudas. Em Minas Gerais, elas devem transitar com a Permissão de Trânsito de Vegetais (PTV) e são fiscalizadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), de acordo com as legislações federal e estadual.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a melhor época para o plantio é entre outubro e dezembro, quando é previsto o período chuvoso. Por isso, com a chegada de chuvas na região, o escritório do IMA em Caratinga chama atenção para os cuidados ao fornecer e adquirir mudas de café.
IMA
As sementes e mudas são o fundamento para a implantação de qualquer lavoura ou plantio bem sucedido. Por outro lado, podem ser veículos disseminadores de doenças capazes de inviabilizar produções ou mesmo contaminar as áreas em que forem plantadas. Dessa forma, a boa qualidade das sementes e mudas, necessária para uma agricultura forte e produtiva, implica na necessidade de se produzir segundo normas técnicas asseguradas por leis.
O trabalho do IMA foi dividido em três fases. O primeiro passo foi treinar todos os fiscais agropecuários, possibilitando o conhecimento da legislação específica e detalhamento sobre como fiscalizar os estabelecimentos comerciais. Em seguida, passou-se para a fase chamada educativa, em que os comerciantes estão sendo instruídos a se inscrever no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM), a fim de se legalizar na atividade e tomar conhecimento de suas reais responsabilidades.
A etapa seguinte é a fiscalização para verificação do cumprimento da Portaria nº 865, baixada em 29 de agosto, que orienta sobre o comércio de sementes e mudas em Minas Gerais. Os fiscais do Instituto verificam a origem dos produtos expostos à venda, o armazenamento correto dos insumos, validade e germinação dos mesmos, ou seja, se estão dentro dos padrões estabelecidos.
De acordo com a gerente Márcia Andrade, considerando também a importância econômica do café para o País, o Instituto desenvolve um programa de sanidade para o café. “Esse trabalho é baseado em garantir mudas pelo menos sadias em relação ao nematoide meloidógeno, que é uma praga muito grave para o café, traz grandes perdas econômicas. Tentando resolver essa situação, existe um programa que a pessoa para comercializar a muda de café precisa ter o seu viveiro registrado no Ministério da Agricultura e cadastrado aqui com a gente. Toda muda para ser comercializada, a exemplo do que acontece com os bois, cavalos, precisa tirar um documento sanitário. Essa guia o IMA só emite se o produtor trouxer para nós um laudo do laboratório atestando que essas mudas não possuem meloidógeno. Estando livre do nematoide, emitimos o documento e as mudas podem ser comercializadas”.
Márcia destaca que ao adquirir mudas de café é fundamental exigir a PTV. Também é obrigatório um laudo laboratorial em que conste que as mudas estão isentas desta praga. “A gente chama atenção dos produtores para só comprarem mudas de viveiros registrados e com documento sanitário, o que garante a ausência do nematoide no viveiro. Se você levar uma muda contaminada para a sua propriedade, vai trazer mais prejuízo para sua propriedade e para a dos outros, porque a partir do momento que ele chega na propriedade, vai reproduzindo e só aumentando ao longo da vida. Isso vai trazer grandes prejuízos para a lavoura, se já está difícil produzir sem, imagina com uma praga a mais na sua propriedade. Então, a responsabilidade é do viveirista e também dos compradores de mudas”.
É necessário ficar atentos aos prazos de documentação, para não ter prejuízos e perder a boa época de vendas. “Já começaram as chuvas, então todo mundo quer plantar. Os cuidados que o viveirista têm que tem ter antes, começa lá com a aquisição da semente, que tem que ser logicamente vinda de um produtor registrado, que garanta a variedade que ele está plantando, que o café que está plantando é realmente o catuaí vermelho ou o catuaí amarelo. Vai desde o comecinho do ano, mas quando chega o mês de setembro, pedimos para o produtor fazer esse cadastro, porque em outubro, geralmente, a muda já está apta para ser colhida a raiz, para mandar para o laboratório e em novembro ele já conseguir fazer os documentos de trânsito e vender as mudas, porque tem que coincidir com a época da chuva. Não pode deixar para o final do ano demais, senão perde a chuva”.
Na região, o IMA ainda não registrou mudas que possuam o ‘nematoide das galhas’. “Tem 12 anos que trabalho aqui, sempre fazemos coleta de raízes também, além do produtor fazer. Esse ano mesmo já coletamos 20 amostras de raízes, mas ainda não temos os laudos em mãos. Dos anos anteriores não tivemos nenhum caso positivo, graças a Deus Pelo menos nesse ponto, os nossos viveiristas registrados têm se mostrado bastante profissionais”.
ENGENHEIRO AGRÔNOMO
Para o controle de pragas, é necessário implantar a Certificação Fitossanitária de Origem (CFO). Só estão autorizados a emitir esse documento, engenheiros agrônomos ou florestais habilitados em cursos específicos de capacitação. “Se o produtor não tiver acompanhamento do engenheiro agrônomo, têm as fiscalizações tanto do Ministério quanto do IMA e ele é passível de ser multado. Quem produz sem o acompanhamento de um responsável técnico, sem cadastro, está ilegal”, destaca a engenheira agrônoma Denice de Morais Siqueiras.
Denice explica que o trabalho desenvolvido pelo engenheiro traz segurança e garante a documentação necessária. “Para viveiros de mudas de café, fazemos o cadastro e a coleta das raízes. Quando as mudas estão com dois pares de folhas no mínimo, pegamos e fazemos a coleta dessas raízes, dependendo da quantidade. E se certifica se ela está pronta para o plantio e produção. Nos viveiros clandestinos a pessoa não tem garantia de que é aquela cultivar e nem de que tenha ou não alguma doença”.
Uma orientação que a engenheira agrônoma apresenta é em relação à prática de repicagem de mudas germinadas. “É quando a pessoa semeia duas mudas, duas sementes por sacola e quando as mudas germinam, ele arranca uma muda e coloca em outra sacola. Isso também não pode, é proibido. Porque a gente tem a raiz, que é chamada de pião, que é a principal- depois tem as raízes adventistas, que são mais finas. Essa raiz principal é mais grossa, pivotante e vai dar toda a sustentação do café. Se essa raiz for danificada ou às vezes quando você vai mudar ela de sacola, quem está fazendo o transplantio pode torcer a muda para entrar e ela enrola. Pode quebrar esse pião e a muda vai ficar até bonita no viveiro, mas quando você leva para o campo ela não tem resistência alguma. O agrônomo também é responsável por olhar e informar ao produtor de que ele não pode fazer isso, pois vai ser um problema para ele e para a muda. Ano que vem aquela pessoa que comprou dele essa muda repicada, não vai comprar. Mesmo que ele ganhe mais esse ano, porque semeou duas sementes e germinou, ano que vem ele não vai ganhar, a pessoa não vai voltar se aquelas mudas morrerem e não tiverem uma boa produção”, finaliza.