CARATINGA – A natureza oferece praticamente tudo o que a gente precisa para sobreviver, mas o ser humano perdeu sua conexão com o ambiente em que vive e está precisando reaprender a tratar melhor suas fontes de alimento. “O homem sabe de sua necessidade de ingerir alimentos saudáveis, mas não o faz por falta de tempo, só que essa correria do dia-a-dia lá na frente vai refletir em prejuízos para a sua saúde”, adverte a instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Cleicimar Canuto.
Produzir a própria comida tem suas vantagens. Saber o que se está ingerindo, é uma delas. Uma turma reunida na Cantina Rainha da Paz, sede do Instituto CASU Social no Morro da Churupita, área do Bairro Santo Antônio, está aprendendo a cultivar a própria horta em casa. É a melhor garantia pra saber o que está indo pra mesa.
“Cultivar de forma orgânica é muito importante porque melhora a nossa saúde e a da nossa família, livrando a gente de várias situações, principalmente doenças”, concorda o eletricista Adhair de Jesus, que foi criado na roça e hoje aplica o que está aprendendo em casa, depois que migrou para a cidade.
Lembrando que o Brasil ocupa a infeliz liderança de estar entre os países que mais utilizam pesticidas na agricultura, parece que a consciência das pessoas começa a despertar para a necessidade de mudanças urgentes nesse sentido.
“Agrotóxicos fazem muito mal pra nossa saúde e quanto mais a gente puder escapar deles, melhor”, completa o eletricista.
A iniciativa do Curso “Hortas Caseiras” faz parte de um trabalho do Instituto CASU Social – ligado ao Centro de Assistência à Saúde/UNEC, mantido pela Fundação Educacional de Caratinga (Funec), em parceria com o Senar.
“A Cantina atende, hoje, 53 crianças com alimentação diária, além de atividades como dança, reforço escolar e outras, interagindo com suas famílias em eventos como esse que acontece em parceria com o Senar. São ações que buscam oferecer alternativas para que as pessoas transformem sua condição de vida”, explica Ana Carolina Mageste, coordenadora do CASU Social/ Cantina Rainha da Paz.
NOVA REALIDADE
As construções nas zonas urbanas há tempos estão mais verticais. O aumento populacional faz com que os espaços sejam projetados para comportar um número cada vez maior de pessoas. Na região, essa nova tendência imobiliária não é diferente.
Caratinga, por exemplo, faz tempo que deixou de ser aquela bucólica cidade do interior para receber prédios e mais prédios, que hoje emolduram praticamente toda sua geografia urbana. Só que a realidade local continua tendo fortes raízes rurais. Muita gente migrou do campo para a cidade em busca de novas oportunidades, mas mantém os laços do tempo em que morou na roça.
A aposentada Euzi Vasconcelos é uma dessas pessoas. Ela mora no Bairro Santa Zita e em casa cultiva vários itens em sua horta caseira, de frutas, como abacaxi, a ervas, como alecrim para preparar temperos das refeições da família. “Vivi na roça por muitos anos e meu pai costumava dizer que em um palmo deve se plantar nem que seja uma cana”, relembra.
E é tão simples ter uma horta em casa. Além de servir como terapia, produzir o próprio alimento significa mais qualidade de vida. Com os espaços nas zonas urbanas cada vez menores, qualquer cantinho da casa ou do apartamento pode se transformar em um local para cultivar alguma hortaliça, legume ou fruta.
“Basta um local que seja ensolarado, tenha água e terra com as condições que a planta precisa para se desenvolver, que a gente chama de substrato (preparado que serve como suporte onde as plantas fixarão suas raízes; o mesmo retém o líquido que disponibilizará os nutrientes às plantas). Hortelã, salsinha, cebolinha, couve, são plantas bem tranquilas de produzir em casa. As sementes podem ser as encontradas em supermercados e casas especializadas, e a terra preparada com adubo orgânico, feito com restos de alguns alimentos e cascas de frutas, como banana, menos casca de batata, porque dá odor e carne, porque atrai roedores”, orienta, basicamente, a instrutora do Senar.