Sérgio Caetano Ferreira ainda mantém gatos em uma casa simples e em situação precária, mas afirma que eles são apenas companhia
PIEDADE DE CARATINGA – No ano de 2013 todos conheceram a história de Sérgio Caetano Ferreira, conhecido como “Serginho”. Ele é conhecido na cidade de Piedade de Caratinga por um estranho hábito: se alimentar da carne de cachorros e gatos.
Ele praticava o abate dos animais em sua própria casa, utilizando pedra, pau ou martelo e encarava a situação com naturalidade, pois aparentava ter problemas mentais. O homem mora sozinho em uma casa simples e com poucos recursos. Após a repercussão do caso, as autoridades responsáveis providenciaram um tratamento para Serginho.
Três anos após a explosão do caso, o DIÁRIO DE CARATINGA esteve novamente na cidade de Piedade de Caratinga na manhã desta quinta-feira (10) para saber qual é a atual situação de Serginho. Ele nos recebeu prontamente, inicialmente, de uma pequena janela, única responsável por levar um pouco de iluminação para a casa.
Questionamos a Serginho, sobre aquele seu antigo hábito. No entanto, ele disse que não consome mais a carne de cães e gatos, desde que recebeu o acompanhamento da Secretaria Municipal de Saúde. Mas, não mudou o pensamento de que se alimentar destes animais não é nenhum crime. “Nasci comendo. A gente que tem o costume percebe a diferença, não é uma carne gostosa, mas é porque a minha condição não dava e roubar não pode. Não como mais, porque eles pediram pra não comer, mas teria continuado se não tivessem me pedido. Algumas pessoas reclamaram, mas nunca me fez mal. Tem anos que não como mais carne de cachorro e gato, agora ao invés de comer eles; tenho que comprar pra eles ainda, mas eu compro a ração”.
Apesar de Serginho afirmar que abandonou o hábito, havia vários gatos na casa dele. Ele afirma que cuida dos animais, que servem apenas como bichos de estimação. “Agora eu trato deles, é uma companhia, só pra pegar rato”.
Serginho convidou a Reportagem para entrar em sua casa. A moradia é simples e o modo de vida é desumano. Um fogão de lenha, com algumas panelas antigas. Havia bastante sujeira espalhada pelo local. No mesmo cômodo, estava uma cama simples, no colchão não havia lençol. Os gatos estavam por todos os lados, até mesmo em meios às panelas.
A casa não tem energia elétrica, tampouco água. Serginho explica que dá seu jeito e vive como pode. “Nem água de cisterna está tendo direito. Agora que choveu um pouquinho. Eu ‘panho’ no córrego. Não fico no escuro porque tem a lâmpada da rua e a minha lanterna, que uso se for preciso andar mais tarde, pra não esbarrar”.
Com uma vida solitária e sem aposentadoria, ele afirma que recebe R$ 120 de seu pai para ajudá-lo e que sua irmã também contribui na sua alimentação. Segundo Serginho, ele ainda tem duas filhas: Maria de Lourdes e Aparecida, que moram em Caratinga.
Ele afirma que sempre morou naquela casa, tendo se ausentado apenas por questões profissionais. “Nasci e morei sempre aqui. Já estive em São Paulo e no Rio de Janeiro trabalhando”.
DIFICULDADES
A Reportagem conversou com a assistente social Lúcia Aparecida Melo, que também é coordenadora do Centro de Referência da Assistência Social (Cras). Ela acompanha o caso de Serginho há três anos, desde a denúncia e fala das dificuldades enfrentadas. “Foi feita uma faxina geral na casa, mas ele é doente, ele é deficiente mental. Então, as pessoas têm que ir lá do jeito que ele quer, não adianta você querer bater de frente com ele, ele não aceita”.
Sobre a situação da casa de Serginho, que não apresenta condições mínimas para moradia, Lúcia ressalta que a única ajuda que ele aceita é da irmã, que tenta ajudá-lo. “Tem a irmã dele que cuida dele, que faz a alimentação para ele, mas que só pode limpar a casa no dia que ele não está em casa. Ela arruma e depois ele vem e faz a bagunça de novo do jeito dele, porque ele até acha ruim que limpe. Ele quer que deixe do jeito dele, acha que aquilo não é sujeira, que é para ele guardar e não é pra mexer nas coisas dele. Ele não entende direito. Tem que ter muita paciência para lidar com ele, porque ele agride. Se for bater de frente com ele, ele acaba te agredindo”.
A cidade não tem um local adequado para abrigá-lo, o que dificulta ainda mais as suas condições de tratamento. “A gente trabalha aqui com o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), mas é de manhã e volta de tarde e ele não aceita o tratamento. Tinha a casa lar, que já foi desativada. Então é a família mesmo que tem que tomar conta”.
A assistente social finaliza afirmando que o município está agindo dentro das suas possibilidades. “Tudo que a gente pode fazer a gente faz. Ajudo a irmã pra ela ajudar ele. Porque diretamente ele não aceita. A irmã é que faz, a gente ajuda com a cesta básica e ela o mantém com a alimentação”.