“Padre José- Deus os seus reconhece”, conta a trajetória do padre que saiu da Itália e marcou história na cidade de Entre Folhas
CARATINGA – O dia de ontem foi marcado pelo lançamento do livro “Padre José – Deus os seus reconhece”, biografia assinada por Hélio Amaral. O livro conta a história de padre José Lanzillotti, natural da Calábria, Província de Cosenza, cidade de Fuscaldo, que deu origem à Itália e morou por 22 anos na cidade de Entre Folhas, onde tem grande representatividade por sua contribuição na igreja matriz, hospital, casa paroquial e chafariz do largo da matriz.
A obra está dividida em 15 capítulos, mas pode ser interpretada basicamente em três atos: na Itália, em preparação para a missão; em peregrinação pelo Brasil, na Amazônia, Minas Gerais e Maranhão, até a ordenação sacerdotal, aos 40 anos de idade, e, por fim, na cidade de Entre Folhas.
Durante todo o dia de sábado, o autor recebeu amigos e familiares de padre José, no Instituto Hélio Amaral, onde ocorreu a sessão de autógrafos. O espaço também foi decorado com algumas fotografias antigas de padre José junto à família e artigos que eram utilizados por ele, como cordões.
Uma das pessoas que estava na fila à espera de um autógrafo é monsenhor Raul Motta de Oliveira. Sorridente, monsenhor Raul, que também já foi homenageado em uma biografia (O Filho de Maria, de autoria de Eugênio Maria Gomes) se disse satisfeito com a escolha de Hélio. “Achei maravilhoso esse empreendimento do Hélio Amaral, de escrever um livro de padre José Lanzillotti. Padre José merece, deu a vida toda pela igreja, pelo trabalho e a maior parte foi em Entre Folhas. Lembro-me de padre José Lanzillotti quando eu era menino de 10 anos, ele celebrando em Inhapim, antes dele ir para Entre Folhas, com todo o jeito dele, maravilhoso. O visitei várias vezes, uma vez fiquei com ele uma semana lá em Entre Folhas porque começou a chover e não teve jeito de sair (risos). Participei do sepultamento dele, faz parte da minha vida também. Fiquei muito feliz com essa iniciativa, vai ser um meio de todo mundo conhecer melhor esse santo homem que foi padre José Lanzillotti”.
Dulce Maria Mantuano, de 65 anos de idade, mora atualmente na cidade de Belo Horizonte e veio com o irmão, irmã e o cunhado, especialmente para o lançamento do livro. Ela explica o grau de parentesco com padre José e de sua importância. “Ele é parente do meu pai, se dizia tio do meu pai, mas na verdade é primo. Então, é meu primo em terceiro grau. Gostei demais, acho que o padre teve um significado muito grande na região, não só para Entre Folhas, que é onde eu nasci e ele foi pároco muitos anos. O meu pai esteve com ele em muitas paróquias aqui próximas, acompanhando, fazendo esculturas, altares e ajudando a construir igreja”.
Dulce ainda se recorda da forte ligação que padre José tinha com toda a família. “Ele morreu quando eu tinha nove anos, mas lembro dele, fiz primeira comunhão com ele, tenho muitas histórias. Pai e a mãe falavam muito, quando eles se casaram moraram com o padre na casa paroquial por um tempo. Na Semana Santa a gente participava intensamente, tinha almoço com ele, é muito vínculo. Eu era criança, mas tenho muitas imagens da presença dele e sua ação”.
Alguns familiares não puderam comparecer ao lançamento, mas, Dulce garante, todos receberão um exemplar da obra. “Estamos levando livro para todos. Não vieram porque tem gente que mora em Salvador, Rio de Janeiro, espalhados, mas, dentre filhos e netos, estamos levando livro para todo mundo”.
O AUTOR
De acordo com Hélio Amaral, o livro nasceu a partir de uma sugestão do prefeito de Entre Folhas, Edson Rogério, o “Rogerinho”. “Ele me disse que o padre merecia uma biografia até mesmo porque há intenção de inaugurar um busto do padre José na praça de Entre Folhas. Aceitei a sugestão e fui à luta”.
Esta é a primeira biografia que Hélio escreve, porém, mais que um desafio, o autor considera os dias dedicados à obra como especiais. “Já tenho vários livros, mas uma biografia propriamente falando é a primeira. Aproveitei as minhas experiências de jornalista, o que aparece bem no livro e outra coisa, sou muito hábil em história, gosto muito e para mim foi até uma delícia escrever esse livro”.
A história de padre José foi apurada a partir de um trabalho de pesquisa, por meio de entrevistas e viagens. “Foi muito difícil, inclusive não consegui fazer todas as pesquisas que eu quis. Parti aqui pela região para procurar as pessoas que conheceram o padre, pedir opiniões e colhendo depoimentos, para tentar colocar no livro a alma do padre. Uma pessoa dizia que ele era muito genioso ou trabalhador. Fui cavando essas características da personalidade. Depois tive que viajar para algumas cidades das proximidades onde ele trabalhou, Manhumirim, Espera Feliz, Inhapim e Entre Folhas, evidentemente”.
Mas, essas viagens não ficaram restritas somente ao Brasil. Hélio foi até a Itália em busca de informações sobre as origens do padre. “Tinha uma falha no conhecimento do padre. Essa falha é porque nós não sabíamos quase nada do tempo que ele passou na Itália, ele veio de lá com 20 anos. Então, fui a Itália fazer essa pesquisa. Fiquei lá quase um mês e consegui descobrir a casa onde ele nasceu; que está no livro e certidão de batismo e nascimento”.
Para Entre Folhas, padre José teve grande importância e representava a figura mais respeitada de um local, principalmente uma cidade do interior, como ditava a época. “Ele tem uma importância muito grande porque foi ele que construiu a igreja, a casa paroquial, que é muito bonita; o hospital e que trouxe água potável para a cidade. Então, importantíssimo, praticamente o modo de ser dos entrefolhenses até hoje é marcado pelo modo de ser do padre. Nos anos 50, quando morreu, o padre era a figura central de um lugar. Hoje não é mais, isso mudou”.
Hélio Amaral já planeja a segunda edição do livro e já sabe exatamente qual será o seu destino, para suas próximas pesquisas. “Agora está faltando uma terceira parte, que é a que ele passou na Amazônia, o que é quase desconhecido pra mim. Isso é novidade, porque nunca tinha pensado nisso. Estou querendo aproveitar para fazer uma viagem a Tefé, uma cidade no interior do Amazonas, até mesmo para passear também e pesquisar para ver se encontro mais coisas sobre o padre. Pelo jeito, hoje (ontem) o livro até se esgota. Somente os parentes do padre estão levando vários exemplares e com razão. Tem familiares do padre aqui hoje até de Brasília. Estou muito honrado com isso.”
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O AUTOR
Hélio Soares do Amaral, caçula de tradicional família católica foi batizado por padre José Lanzillotti em 1938, na Vila de Entre Folhas. Em 1951, foi visitado por ele no Seminário do Bairro Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde estudava para padre.
Quando padre José morreu, em 1959, morava em Monte Santo de Minas, como estudante de Filosofia do Escolasticado. Enviado por eles para Roma, licenciou-se em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, de 1961 a 1965. Por motivo de sermão, no dia 7 de setembro de 1969 foi preso, em Alpinópolis, estado de São Paulo, foi preso pela Ditadura (1970 e 1971).
Dedicou-se ao magistério superior e ao jornalismo, no Rio de Janeiro, de 1970 a 2003 quando fundou, em Caratinga, o Instituto Hélio Amaral, voltado para a cultura. Em outubro de 2015, viajou à Calábria, Sul da Itália, para pesquisar a vida de padre José, com o objetivo de escrever a parte italiana de sua biografia.