COM O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM.
Sebastião de Oliveira Pedra
Segundo NUNES e RÚBIO (2008, p. 56)), “[…] o importante é o que se seleciona para compor os conteúdos do currículo e qual o resultado dessa seleção na constituição das identidades”. O conjunto das disciplinas escolares, denotam então, um delineamento cultural, ou seja, dos conteúdos, dos valores, dos modos de ser e agir; enfim a identidade a ser construída nos sujeitos da educação.
O percurso da formação escolar integral, ou tudo o que acontece no processo de escolarização, passa a ser compreendido como currículo. Na medida em que projeto político intenciona a formar as novas gerações, o currículo é pensado para garantir à organização, controle e eficiência social. Assim, o currículo, intimamente está ligado ao poder, por sua transmissão de modos de ser e validar conhecimentos. E ainda, pelos seus modos de endereçamento, convoca-nos a ocupar posições de sujeito; e por regulação destes sujeitos da educação, construção da sua identidade.
Mais que selecionar conteúdos, o currículo desenha valores concernentes à participação ativa na sociedade. Neste entendimento, a escola espaço privilegiado às múltiplas aprendizagens, se toma por disputas no território do currículo e estabelece um estado de tensão entre os atores sociais e seus saberes (SILVA, 2002).
Neste contexto, os processos de demarcação, (re)afirmação da identidade, o espaço escolar se abre ao universo da música. A evolução intelectual do aluno, necessita de estímulos para que ao mesmo se aproprie dos conteúdos, e como consequência, desempenho significativo. Destarte, a teoria das inteligências múltiplas, considera a prática educativa associada à linguagem musical, como fator relevante aos aspectos de conteúdo, cognição e interação entre os alunos, além de proporcionar elementos de mediação.
Educação é uma palavra que deriva uma série de significados. Alguns ou muitos deles bastante complexos. Para concebê-los é preciso utilizar de vários recursos didáticos ou não. Ao educador cabe, enquanto mediador do processo ensino-aprendizagem, proporcionar aos seus alunos um conhecimento intelectual, que é o resultado da interação dele com o meio e não somente por si mesmo. Nesta perspectiva, o meio pode se materializar de muitas formas, e justamente estas variações que determinarão o tom das metodologias didáticas a serem aplicadas.
Segundo a professora e musicoterapeuta Daniele Torres de Almeida, “A música é uma linguagem que a criança domina antes de dominar a palavra”. Estudos na neurociência apontam que, estudar um instrumento musical impacta sensivelmente na leitura e expressão verbal; desenvolvem o raciocínio matemático e o pensamento temporal e espacial. Como consequência, alunos com melhor desempenho escolar em todas as disciplinas. Se naturalmente nossos alunos apresentam o domínio da linguagem musical antes da palavra, porque não se apropriar deste conhecimento prévio dentro do planejamento educacional e institucional?
Uma vez que, a escola enquanto espaço institucional para transmissão de conhecimentos socialmente construídos, pode se ocupar em promover a aproximação das crianças com outras propriedades da música que não aquelas reconhecidas por elas na sua relação espontânea com a mesma. Cabe aos professores criar situações de aprendizagem nas quais, os alunos possam estar em relação com um número variado de produções musicais, não apenas vinculadas ao seu ambiente sonoro, mas se possível também de origens diversas, como, de outras famílias, de outras comunidades, de outras culturas de diferentes qualidades: folclore, música popular, música erudita e outros.
No contexto escolar a música tem a finalidade de ampliar e facilitar a aprendizagem do educando, pois colabora no aprender a ouvir e escutar de maneira ativa e reflexiva. A música na vida do ser humano é tão importante como real e concreta, pois auxilia no bem estar das pessoas. Segundo FARIA (2001, p. 24), “A música como sempre esteve presente na vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso de criação e recreação”.
Buscando inferir e integrar a educação musical como parte do contexto educacional, e considerando os benefícios que pode produzir, para melhor qualidade do ensino; podemos citar que de acordo com os PCN (1997):
[…] até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o ensino fundamental (primeiro grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) quanto para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 13).
A partir de 1996 a Arte foi reconhecida pela lei nº 9.394/96 (artigo 26, parágrafo 2º) como conteúdo obrigatório, e retomou não somente seu espaço na grade curricular, como se incorporou igualmente a todas as disciplinas escolares, fator de considerável relevância às distintas áreas de conhecimento. A Lei 11.769, publicada no Diário Oficial da União (D.O.U.) de 19 de agosto de 2008 altera a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, instituindo a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas brasileiras.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCN (BRASIL, 1998) destaca que a música tende a ficar em segundo plano na visão acadêmica da escola ou como suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos. Além de atividade de apoio a outras disciplinas, é igualmente associada a datas festivas e cívicas ou, ainda relacionadas às atividades mecânicas e estereotipadas sem finalidade educativa definida.
De acordo com SAVIANI (2000):
A educação integral do homem é uma educação de caráter desinteressado que além do conhecimento da natureza e da cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem outro objetivo senão o de relacionar-se com elas. Abre-se aqui todo um campo para a educação artística para integrar à educação, que em meu entender, é a educação musical. Com efeito, a música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já que, a par de manifestação estética por excelência (…) apresenta-se como um dos recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se atingir o desenvolvimento integral do ser humano (SAVIANI, 2000, p. 40)
Neste contexto, quando comparada a outras disciplinas escolares, consideradas “mais necessárias”, frequentemente o ensino de Arte acaba subjugado a um mero passatempo decorrente da falta de especialização dos professores em geral. No entanto é importante a compreensão de que a musicalização e Educação Musical não se sobrepõem. Embora a musicalização seja uma forma de educação musical, entende-se que ela é mais ampla, podendo passar por várias etapas de desenvolvimento que ultrapassam a musicalização. E Arroyo (2000) coloca que:
O termo “Educação Musical” abrange muito mais do que a iniciação musical formal, isto é, é educação musical aquela introdução ao estudo formal da música e todo o processo acadêmico que o segue, incluindo a graduação e pós-graduação; é educação musical o ensino e aprendizagem instrumental e outros focos; é educação musical o ensino e aprendizagem informal de música (ARROYO, 2000, p.77).
O processo de educação musical deve ser adaptado a realidade social, respeitando as fases evolutivas do aluno, sendo multidisciplinar, com objetivos claros e precisos, preparando seres humanos capazes de criar, realizar e vivenciar emoções. A metodologia a ser aplicada, pode seguir cinco pontos essenciais para o desenvolvimento musical: 1) apreciação musical, 2) senso rítmico, 3) melódico, 4) voz e 5) execução instrumental. Muitos destes aspectos se interligam e não podem ser separados, mas apenas para uma sistematização da ideia estarão por tópicos. Na apreciação musical é necessário desenvolver a percepção e discriminação sonora. Procura-se desenvolver a audibilização, que é o conjunto das funções relacionadas à Audição: percepção, discriminação, memória, figura/fundo e análise/síntese.
De acordo com estas perspectivas, o professor deve ser um profissional autônomo que reflete criticamente sobre a prática para compreender as características dos processos de ensino aprendizagem em música, levando em consideração o contexto, e deve saber dialogar com a “diversidade de vivências musicais não escolares que a sociedade atual propicia” (ARROYO, 2000, p.78).
Deve também ser um intelectual transformador, com compromisso de provocar a formação da consciência dos indivíduos para uma educação musical para todos, de uma maneira mais justa. Acredito que estando dentro do contexto escolar o professor poderá atuar nesta perspectiva, no que se refere a abranger um maior número de alunos.
Ficam evidentes os benefícios da música, aplicados à educação. Segundo Teca Alencar de Britto, professora de música da USP: “Sempre se busca um porquê para estudar uma forma de arte”. Para ela, a importância da música está em si mesma: “Primeiro de tudo deve-se ter a música pela música: o conhecimento de mundo, o ritmo, a sensibilidade. Depois, os benefícios que ela traz, como maior atenção, coordenação motora e disciplina”, e enumera alguns destes benefícios: descobrir o mundo, aprender a escutar, compreender o mundo, fortalecer laços afetivos, desenvolver cultura e tolerância, desenvolver a capacidade de expressão e criatividade, praticar o raciocínio lógico e desenvolver a capacidade de escolha, disciplina e organização.
Referências:
ARROYO, Margareth. Transitando entre o “formal” e o “informal”: um relato sobre a formação de educadores musicais. In: SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 7., 2000, Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2000. p. 77-90.FARIA.
ALMEIDA, DANIELE TORRES DE. Formada em Educação Artística, com Habilitação em Música, e especialista pós-graduada em Musicoterapia. Disponível em: < http://educacao.estadao.com.br>. Consultado em 13/07/2017.
NUNES, M. L. F. & RÚBIO, K. O(s) currículo(s) da Educação Física e a constituição da identidade de seus sujeitos. Currículo Sem Fronteiras, v. 8, n. 2, p.55-77, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol8iss2articles/nunes-rubio.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2010.
SILVA, T. T. da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
SAVIANI, Demerval. A educação musical no contexto da relação entre currículo e sociedade. Revista HISTEDBR On-line, n.1, 2000
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
________. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
________. Ministério da Educação e do Desporto, SEF. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volumes I, II, III. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Arte: Professor Geraldo Lomeu Ferreira
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Deus seja louvado!
Um comentário
leila
Leio todos os artigos do Professor Sebastião Pedra, e confesso ser um excelente profissional dedicado à integração de meios para o desenvolvimento e conhecimento da sociedade para um contexto mais amplo do que somos capazes. Parabéns Pedra, por mais este artigo. Com certeza, temos muito a ganhar com sua atitude.