Ainda cercada por preconceitos, a hanseníase é fácil de diagnosticar, tem cura e tratamento gratuito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em geral, os primeiros sintomas surgem como manchas brancas, vermelhas ou marrons em qualquer parte do corpo, somadas à alteração na sensibilidade do indivíduo à dor, ao tato e à percepção do quente e do frio. Áreas dormentes também podem aparecer, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal.
O diagnóstico da doença é feito na Unidade Básica de Saúde (UBS), onde a equipe de saúde poderá examinar o paciente e já iniciar o tratamento. Vale ressaltar que, imediatamente após iniciar o tratamento, que dura entre seis a doze meses, o paciente já não transmite mais a doença para as pessoas com quem convive, mesmo os doentes da forma contagiosa, que correspondem a cerca de 30% do total de casos diagnosticados.
A coordenadora estadual de Dermatologia Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Maria do Carmo de Miranda, explica que a divulgação de informações sobre a hanseníase integra a estratégia de identificar, tratar e curar, fundamental no controle da doença.
“A hanseníase sempre foi cercada por um grande estigma e preconceito, devido às deformidades que podem acontecer quando o tratamento não é feito precocemente e de modo adequado. Se a população em geral souber identificar os sinais e sintomas da hanseníase e buscar o diagnóstico mais precocemente possível, terá muito mais chances de não desenvolver deformidades, e o tratamento realizado por um menor tempo”, explica.
Com relação à transmissão, é difícil identificar como se deu o contágio, uma vez que a hanseníase tem um período longo de incubação e a pessoa pode ficar anos sem apresentar sintomas. Ou ainda, ficar com a mancha ou outros sintomas e simplesmente não dar importância. Justamente por isso é que toda a população e profissionais de saúde devem ficar atentos aos sinais da hanseníase, para que um diagnóstico precoce possa ser feito.
A melhor maneira de prevenir a hanseníase é tratando os casos existentes. Afinal, após início do tratamento o paciente não transmite mais a doença para as pessoas com quem convive, mesmo sendo a forma contagiosa.
Como parte do controle da doença, uma vigilância dos familiares e pessoas próximas dos pacientes é feita. Além disso, devem ser vacinados com BCG todos os contatos domiciliares após rigoroso exame da pele e nervos e orientações sobre a doença. É importante lembrar, ainda, que o paciente em tratamento deve ter sua vida conduzida sem alteração, ou seja, manter suas atividades escolares, profissionais, sociais, culturais, religiosas e familiares.
Hanseníase em números
Nos últimos oito anos, Minas Gerais notifica aproximadamente 1.300 novos casos a cada ano. Em 2016, foram 1.106 novos casos, significando 5,27 novos diagnósticos em cada 100 mil habitantes, dos quais 5,1% (56) foram em menores de 15 anos.
O acometimento de crianças pressupõe a presença de adultos doentes sem diagnóstico e sem tratamento, convivendo e transmitindo a hanseníase para crianças e adolescentes. Do total de casos novos notificados em 2016, 13,9% foram diagnosticados com deformidade, indicando um percentual ainda muito elevado de diagnóstico tardio.
A situação da doença no estado apresenta-se de forma bastante heterogênea com 45 municípios considerados hiperendêmicos, 56 de muito alta endemia, 74 de alta endemia, 121 de média endemia e 22 de baixa endemia. Em 554 municípios nenhum caso foi detectado no ano de 2016 e esse fato vem se repetindo ao longo dos últimos oito anos. Os casos estão distribuídos por todo o estado, com maior atenção nas divisas de Minas Gerais com os estados do Espírito Santo, Bahia e Goiás.
A proporção de casos de hanseníase curados no ano avaliados na coorte, reflete na qualidade do atendimento nos serviços de saúde. Em Caratinga, conforme dados do Ministério da Saúde, no período entre 2001 e 2017, a média de avaliados na cura foi de 74,71%.
Novo site
Pensando na diminuição do preconceito e estigma e também no acesso da população a informações sobre a doença, a SES-MG está lançando um site sobre a hanseníase. Por meio dele, toda a população poderá ter acesso a dados e informações diversas sobre o diagnóstico, tratamento e cura da doença, além de tirar dúvidas sobre as formas de transmissão, mitos e verdades.
Plano de Enfretamento da Hanseníase em Minas Gerais
A Coordenação Estadual de Dermatologia Sanitária da SES-MG elaborou o Plano de Enfretamento da Hanseníase em Minas Gerais – 2018-2021, em parceria com vários atores, especialmente junto à Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.
O objetivo é propor a criação de políticas públicas para o enfrentamento da hanseníase no estado. O plano é composto por cinco eixos de intervenção: Vigilância Epidemiológica; Rede de Atenção à Saúde; Educação Permanente e integração ensino/serviço; Educação em Saúde, Mobilização Social e Cidadania; Gestão, monitoramento e avaliação.
A melhoria da informação e do acesso ao diagnóstico, tratamento, prevenção e reabilitação de incapacidades, nos diferentes níveis de atenção é compromisso de todos para a assistência integral, adequada e oportuna à pessoa com hanseníase.
“É com grande expectativa que esperamos contribuir para que o atendimento da pessoa com hanseníase em Minas Gerais seja integral em todos os níveis de atenção à saúde e cujo impacto final esteja evidenciado na real diminuição da carga da doença”, explica Maria do Carmo.
Semana Mundial de Luta contra a Hanseníase
A Semana Mundial de Luta contra a Hanseníase ocorre sempre na última semana de janeiro e, em 2018, o lançamento da Campanha Nacional está previsto para ocorrer no município de Belém do Pará, em 31 de janeiro de 2018, com o slogan “Hanseníase – Identificou. Tratou. Curou”.
Apesar de ter como objetivo o alcance toda a população, a campanha terá como público principal homens na faixa etária de 20 a 49 anos, considerados com alto risco de adoecimento. A atenção especial também deve ser dada à população do sexo masculino com 60 ou mais anos de idade, por se tratar de um grupo com alto risco de detecção e de acometimento pelas incapacidades físicas geradas pela hanseníase.
O principal ponto da campanha é alertar a sociedade sobre os sinais e sintomas da doença e incentivar a procura pelos serviços de saúde. Além disso, também propõe mobilizar os profissionais de saúde quanto à busca ativa de casos novos e a realização de exame dos contatos, divulgar a oferta de tratamento completo no SUS e promover atividades de educação em saúde que favoreçam a redução do estigma e do preconceito que permeiam a doença.